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'Não houve tentativa de assédio', diz deputado que passou mão em colega

Do UOL, em São Paulo

17/12/2020 20h25

Após ser filmado passando a mão na deputada estadual Isa Penna (PSOL) durante sessão da Alesp (Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo), o deputado estadual Fernando Cury (Cidadania-SP) subiu à tribuna na tarde de hoje e se disse "triste e constrangido" com a repercussão do episódio, apesar de negar que tenha cometido qualquer tentativa de assédio.

Um vídeo público da sessão de ontem mostra o momento em que a deputada conversava com o presidente Cauê Macris (PSDB), apoiada no balcão do plenário, quando Cury se aproximou por trás dela, colocou e manteve as mãos em sua cintura, na altura dos seios. A parlamentar registrou um Boletim de Ocorrência por assédio sexual e uma denúncia formal por quebra de decoro.

Na sessão de hoje, a deputada Isa Penna pediu para que o vídeo fosse mostrado a todos os deputados. Em seguida, Cury pediu a palavra e tentou se defender das acusações.

"Eu queria dizer que pouquíssimas, pouquíssimas vezes, eu subi nessa tribuna durante o meu mandato. E subo aqui hoje muito constrangido e muito triste pelo fato que foi aqui ocorrido e relatado, pelo julgamento feito, mas estou aqui para passar a minha versão para vocês", iniciou Cury, em seu discurso.

"Em primeiro lugar, gostaria de frisar a todos, principalmente as mulheres que estão aqui, que não houve, de forma alguma, da minha parte, a tentativa de assédio, importunação sexual ou qualquer outra coisa ou qualquer outro nome semelhante a esse. Eu nunca fiz isso na minha vida toda. E quero dizer, de forma veemente, inclusive para todas as mulheres que estão aqui, eu nunca fiz isso. Mas se a deputada Isa Penna se sentiu ofendida com o abraço que eu lhe dei, eu peço, de início, desculpa por isso. Desculpa se eu a constrangi. Desculpa se eu tentei, como faço com diversas colegas aqui, de abraçar e estar próximo. Se com esse gesto eu a constrangi e ela se sentiu ofendida, peço desculpas", prosseguiu.

O deputado disse que viu o vídeo novamente e não enxergou "nada de mais" nele, e pediu que a sua mulher tivesse força nesse momento.

Em nota, Arnaldo Jardim, presidente estadual do Cidadania de São Paulo, e Roberto Freire, presidente nacional do Cidadania, condenaram a ação:

"Com relação ao episódio envolvendo o deputado estadual Fernando Cury, o Cidadania analisando as imagens, exige as devidas explicações do parlamentar e encaminha o caso ao nosso Conselho de Ética, para que ouvido o representado, sejam tomadas providências cabíveis e efetivas. A legenda não tolera qualquer forma de assédio e atuará fortemente para que medidas definitivas sejam adotadas. Temos uma história de luta em defesa dos direitos da mulher que nenhuma pessoa pode macular. "

Além de Cury, o Cidadania possui apenas outro representante na Alesp, que também é homem.

Isa Penna diz ter se sentido violada

Nas cenas, exibidas no vídeo, Isa Penna reage e afasta o deputado com as mãos. Ele, então, põe a mão sobre o ombro da deputada, que reage novamente. Os dois gesticulam e conversam com o presidente por alguns minutos, até que Cury se afasta.

Ativista feminista e militante contra a violência à mulher, a deputada diz ter se sentido violada, em contato com a reportagem do UOL.

Segundo ela, um grupo de deputados estava bebendo antes do início da sessão. Cury, de acordo com a parlamentar, "estava com muito bafo de uísque".

Depois que ela o afastou, conta, o deputado fez "cara de mal entendido" e pediu desculpas. Mas, pouco depois, diz a deputada, Cury e outros parlamentares estavam "rindo do assunto".

Penna, no entanto, destaca que esta não é "nem a primeira, nem a décima" vez em que ela passa por uma situação de violência por ser mulher. "O assédio verbal e psicológico acontece todos os dias comigo e com as deputadas negras", diz.

"Me sinto violada e e exposta, mas me sinto forte porque sei que não estou sozinha", afirma a deputada, que promete fazer uso do espaço como parlamentar para abordar o assédio que sofreu. Segundo ela, outras parlamentares, como as deputadas Mônica Seixas e Erica Malunguinho, ambas do PSOL, também já foram assediadas no ambiente da Alesp.