Barroso critica 'inação' do governo contra invasores em terras indígenas
O ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Luís Roberto Barroso afirmou hoje que considera "inaceitável" a "inação" do governo federal na expulsão de invasores de terras indígenas.
"A remoção dos invasores das terras indígenas é medida imperativa, imprescindível e é dever da União. É inaceitável a inação do governo federal, não desse [atual], não de um governo específico, de qualquer um e talvez de todos até aqui em alguma medida", afirmou Barroso.
"Inclusive porque estas invasões vêm associadas a prática de diferentes crimes ambientais, não apenas um oferecimento de grave risco para os indígenas, e não apenas a invasão de áreas demarcadas que lhe são asseguradas constitucionalmente, mas estas invasões são para a prática de crimes, como desmatamento, queimadas, como a extração ilegal de madeira e a degradação da floresta", disse o ministro.
As afirmações foram feitas durante julgamento na tarde de hoje da ação que pede medidas do governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) para a prevenção contra o novo coronavírus entre os povos indígenas.
Em julho, Barroso determinou, em uma decisão individual, a adoção de uma série de medidas pelo governo. Hoje, a decisão do ministro começou a ser julgada pelo plenário do STF, formado por 11 ministros.
Em seu voto, Barroso defendeu a manutenção das medidas impostas por sua decisão anterior. Após o voto, o julgamento foi suspenso e será retomado depois de amanhã.
A ação no STF foi movida pela Apib (Articulação dos Povos Indígenas do Brasil) e pelos partidos PSB, PSOL, PCdoB, PT, PDT e Rede. No processo, eles apontam que houve omissão do governo federal no combate à covid-19 entre os indígenas.
Entre as medidas determinadas por Barroso estão:
- O acesso de todos os indígenas ao Subsistema Indígena de Saúde, independentemente da homologação de suas terras
- A elaboração de plano para enfrentamento e monitoramento da covid-19
- A criação de barreiras sanitárias para evitar o contágio de povos indígenas em isolamento ou de contato recente
- A criação de uma sala de situação para a definição e monitoramento das ações voltadas aos povos indígenas em isolamento ou de contato recente, com participação de representantes do governo e dos povos indígenas
A ação também pedia a determinação da retirada imediata de invasores de sete terras indígenas, dos povos Yanomami, Karipuna, Uru-EuWau-Wau, Kayapó, Araribóia, Munduruku e Trincheira Bacajá.
Essa medida não foi autorizada por Barroso, mas o ministro determinou que o governo federal estabelecesse um plano para a retirada dos invasores.
Demarcação de terras
Em seu voto, Barroso também criticou a declaração do presidente Jair Bolsonaro de que o governo não iria mais realizar a demarcação de terras indígenas.
O ministro afirmou que a demarcação das terras é uma imposição legal da Constituição Federal, e não uma decisão política do governo.
"Eu considero imprescindível essa observação: o governo por decisão política do presidente, e a meu ver uma decisão contestável em face da Constituição, tem afirmado que não homologará sequer mais um centímetro de terra indígena, o que não é, com todas as vênias, uma questão de política discricionária, é uma questão de cumprimento da Constituição", disse o ministro.
"Onde estejam preenchidos os requisitos constitucionais, esse é um ato vinculado [obrigatório]", afirmou Barroso.
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