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Vereador envolvido no caso Henry é herdeiro político de preso na Lava Jato

O vereador Dr. Jairinho (Solidariedade) - Divulgação/Câmara Municipal do Rio
O vereador Dr. Jairinho (Solidariedade) Imagem: Divulgação/Câmara Municipal do Rio

Igor Mello

Do UOL, no Rio

27/03/2021 04h00

Um dos personagens ligados ao caso Henry Borel, o vereador Dr. Jairinho (Solidariedade), 43, é herdeiro político de um dos deputados presos na Operação Furna da Onça, uma das mais importantes fases da Lava Jato do Rio. O namorado da mãe de Henry é filho do ex-PM e ex-deputado estadual Coronel Jairo, 71, conhecido cacique político na zona oeste do Rio.

Não afeito a confrontos na arena política, Jairinho chegou à Câmara Municipal —onde cumpre seu quinto mandato consecutivo— por influência do pai. Entre os colegas vereadores, o caso provoca incômodo. O UOL apurou que já há articulações na Câmara tendo em vista as investigações da morte da criança.

Nesta sexta (26), a Polícia Civil cumpriu mandados de busca e apreensão no apartamento de Jairinho na Barra da Tijuca —onde Henry foi encontrado por ele e a namorada em um dos quartos— e na casa do Coronel Jairo, em Bangu.

Pai de Jairinho não assumiu mandato por estar preso

Ligado ao ex-governador Sérgio Cabral, o pai de Jairinho foi um dos dez deputados presos por um suposto esquema de corrupção, lavagem de dinheiro e loteamento de cargos públicos.

Em novembro de 2018, a Furna da Onça, que mirou o esquema de corrupção de Cabral, apontou que deputados recebiam mesada do então governador para votarem a favor do governo na Alerj (Assembleia Legislativa do Rio).

O ex-deputado estadual Coronel Jairo, pai de Dr. Jairinho - Divulgação/Alerj - Divulgação/Alerj
O ex-deputado estadual Coronel Jairo, pai de Dr. Jairinho
Imagem: Divulgação/Alerj

Na eleição daquele ano, Coronel Jairo foi o primeiro suplente da coligação entre o Solidariedade, seu partido, e o PTB. Contudo, por estar preso não pôde assumir o mandato quando um dos eleitos —Anderson Alexandre, também do Solidariedade— foi para a prisão durante o mandato. Jairo conseguiu um habeas corpus em dezembro de 2019.

Assessores dele estão entre os citados no relatório do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) que identificou movimentações atípicas de servidores da Alerj. Foi a partir desse documento que surgiram os primeiros indícios de rachadinha envolvendo Fabrício Queiroz e o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ).

Possível afastamento e críticas na Câmara

Uma fonte com trânsito na Câmara dos Vereadores revelou ao UOL que o envolvimento do nome de Jairinho no caso Henry provoca grande incômodo entre os vereadores.

No atual estágio da apuração policial, Jairinho não é considerado investigado pela morte da criança. Mas, caso isso ocorra, um grupo de vereadores cogita pedir ao Conselho de Ética a suspensão de seu mandato.

Dr. Jairinho é vereador desde 2004, quando foi eleito aos 26 anos por influência do pai —que já era deputado estadual àquela altura.

Líder do governo Crivella na Câmara, o vereador é dono de trajetória discreta no Legislativo carioca. Apesar de ocupar o posto, ele mudou de lado na eleição do ano passado e acabou trabalhando a favor da campanha de Eduardo Paes (DEM), que derrotou Crivella no segundo turno.

Formado em Medicina, Dr. Jairinho não é tido como um político afeito a confrontos. Contudo, assessores parlamentares que acompanham a rotina da Câmara indicam que ele tem o trabalho criticado por colegas por falta de aprofundamento em matérias importantes.

Jairinho tem por hábito assinar a coautoria de projetos de lei com diversos colegas. Entre as medidas feitas por iniciativa exclusiva dele, estão projetos curiosos, como o tombamento da sede do Céres Futebol Clube —time de Bangu que disputa divisões inferiores do futebol carioca. O presidente da equipe é justamente Coronel Jairo, pai do vereador.

Ele também foi um dos responsáveis por dar status de bairro à região boêmia da Lapa, no centro do Rio. Jairinho também foi o responsável por criar o benefício de licença maternidade e paternidade para servidores públicos que adotem crianças.