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Witzel demite 'braço-direito' após suspeita de elo com empresário preso

O governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC), posa ao lado do secretário de Desenvolvimento econômico, Lucas Tristão - Reprodução/Facebook
O governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC), posa ao lado do secretário de Desenvolvimento econômico, Lucas Tristão Imagem: Reprodução/Facebook

Gabriel Sabóia

Do UOL, no Rio

03/06/2020 12h25

O governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC), exonerou hoje o secretário estadual de Desenvolvimento Econômico, Lucas Tristão. Braço direito de Witzel, Tristão foi apontado como o pivô da crise entre o Executivo fluminense e o plenário da Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro), onde o governador já acumula dez pedidos de impeachment.

A demissão acontece uma semana após operação da Polícia Federal que teve Witzel e integrantes de seu governo como alvo. Investigação da PGR (Procuradoria-Geral da República) apontou a relação de Tristão com o empresário Mário Peixoto —um dos principais fornecedores do governo, preso preventivamente no mês passado pela Lava Jato. Peixoto é suspeito de envolvimento em fraudes na área da saúde em meio à pandemia do coronavírus.

A demissão é vista como uma resposta aos dez pedidos de impeachment protocolados contra o governador na Alerj —como UOL mostrou na última semana, vários desses requerimentos tinham como objetivo pressionar Witzel a reduzir os poderes de Tristão.

Escolhido por Witzel para fazer a interlocução do governo com os 70 parlamentares, Tristão é contestado desde o início do mandato e passou a ser chamado ironicamente de "governador em exercício", diante dos seus superpoderes.

Ele é apontado por deputados como autor de intimidações e o principal responsável por produzir supostos dossiês contra 70 parlamentares com base em escutas telefônicas ilegais —o MP-RJ (Ministério Público do Rio de Janeiro) analisa essa denúncia.

Além de problemas diretos com o plenário da Alerj na defesa das pautas do governo, Tristão faltou a encontros agendados em redutos eleitorais considerados estratégicos e chegou a fazer ameaças sobre cortar as indicações de cargos de quem votasse contra os seus interesses.

Witzel perde apoio até de antigos aliados

A conduta de Tristão fez com que Witzel perdesse o apoio até de aliados de primeira hora do seu mandato. O presidente da Alerj, André Ceciliano (PT), flerta atualmente com a possibilidade de admitir a abertura de um dos processos de impeachment contra o governador.

Na última semana, Witzel sofreu outras baixas: seus dois líderes na Alerj, os deputados Márcio Pacheco e Léo Vieira (ambos do PSC), deixaram os postos após a troca de figuras do primeiro escalão do secretariado de Witzel.

O secretário da Casa Civil, André Luis Dantas Ferreira, e o secretário estadual de Fazenda, Luiz Cláudio Rodrigues de Carvalho, foram exonerados. O pedido para a saída dos dois, em meio às mais de 5.000 mortes no estado pelo coronavírus, teria partido de Tristão.

Horas depois, o secretário de Polícia Civil do Rio de Janeiro, o delegado Marcus Vinícius Braga, pediu demissão.