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Base aliada no Congresso prevê semana decisiva para Bolsonaro mudar atitude

O presidente Jair Bolsonaro coloca máscara durante evento no Planalto, nesta segunda (22) - Ueslei Marcelino/Reuters
O presidente Jair Bolsonaro coloca máscara durante evento no Planalto, nesta segunda (22) Imagem: Ueslei Marcelino/Reuters

Luciana Amaral

Do UOL, em Brasília

23/03/2021 04h00Atualizada em 23/03/2021 15h44

Sob pressão, a base aliada do governo no Congresso Nacional considera que essa semana será crucial para o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) mudar sua atitude frente à crise sanitária no país — novo epicentro da covid no mundo.

Parte dos senadores e deputados, inclusive do centrão e de partidos da base mais ideológica, não está satisfeita com a continuidade do discurso negacionista de Bolsonaro. Embora o presidente tenha passado a defender mais a vacinação em massa recentemente, outros comportamentos prejudiciais ao combate da pandemia se mantêm, como atacar o isolamento social.

Na semana passada, ele chegou a entrar no STF (Supremo Tribunal Federal) com ação contra medidas mais restritivas de circulação de pessoas na Bahia, no Rio Grande do Sul e no Distrito Federal.

O presidente não costuma se solidarizar com vítimas da covid-19 — nesta semana o país deve chegar a 300 mil mortos pela doença — nem se mostrar diretamente envolvido em ações contra disseminação do vírus e o colapso do sistema hospitalar Brasil afora. Além disso, um cronograma de fornecimento de vacinas e de imunização permanece incerto.

Dois pontos importantes a serem avaliados nesta semana pelos senadores e deputados federais para entender se Bolsonaro realmente está disposto a mudar de postura no enfrentamento à crise sanitária são a posse de Marcelo Queiroga como novo ministro da Saúde e uma reunião prevista entre representantes dos Três Poderes para tratar de mudanças no enfrentamento da pandemia.

Queiroga foi anunciado há cerca de uma semana, mas ainda não houve uma ação formal por parte do governo para que assuma a pasta de vez. A posse estava inicialmente prevista para esta terça (23), mas não deve acontecer antes de quinta (25).

Até integrantes da base entendem que a demora na oficialização do novo ministro é prejudicial ao governo e dificulta a continuidade de ações da pasta.

Uma reunião entre Bolsonaro, a cúpula do Congresso e o presidente do STF, Luiz Fux, entre outros, para discutir medidas mais efetivas no combate à pandemia está pré-marcada para amanhã.

Um dos incentivadores do encontro, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), propôs que se firme uma espécie de pacto nacional a favor de ações coordenadas no enfrentamento à pandemia. A ideia é minimizar conflitos do governo federal com os outros Poderes, governadores e prefeitos.

Nas últimas semanas, Pacheco e o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), se apresentaram como mediadores entre Ministério da Saúde e governadores após serem procurados pelos estados para ajudar a destravar ações do governo federal, como a compra de vacinas da Pfizer e da Janssen.

Segundo um senador ouvido pela reportagem, Pacheco vai ao encontro com Bolsonaro com a promessa de "jogar duro". No entanto, até a própria base do presidente desconfia de que a reunião surtirá efeitos práticos e considera muito difícil que Bolsonaro admita erros na condução da crise de saúde.

Integrantes da base entendem que alguns dos discursos do presidente não emplacam mais, como a de que remédios com efeitos não comprovados para a covid-19, como a cloroquina, podem prevenir ou tratar a doença.

Para outro senador da base, chegou-se à conclusão de que apenas a vacinação em massa pode tirar o país do pico da crise. Reservadamente, ele criticou o que chamou de "ritmo de campanha política" e "teoria de quanto pior, melhor" praticados tanto por parte de Bolsonaro quanto pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de olho na eleição de 2022.

O parlamentar vê Bolsonaro se isolando na gestão da pandemia, tanto em relação ao Congresso como ao mercado financeiro — que cobra medidas efetivas contra a pandemia.

Parlamentares relatam ainda que a pressão da população tem crescido. Agora, a preocupação já chega à falta de insumos para a intubação de pacientes.

Caso o presidente não mude de atitude, senadores devem intensificar a pressão por uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) para apurar ações do governo na pandemia, o que contraria a vontade de Pacheco. Parte estuda ainda buscar travar pautas não relacionadas à crise. Seriam votadas apenas propostas ligadas a vacinas e programas emergenciais para gerar empregos.