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Bolsonaro é um despreparado, mas sou contra o impeachment, diz Cid Gomes

Do UOL*, em São Paulo

15/06/2020 13h36Atualizada em 15/06/2020 16h04

O senador Cid Gomes (PDT) afirmou hoje ser contrário ao impeachment do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), apesar de seu partido e de seu irmão Ciro Gomes terem ingressado com um pedido neste sentido na Câmara dos Deputados

"Eu, pessoalmente, sou contra. A nossa democracia é muito recente, pouco tempo contínua. Ela requer um aprendizado, e o mecanismo de afastar, pressão, impeachment, sempre foi usado por forças dominantes no país", disse em entrevista ao UOL para os colunistas Carla Araújo e Tales Faria.

O povo elege e acabam afastando. Como regra, eu sou contra [o impeachment de um presidente], não é específico do Bolsonaro, só em extremidade, desonestidade. Tem coisas que encostam perto dele e começam a justificar. Mas, pelo exotismo ou despreparo, temos que pagar um preço

Hoje, mais de 30 pedidos de impedimento repousam na mesa do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM). É exclusivamente dele o poder para dar abertura ou não ao processo de impeachment. Ao UOL, no entanto, Maia afirmou que o assunto tem de ser tratado com "cuidado".

Na entrevista, Cid Gomes classificou o presidente como um "despreparado que quer mandar", e afirmou que seu julgamento deve ser feito pela sociedade e não com "um paredão, uma baioneta e um fuzil".

A repulsa a Bolsonaro, diz Gomes, pode fazer com que as pessoas sintam vergonha em pensar como o presidente.

"É o bem que eu acho que o Bolsonaro fará ao Brasil. O gueto nazista, fascista, egoísta, direitista, doente, tem que voltar a ter vergonha de expor suas opiniões, como era há muito pouco tempo", argumentou o senador.

Milícias

Gomes, durante a conversa, afirmou que o presidente tem "relação intrínseca com a milícia do Rio de Janeiro" e que perceber isso se estende a todo o Brasil "não é ver chifre em cabeça de cavalo".

Ao ser questionado sobre o episódio em que foi baleado enquanto investiu contra um batalhão com uma retroescavadeira em Sobral, no Ceará, em fevereiro deste ano, ele comentou que os filhos do presidente estiveram no local dias antes e deu a entender que os policiais amotinados no estado foram influenciados por eles.

"Os filhos dele estiveram aqui no Ceará, um ou dois filhos dele, dias antes [do início do motim]", disse o senador, sem esclarecer se a referência era a Carlos, Eduardo ou Flávio Bolsonaro.

Para mim está muito claro que o Bolsonaro tem intrínseca relação com a milícia do Rio de Janeiro. E daí para se estender para o Brasil não é ver chifre em cabeça de cavalo, não.

Críticas ao PT

Tal qual seu irmão Ciro, Cid Gomes é um assíduo crítico do PT, mesmo tendo participado do governo de Dilma Rousseff (2011-2016) como ministro da Educação e nutrindo alianças com o partido no Ceará.

O senador acusou o PT de aparelhar a Petrobras para conseguir vantagens financeiras e propina. O senador afirmou ainda que o "comando nacional petista se corrompeu".

"Você vai querer negar o que aconteceu? Essa coisa de loteamento de cargos de lugares que estrategicamente tratam de muito dinheiro, quem começou foi o PT. O PT foi quem quis aparelhar a Petrobras e disso tirar vantagem", disse.

Quando questionado contra quem ele direcionava essas denúncias, Cid disse que a "quem dirige hoje o PT, quem comanda hoje o PT".

*Texto de Alex Tajra, Beatriz Sanz, Marina Marini e Marinho Saldanha. Produção de Diego Henrique Carvalho