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Bolsonaro insiste em fraude nos EUA já descartada e ataca eleição no Brasil

Kelli Kadanus

Colaboração para o UOL, em Brasília

07/01/2021 11h33Atualizada em 07/01/2021 12h05

O presidente Jair Bolsonaro voltou a dizer hoje de manhã que houve fraude nas eleições para a presidência dos Estados Unidos, hipótese que já foi descartada por autoridades norte-americanas e internacionais. E novamente sem provas, repetiu que há fraudes no sistema eletrônico de eleição no Brasil, teoria que também já foi rebatida no país. O próprio presidente já venceu seis votações no Brasil com urna eletrônica.

Bolsonaro deu as declarações em seu encontro matinal com apoiadores na saída do Palácio Alvorada. Ele falou sobre a invasão de seguidores do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ao Capitólio, sede do Congresso americano, insinuando que a insurreição ocorreu por causa das supostas - e já descartadas - irregularidades na eleição. A vitória de Joe Biden foi oficializada nesta madrugada, após a sessão de certificação ser retomada.

"O pessoal tem que analisar o que aconteceu nas eleições americanas agora. Basicamente qual foi o problema, a causa dessa crise toda: falta de confiança no voto. Então lá, o pessoal votou e potencializaram um voto pelos correios por causa da pandemia e houve gente que votou três, quatro vezes, mortos votaram, foi uma festa", disse Bolsonaro, sem apresentar provas e contrariando as próprias autoridades eleitorais americanas. "Então a falta dessa confiança levou a esse problema que está acontecendo lá."

O presidente brasileiro repercute as alegações de Trump, que hoje afirmou que fará uma transição "ordeira" para Biden, mesmo ainda não confiando no resultado da eleição. Depois da invasão ao Capitólio ontem, Twitter, Instagram e Facebook bloquearam a conta do presidente americano para evitar a disseminação de fake news.

Trump travou uma batalha jurídica para impedir a confirmação da vitória de Biden. Durante a sessão do Congresso americano ontem, para confirmar a eleição do democrata, Trump inflamou apoiadores dizendo que não aceitaria o resultado da eleição. Mais tarde, após a invasão, pediu calma aos apoiadores. Ao menos quatro pessoas morreram, segundo a polícia de Washington.

Bolsonaro está na contramão de outros líderes mundiais, que criticaram o que aconteceu ontem nos Estados Unidos. No Brasil, nem o presidente, nem o Itamaraty se manifestaram sobre a invasão do Capitólio oficialmente.

"No Brasil, será a mesma coisa", diz Bolsonaro, sem provas

Ao comentar o episódio dos Estados Unidos, Bolsonaro também fez um paralelo com as eleições brasileiras de 2022, alegando, mais uma vez sem provas, que houve fraude nas urnas em 2018 e defendendo o voto impresso para o próximo pleito.

"E aqui no Brasil, se tivermos o voto eletrônico em 22, vai ser a mesma coisa. A fraude existe. A imprensa vai dizer 'sem provas, ele diz que a fraude existe'. Eu não vou responder esses canalhas da imprensa mais. Eu só fui eleito porque tive muito voto em 2018", disse o presidente.

Se nós não tivermos o voto impresso em 22, uma maneira de auditar voto, nós vamos ter problemas piores do que os Estados Unidos
Bolsonaro, sem ser claro se era uma referência a fraudes ou às cenas de violência vistas nos EUA

Em março do ano passado, Bolsonaro chegou a dizer que apresentaria provas "em breve" de que teria sido eleito no primeiro turno, mas a promessa nunca foi cumprida. Desde as eleições de 2018, Bolsonaro tenta emplacar a volta do voto impresso no Brasil, apesar de nenhuma fraude nunca ter sido comprovada com o uso das urnas eletrônicas.

Ao contrário do que alega o presidente, os votos nas urnas eletrônicas são auditáveis. Cada dispositivo gera um boletim de urna, que é fixado na seção eleitoral após o fim da votação. Representantes de todos os partidos políticos podem fiscalizar o processo eleitoral na apuração dos votos.

Bolsonaro já foi eleito seis vezes com urna eletrônica

A urna eletrônica passou a ser usada no Brasil em 1996. Desde então, Bolsonaro foi eleito por esse método seis vezes: como deputado federal, em 1998, 2002, 2006, 2010 e 2014, e como presidente, em 2018. Os três filhos políticos do presidente, Carlos, Flávio e Eduardo, também foram escolhidos em eleições via urna eletrônica.

Não há nenhuma evidência de que o método eletrônico seja suscetível a fraudes. As urnas são independentes e não ficam integradas em rede, o que, segundo o TSE (Tribunal Superior Eleitoral), evita qualquer possibilidade de hackeamento.