Em indireta a Maia, Bolsonaro diz que 'uma só pessoa' atrapalhava Congresso
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) mandou hoje uma indireta para Rodrigo Maia (DEM-RJ) ao dizer que "uma só pessoa criava alguns óbices" para o governo dentro do Congresso Nacional.
Com a frase, o governante se refere aos projetos de interesse do Executivo, sobretudo da chamada "pauta de costumes", que ficaram na gaveta do adversário durante o período no qual ele foi presidente da Câmara.
"O Parlamento deu sinais de que quer trabalhar. Não quer ficar refém de uma só pessoa. E era uma só pessoa que criava alguns óbices para nós", declarou Bolsonaro, em discurso realizado durante uma cerimônia de entrega de veículos à PRF (Polícia Rodoviária Federal) de Santa Catarina.
Bolsonaro não tem escondido o seu entusiasmo com o triunfo de Arthur Lira (PP-AL). O deputado, líder do centrão, foi eleito o novo presidente da Casa ao superar Baleia Rossi (MDB-SP), candidato apoiado por Maia, na última segunda-feira. O resultado simbolizou uma importante vitória política para o governo.
O presidente da Câmara tem a prerrogativa para incluir ou não os temas de iniciativa do Executivo na pauta de discussões e votações.
Bolsonaro vinha reclamando desde o ano passado que as propostas enviadas ao Congresso não eram "colocadas para votar".
O motivo: alguns temas defendidos pela base bolsonarista criam divergências entre diferentes correntes ideológicas dentro do Parlamento, como a questão da flexibilização das armas. Por esse motivo, Maia articulou politicamente para que fosse priorizada a agenda econômica em vez da "pauta de costumes".
Outro projeto caro a Bolsonaro é o do chamado excludente de ilicitude. A medida visa tirar dos agentes de segurança culpabilidade por crimes cometidos durante operações.
Também hoje, durante a manhã, o presidente da República deu sinais de que este assunto será uma das prioridades do governo para o ano de 2021. Segundo ele, policiais e militares têm que ter tranquilidade no "cumprimento da missão".
"O policial em operação tem que ter uma garantia. Quem manda as Forças Armadas para rua em uma GLO [Garantia da Lei e da Ordem] sou eu. Quem coloca na rua a Polícia Militar é o governador. Nós temos que ter responsabilidade. Homens sérios, honestos, chefes de família, trabalhadores, não podem, após o cumprimento da missão, receber visita de um oficial de Justiça e começar a responder um inquérito."
Bolsonaro não incluiu em seu raciocínio a possibilidade de uma intervenção policial que eventualmente possa ser classificada como ilegal ou que termine com vítimas de uso excessivo da força.
"[Não pode] até mesmo receber uma ordem de prisão preventiva. Isso não pode acontecer. Se ele está armado na rua, é porque nós colocamos as armas nas mãos deles", disse, em referência aos agentes de segurança pública.
De acordo com Celso Vilardi, professor de direito penal da FGV (Fundação Getulio Vargas), o excludente permite que uma pessoa cometa um crime e não seja punido por ele. "É quando uma pessoa mata outra em legítima defesa ou um criminoso é morto por um policial durante confronto."
A iniciativa de Bolsonaro é uma promessa de campanha que desagrada a muitos setores da sociedade alheios ao cunho ideológico que cerca o presidente.
Juristas, políticos, lideranças sociais e movimentos de direitos humanos, entre outros, alertam que a medida poderia representar um salvo-conduto para que agentes públicas cometam homicídios durante ações de estado sem que haja posteriormente uma investigação.
Apoiadores do projeto argumentam, por outro lado, que policiais e militares não têm "segurança jurídica" para trabalhar.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.