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Eduardo cita 1964 e fala em militares para pôr "pano quente" entre Poderes

Filho do presidente dirigiu críticas ao STF por, segundo ele, intervir em outros poderes - Pedro Ladeira/Folhapress
Filho do presidente dirigiu críticas ao STF por, segundo ele, intervir em outros poderes Imagem: Pedro Ladeira/Folhapress

Do UOL, em São Paulo

28/05/2020 12h31Atualizada em 28/05/2020 16h31

O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) disse hoje que será natural se a população recorrer às Forças Armadas caso esteja insatisfeita com o desempenho do Congresso Nacional e do STF (Supremo Tribubal Federal). Apesar de dizer que um golpe militar não vem sendo discutido, o filho do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) citou o golpe de 1964 como exemplo de "clamor popular" por uma intervenção dos militares para dirimir problemas entre os Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário.

Em entrevista à Rádio Bandeirantes, o deputado afirmou que o STF vem interferindo no Poder Executivo e isso poderia levar a uma insurgência por parte da população.

"E vou me valer de novo das palavras de Ives Gandra Martins: o poder moderador para reestabelecer a harmonia entre os Poderes não é o STF, são as Forças Armadas", disse Eduardo.

Eles [Forças Armadas] vêm, põem um pano quente, zeram o jogo e, depois, volta o jogo democrático. É simplesmente isso
deputado federal Eduardo Bolsonaro

O terceiro filho do presidente lembrou o golpe militar de 1964 - que durou 21 anos e impôs a ditadura militar no Brasil, com restrição de direitos e perseguição a opositores políticos do governo. Ele disse que a população foi às ruas e que era um período de instabilidade muito grande, indiretamente associando à fase vivida atualmente no país.

"Os militares só entraram em ação depois do clamor popular. Ninguém quer isso. No entanto, as pessoas que não conseguem enxergar dentro do STF e no Congresso instrumentos para reverter esse tipo de desarmonia entre os Poderes, eles se abraçam no artigo 142".

O citado artigo da Constituição Federal — promulgada em 1988, após o período de ditadura militar — diz respeito sobre os direitos, deveres e a organização das Forças Armadas. Nele, fica esclarecido que as Forças Armadas são subordinadas ao presidente e que compete a elas a garantia dos Poderes constitucionais.

"Ministros estão esgarçando a corda"

Eduardo criticou o Supremo devido ao inquérito que investiga uma suposta interferência do presidente Bolsonaro na Polícia Federal e pela ação de ontem autorizada pelo ministro Alexandre de Moraes, que determinou busca e apreensão em casa de apoiadores e deputados bolsonaristas, dentro do inquérito das fake news.

Nesse momento ninguém deseja conflito, mas os ministros [do STF] estão esgarçando essa corda
Eduardo Bolsonaro

"Muita gente acha que é tudo arquitetado. O gabinete do ódio é falácia", afirmou o deputado. "Gabinete do ódio" foi uma expressão cunhada durante a CPI das fake news. Segundo opositores do governo, servidores de dentro do próprio Planalto promovem fake news e ameaças contra autoridades na internet. O Palácio nega.

Eduardo ainda fez críticas diretas a Alexandre de Moraes, a quem acusou de extrapolar limites.

"Não é todo o Supremo. Mas eu como deputado, ainda acredito que tenho direito para falar o que penso. O Alexandre extrapolou todos os seus limites. Isso é uma vergonha para o STF, a população enxerga a atuação como um todo. A população elege um presidente para quebrar uma década de corrupção. Todos estão enxergando que ele é vítima. Hoje ele fez um desabafo. E o golpe final do Alexandre Moraes contra os conservadores foi a busca e a apreensão. Daqui a pouco ele tá exigindo o celular do presidente sem motivo. O STF é guardião da Constituição, mas não está acima dela."

O presidente Jair Bolsonaro não é investigado formalmente no inquérito das fake news, e nenhuma das ações da operação autorizada ontem pelo STF envolveram diretamente o presidente, apenas aliados seus e apoiadores.

O governo Bolsonaro teve início em 1º de janeiro de 2019, com a posse do presidente Jair Bolsonaro (então no PSL) e de seu vice-presidente, o general Hamilton Mourão (PRTB). Ao longo de seu mandato, Bolsonaro saiu do PSL e ficou sem partido até filiar ao PL para disputar a eleição de 2022, quando foi derrotado em sua tentativa de reeleição.