Topo

Bolsonarismo perdeu força na Alerj, mas apoio de Crivella o mantém de pé

O presidente Jair Bolsonaro e o prefeito do Rio, Marcelo Crivella - Crédito: Alan Santos/Presidência da República
O presidente Jair Bolsonaro e o prefeito do Rio, Marcelo Crivella Imagem: Crédito: Alan Santos/Presidência da República

Maria Luisa Melo

Colaboração para o UOL, no Rio

16/06/2020 04h00

Os acalorados discursos bolsonaristas estão ficando mais abafados na Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro) —seja porque a bancada foi desidratada após sucessivas crises, seja porque a verve adotada logo após a eleição de Jair Bolsonaro perdeu força em meio à pandemia do coronavírus.

A tropa de choque de Bolsonaro começou a legislatura, em 2019, com 12 defensores ferrenhos —todos os integrantes do PSL, antiga legenda do presidente da República. No plenário, orgulhavam-se de formar a maior bancada da Casa. O grupo, que chegou a ter apenas sete deputados, ganhou novo fôlego com o apoio do Republicanos, partido do prefeito Marcelo Crivella, que conta com quatro parlamentares na Casa.

Apesar de a votação pela abertura do impeachment do governador Wilson Witzel (PSC) na semana passada ter sido por unanimidade, com 69 votos favoráveis, as fileiras bolsonaristas —que já foram alinhadas ao governador do Rio, mas hoje fazem oposição— somam hoje ao menos dez parlamentares e não devem mudar de posição ao longo do processo.

20.jan.2020 - Jair Bolsonaro após reunião com Marcelo Crivella no Rio - Fernando Frazão/Agência Brasil - Fernando Frazão/Agência Brasil
20.jan.2020 - Jair Bolsonaro após reunião com Marcelo Crivella no Rio
Imagem: Fernando Frazão/Agência Brasil

De crise em crise, a desidratação bolsonarista

A debandada da bancada bolsonarista na Casa, formada inicialmente por deputados estaduais eleitos pelo PSL, começou em setembro passado, quando se instaurou a crise nacional do partido. Na ocasião, uma guerra foi aberta pelo controle da sigla, envolvendo diretamente Jair Bolsonaro e o fundador e presidente da legenda, Luciano Bivar (PSL).

No Rio, o partido também rachou. No mesmo mês, veio uma nova prova de fogo, que afastou mais alguns parlamentares do bolsonarismo. Wilson Witzel anunciou que disputaria a Presidência da República em 2022, provocando a ira de Bolsonaro, seu aliado até então.

Para revidar a investida de Witzel, o senador Flávio Bolsonaro (sem partido) exigiu que os deputados do PSL que tinham cargos no governo estadual deixassem esses postos. Uma tentativa de retirar apoio de seu mais novo rival.

Quatro dos parlamentares, porém, não romperam com Witzel na ocasião. E, como consequência, Flávio determinou que Rodrigo Amorim, Alexandre Knoploch, Marcelo do Seu Dino, Gil Viana (morto em maio vítima da covid-19) e Gustavo Schmidt, todos do PSL, não poderiam fazer parte da sigla Aliança pelo Brasil, que vem sendo criada pela família do presidente, mesmo que decidissem deixar o PSL. Estava sacramentado o racha.

Hoje, o "núcleo duro" do bolsonarismo na Alerj é formado pelos deputados Alana Passos (PSL), Anderson Moraes (PSL), Ronaldo Zaca (sem partido), Filippe Poubel (PSL), Márcio Gualberto (PSL) e Coronel Salema (PSL).

Há ainda quem não se declare abertamente bolsonaristas, mas é próximo do grupo, como Rosane Félix (PSD). Ela fez muitas fotos com os colegas bolsonaristas durante o lançamento da Aliança pelo Brasil, em Brasília, em novembro.

Republicanos virou 'barriga de aluguel' do PSL

Um dos principais defensores do bolsonarismo e ex-líder do PSL na Alerj, o deputado Dr. Serginho é o maior exemplo da importância do Republicanos para o bolsonarismo no Legislativo fluminense.

Desde fevereiro, quando conseguiu deixar o PSL, levanta a bandeira a favor da família Bolsonaro no Republicanos, seu atual partido. Ele nega que o bolsonarismo tenha perdido espaço na Casa.

"O bolsonarismo jamais perdeu fôlego. O que aconteceu foi que descortinamos os que não eram realmente bolsonaristas. Neste cenário, o apoio do Republicanos tem sido fundamental. Saíram uns e entraram outros. Temos um acordo a nível nacional com o partido enquanto o Aliança pelo Brasil não sai do papel", explicou.

Crivella sonha com o apoio de Bolsonaro para sua reeleição nas eleições municipais deste ano. O acordo com o Republicanos também envolveu a filiação em março de dois de seus filhos, o senador Flávio e o vereador do Rio Carlos Bolsonaro.

Para Dr. Serginho, o apoio a Bolsonaro na Casa está diretamente atrelado à possível derrota do governador Wilson Witzel (PSC) no processo de impeachment, instaurado na Alerj na semana passada.

"Com a queda de Witzel, o bolsonarismo continuará vivo como sempre foi na Alerj. Aliás, a perda de base do governador na Alerj demonstra a nossa força. Se não tivéssemos nos articulado, o impeachment poderia não ter sido aberto", completou.

No entanto, a votação que instaurou a abertura do processo de impedimento contra Witzel foi unânime, com 69 votos —entre eles, até mesmo de integrantes do próprio partido do governador (PSC). Às vésperas da votação, Witzel já enfrentava um processo de desgaste após ser alvo de operação da Polícia Federal por suspeita de fraudes em contratos de saúde durante a pandemia. Também pesou na votação uma crise entre seu então secretário e braço direito Lucas Tristão e a Alerj.