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De Witzel a Cabral: escritório de primeira-dama no centro de investigações

18.dez.2018 - A primeira-dama do Rio, Helena Witzel, e o governador Wilson Witzel em cerimônia de diplomação - Pablo Jacob/ Agência O Globo
18.dez.2018 - A primeira-dama do Rio, Helena Witzel, e o governador Wilson Witzel em cerimônia de diplomação Imagem: Pablo Jacob/ Agência O Globo

Gabriel Sabóia

Do UOL, no Rio

26/05/2020 19h06

Eleito sob a bandeira do combate à corrupção e se apresentando como contraponto às gestões anteriores do governo do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC) se vê às voltas com suspeitas de irregularidades em seu mandato menos de um ano e meio depois de assumir o cargo.

A Operação Placebo diz que o escritório de advocacia da primeira-dama Helena Witzel recebeu pagamentos de empresa pertencente a dois presos pela Lava Jato —ambos apontados como operadores do empresário Mario Peixoto. Assim como agora, o Rio já viu o escritório advocatício de uma ex-primeira-dama no centro de investigações que condenaram Adriana Ancelmo e o ex-governador Sérgio Cabral (MDB).

Segundo consta na decisão do STJ (Superior Tribunal de Justiça) que deflagrou hoje a Operação Placebo contra alvos da gestão Witzel, os pagamentos ligariam o escritório de Helena a suposta fraude na contratação de hospitais de campanha para pacientes com o novo coronavírus.

Com base na investigação da PGR (Procuradoria-Geral da República), a decisão do ministro do STJ Benedito Gonçalves afirma que há indícios de "atividade delitiva" na relação do escritório de advocacia de Helena (HW Assessoria Jurídica) com empresa investigada na operação que apura fraudes em compras para o governo do estado durante o combate à pandemia.

Gonçalves relata "vínculo bastante estreito e suspeito entre a primeira-dama Helena Witzel e as empresas de interesse de Mário Peixoto", o principal fornecedor do governo do estado, ao qual Witzel é associado desde a campanha eleitoral de 2018.

Helena teria firmado contratos "sem que a investigação tenha encontrado provas da prestação do respectivo serviço, o que explicita possível exercício profissional voltado à atividade delitiva".

O STJ também autorizou apreensão e quebrou o sigilo dos dados contidos nos telefones e demais equipamentos eletrônicos de Witzel e Helena.

26.abr.11 - Adriana Ancelmo e Sérgio Cabral, ex-governador do Rio - Paula Giolito/Folhapress - Paula Giolito/Folhapress
26.abr.11 - Adriana Ancelmo e Sérgio Cabral, ex-governador do Rio
Imagem: Paula Giolito/Folhapress

Esquema de Sérgio Cabral e Ancelmo

Os fatos e suspeitas relatados pelo ministro do STJ remetem às acusações que levaram a ex-primeira-dama Adriana Ancelmo à cadeia, em 2016, pelos crimes de lavagem de dinheiro e participação em organização criminosa.

O escritório dela, no centro do Rio, era uma das bases do esquema de lavagem de dinheiro comandado por Sérgio Cabral.

De acordo com as investigações do Força-Tarefa da Lava Jato, o dinheiro obtido através de propina cobrada pelo ex-governador era depositado por empresários para o escritório de Ancelmo, que emitia notas fiscais fictícias simulando os serviços inexistentes.

Atualmente, Adriana Ancelmo cumpre 12 anos e 11 meses de prisão em regime domiciliar. Anteriormente, ela havia sido condenada a 18 anos e três meses de prisão, no entanto, a pena foi reduzida em segunda instância. Já Cabral segue preso e suas condenações totalizam 282 anos e cinco meses de prisão.

O que dizem os citados

Através de uma nota, Helena Witzel negou as suspeitas. "HW Assessoria Jurídica prestou serviços para a empresa apontada pelo MPF, tendo recebido honorários, emitido nota fiscal e declarado regularmente os valores na declaração de imposto de renda do escritório", afirmou.

Na tarde de hoje, Witzel se manifestou sobre a operação que apreendeu celulares e aparelhos eletrônicos em sua residência.

"A Polícia Federal deveria fazer seu trabalho com a mesma celeridade que passou a fazer no Rio porque o presidente [Jair Bolsonaro, sem partido] acredita que eu estou perseguindo a família dele. E ele só tem essa justificativa de me perseguir politicamente. Acusações levianas estão sendo feitas a mim, mas tudo isso será esclarecido de forma clara nos processos", prometeu Witzel.

"Estou com a minha consciência tranquila. Prometi ao povo que não o decepcionarei e não vou decepcioná-los", concluiu o governador.

Em depoimento concedido em fevereiro de 2019 ao juiz federal Marcelo Bretas —responsável pelas ações em primeira instância da Lava Jato do Rio— Sérgio Cabral assumiu a autoria dos crimes e inocentou a mulher.

"Eu a enganei, a prejudiquei. Me dói muito. Hoje já não me dói mais [assumir que era propina]. Alguém que tem uma carreira política reconhecida pela população, como eu, dói muito dizer que roubou. Eu contaminei o escritório da minha mulher" afirmou Cabral.

Ancelmo sempre negou ter lucrado com o esquema do marido e afirmou não saber a origem dos rendimentos de Cabral. Além disso, em depoimentos, a ex-primeira-dama sempre ressaltou o fato de ter renda própria.