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Queiroz: zap bolsonarista se divide entre 'e o PT?' e silêncio

Rodrigo Ratier

Colunista de Ecoa

18/06/2020 18h04

Na estratégia de comunicação bolsonarista, os grupos públicos de apoio a Jair Bolsonaro são um importante braço de propaganda. Reunindo os militantes mais engajados, deles partem memes, vídeos e textos que acabam chegando a grupos fechados de amigos, conhecidos e familiares. Em resumo, viralizam para além da base de apoio "raiz" do presidente.

Entre os 29 grupos que monitoro desde 2018, a comunicação autônoma e o debate são raros. O grosso do tráfego vem de peças encaminhadas ou copiadas que se repetem em diversos grupos, indicando algum grau de centralização na produção. Em geral, elas obedecem às narrativas, expressas em outras redes sociais, pelos porta-vozes do bolsonarismo: o próprio clã Bolsonaro, ministros e parlamentares da base, jornalistas alinhados e youtubers militantes.

A notícia da prisão de Fabrício Queiroz, ex-assessor de Flávio Bolsonaro, obedeceu a esse padrão. Com o senador do Republicanos-RJ se manifestando de maneira protocolar ("encaro com tranquilidade os acontecimentos de hoje. A verdade prevalecerá"), coube a um tuíte do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) a mensagem-chave de contra-ataque.

Disseminada desde as primeiras horas da manhã por aliados, uma tabela recupera um relatório produzido pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) sobre movimentações financeiras "atípicas" na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj). O Ministério Público Federal anexou o documento à investigação que deu origem à Operação Furna da Onça, braço carioca da Lava Jato que apurava o pagamento de propina a deputados estaduais. No topo da lista, com R$ 49 milhões em transações suspeitas, estava o gabinete de André Ceciliano, deputado estadual pelo PT e atual presidente da Alerj.

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Imagem: Reprodução

Senha para o zap bolsonarista ressuscitar o caricato "E o PT?". "Alguém explica porque só investigam no Coaf da Alerj Queiroz e Flávio?"*, indaga uma postagem compartilhada em vários grupos. "De todos, só importam os 1,3 milhões de um ex-deputado por causa de seu sobrenome?", questionou uma apoiadora. Outro militante não se comove: "Não quero nem saber. Haja o que houver, sou 1000% fechado com Bolsonaro".

Como de costume, abandono da causa ("Estou fora! Não tenho bandido de estimação") e críticas, mesmo veladas ("Infelizmente Bolsonaro para mim ainda é a melhor opção. Mas que tem merda deles também, isso tem"), são minoritárias. Na manhã de hoje, poucos internautas deixaram os grupos.

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Imagem: Reprodução

A tabela apresentada por Eduardo Bolsonaro e replicada no WhastApp é verdadeira, mas apresentada com distorções. Primeiro: na divulgação da investigação, em dezembro de 2018, o MPF informou que nem todas as movimentações atípicas seriam, necessariamente, ilícitas. Segundo: os rolos entre Queiroz e o Filho 01 vão bastante além do relatório do Coaf. O novelo de lã que começou a ser desenrolado a partir da Operação Furna da Onça inclui dúvidas sobre "rachadinhas" de salários de servidores, funcionários fantasmas, ligações com milicianos, compra e venda de imóveis para lavagem de dinheiro.

Em termos de padrões comunicativos, o "E o PT?" da vez repete algumas das estratégias básicas do discurso bolsonarista. Primeiro, o reforço da oposição entre amigo e inimigo, com a afirmação de que os verdadeiros corruptos seriam os outros. Segundo, a inversão da acusação, tentando evitar que se entre no mérito das investigações em curso. Terceiro, a vitimização, buscando posicionar a ação contra Fabrício Queiroz como "perseguição política".

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Imagem: Reprodução

Grupos de apoio amanhecem quietos

A julgar pela movimentação no WhatsApp bolsonarista, a manobra não empolgou. Costumeiramente falantes e animados, os grupos de apoio a Jair Bolsonaro amanheceram quietos. A notícia da prisão de Queiroz derrubou o número de interações. Em um ambiente onde alguns grupos chegam a registrar 1.400 mensagens diárias, poucos passavam de duas dezenas de postagens, a maioria ignorando a notícia do dia e convocando para a "megamanifestação" no próximo domingo. Em um deles, o silêncio foi total —à imagem e semelhança do presidente, que hoje passou batido pelos apoiadores que aguardavam por ele na entrada do Palácio do Alvorada.

*Os trechos de postagens foram corrigidos, quando necessário, para a norma padrão da língua.

Rodrigo Ratier, colunista de Ecoa, propõe visões, provocações e esperanças sobre a mais nobre das atividades humanas: educar.