Expoente do centrão, Arthur Lira vira líder informal do governo na Câmara
Resumo da notícia
- O parlamentar está à frente de quase 220 deputados no momento em que o Planalto se aproxima do centrão
- Atuação mais enfática de Lira ao defender matérias de interesse do governo já pode ser percebida no plenário
- Aproximação do deputado com Bolsonaro interfere na eleição à Presidência da Câmara marcada para fevereiro de 2021
- Congressista é classificado por colegas como habilidoso, persistente, pragmático e aberto ao diálogo
Um dos principais nomes do centrão à frente de quase 220 deputados, o deputado Arthur Lira (PP-AL) virou um líder informal do governo federal na Câmara ao longo das últimas semanas.
Além de comandar o PP na Casa, Lira lidera o bloco parlamentar que reúne ainda PL, PSD, MDB, DEM, Solidariedade, PTB, Pros e Avante, partidos que formam o centrão, embora nem todas as legendas admitam integrá-lo.
O Planalto atualmente oferece cargos na administração pública a indicados pelo grupo em troca de apoio no Congresso para aprovar matérias de seu interesse e barrar a tramitação de pedidos de impeachment.
Já ocorreram mudanças decorrentes dessa negociação no FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação), na Funasa (Fundação Nacional de Saúde) e em áreas do Ministério do Desenvolvimento Regional.
Conforme o estabelecido, o centrão passou a defender mais os interesses do governo no Congresso. A atuação mais enfática de Arthur Lira pôde ser percebida na defesa da medida provisória que amplia a regularização fundiária por meio da autodeclaração, agora projeto de lei, ao se colocar contra a votação imediata para o adiamento do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) e na articulação do texto para ajudar o setor cultural com R$ 3 bilhões em meio à pandemia do coronavírus.
"Os partidos de centro, ou o centrão, como queiram, do qual fazemos parte, sempre deram a qualquer governo com muito equilíbrio o sustentáculo, as aprovações necessárias, tanto para as matérias econômicas quanto para as matérias sociais", declarou Lira em 26 de maio no plenário da Câmara.
Enquanto isso, o líder do governo na Câmara no papel, deputado Major Vitor Hugo (PSL-GO), se vê cada vez mais na posição de coadjuvante. Sem nunca ter conquistado a aceitação dos outros líderes nos bastidores e com a bancada do próprio partido rachada, ele se segura com a bênção pessoal do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) para continuar na função, na avaliação de alguns parlamentares.
No terceiro mandato como deputado federal, Arthur Lira almeja ser eleito presidente da Câmara em fevereiro de 2021 e encontrou nas negociações uma possibilidade de fortalecer seu nome com o apoio de Bolsonaro.
Ao mesmo tempo, Bolsonaro enxergou em Lira uma ponte direta com o centrão e um antagonista ao atual presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que também pretende fazer seu sucessor com Baleia Rossi (MDB-SP) ou Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), este último do mesmo partido de Lira.
Anteontem, o deputado e filho do presidente da República, Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), afirmou publicamente que o governo pretende influenciar as eleições internas do Congresso e que nomes do centrão deverão ter mais chances de vitória.
Ontem, Rodrigo Maia falou que não cabe tratar do assunto em meio à pandemia do coronavírus. Quanto a conseguir influenciar ou não o pleito, o atual chefe da Casa buscou minimizar o poder do governo dizendo que o atual ministro da Cidadania e deputado licenciado, Onyx Lorenzoni, fez campanha contra ele "até o último dia" e ainda assim saiu vitorioso.
Habilidoso, duro, pragmático e aberto ao diálogo
Segundo parlamentares ouvidos pelo UOL, Lira é politicamente habilidoso, duro e pragmático ao defender matérias de interesse do centrão, mas com boa abertura para o diálogo.
Eles consideram que Lira está sabendo aproveitar o espaço que surgiu diante da mudança de rumo adotada por Bolsonaro no relacionamento com o Congresso — antes, o presidente criticava o centrão e afirmava que não participaria de toma lá dá cá.
O líder do governo no Congresso, senador Eduardo Gomes (MDB-TO), afirmou que Lira está respaldado pelos deputados que lidera e comanda a maior bancada da Câmara "não por acaso".
"Uma pessoa que tem a força interna que ele tem não decide sozinho", disse.
Um deputado governista, sob reserva, admite que Bolsonaro está com a força abalada dentro da Câmara por não ter priorizado a articulação política no primeiro ano de gestão. Agora, torce para que o governo consiga fazer o centrão trabalhar por ele, e não o contrário.
"A polarização do Rodrigo Maia com o governo fez o Arthur Lira enxergar um vácuo ali, e ele entrou. Não sei quem adere a quem. Se o Arthur vai defender as ideias do governo ou se o governo vai ter que pagar pelas ideias do Arthur", afirmou.
Um líder da oposição também ressaltou à reportagem que Lira consegue trafegar bem entre os diferentes grupos na Casa e conta com respeito pelo centrão por ser contundente em seus posicionamentos.
No entanto, avalia que essa relação com Bolsonaro pode não prosperar diante do avanço das investigações do STF (Supremo Tribunal Federal) que apura a conduta do próprio presidente e de aliados.
"[A aliança com o centrão] é uma maneira que alguns segmentos próximos ao governo consideraram factível para evitar a derrocada do Planalto, mas o núcleo mais odiento dentro do governo não vê com bons olhos essa aproximação", disse, ao acrescentar temer que essa ala do governo obrigue o Planalto a "chutar" o centrão e a embarcar por vias não democráticas.
Outro deputado federal avalia que o maior desafio do governo e de Lira será manter uma unidade até fevereiro do ano que vem. "Não é fácil pelos perfis. Lira é um pouco trator. Bolsonaro não é diferente. E [eles têm] ideologias e métodos diferentes", disse.
Suspeitas de corrupção
Em entrevista à revista Veja em dezembro de 2019, a ex-mulher de Lira, Jullyene Lins, acusou o parlamentar de acumular propina desde quando era deputado estadual e de ocultar patrimônio. Ele nega as acusações.
Lira foi alvo de investigações na Operação Lava Jato e na Operação Taturana, deflagrada em 2007, que apurou desvio de dinheiro na Assembleia Legislativa de Alagoas. Ele virou réu na Lava Jato por improbidade administrativa e em outras ações, sem condenação até o momento.
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