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Josias: 'Silêncio de Pazuello soa como confissão de culpa na CPI'

Do UOL, em São Paulo

14/05/2021 08h26Atualizada em 14/05/2021 10h08

O colunista de política do UOL Josias de Souza disse hoje que o silêncio do ex-ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello, na CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da Covid é uma "confissão de culpa". A AGU (Advocacia-Geral da União) acionou ontem o STF (Supremo Tribunal Federal) para que Pazuello possa ficar em silêncio durante o seu depoimento.

"O silêncio do general vai soar na CPI como uma confissão de culpa, considerando que Pazuello comandou o Ministério da Saúde na base de um manda e o outro obedece. Um general calado vai confessar não apenas as suas culpas, mas as culpas do presidente Jair Bolsonaro", afirmou ele em entrevista ao UOL News.

O depoimento de Pazuello está marcado para o próximo dia 19, às 10h. A CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) investiga ações e eventuais omissões do governo federal em meio à pandemia, além de fiscalizar recursos da União repassados a estados e municípios. Pazuello é apontado como o principal alvo.

Se o homem de Neandertal desconfiasse que o resultado da evolução seria a produção de Bolsonaros e Pazuellos, talvez ele não tivesse saído da caverna".
Josias de Souza, colunista do UOL

O colunista ainda explica porque Pazuello quer depor na condição de investigado. "Ele foi convocado como testemunha, quando chegar na CPI, antes de pronunciar qualquer frase, ele assume o compromisso de dizer a verdade. Se ele vai como investigado, tem o direito de silenciar para não se autoincriminar. Olha que absurdo", comenta. "Se ele for tratado como investigado, se pressupõe que tem algo a esconder".

No último dia 4, Pazuello havia alegado aos parlamentares que não poderia comparecer presencialmente à CPI sob a justificativa de que assessores próximos haviam se contaminado com a covid-19. O seu depoimento —que estava marcado para o dia posterior— então foi remarcado para o próximo dia 19.

Esta é a primeira vez que a AGU desloca uma equipe para orientar o depoimento de um ex-ministro, conforme apurou o jornal "O Estado de S. Paulo" com servidores do órgão e quatro ex-titulares da pasta.

Ontem, um advogado do Rio de Janeiro também entrou com um habeas corpus no STF para que Pazuello possa ficar em silêncio durante seu depoimento à CPI da Covid —o autor do documento, o advogado Rafael Mendes de Castro Alves, não representa o ex-ministro. No STF, no entanto, os HCs apresentados por pessoas alheias à defesa costumam ter dois caminhos: o relator arquiva o caso ou pergunta ao paciente (no caso, Pazuello) se deseja ser representado por aquele pedido.

Ao UOL News, Josias também criticou uma fala de ontem de Bolsonaro. Em live transmitida pelas redes sociais, o presidente volta a repetir que não poderia ter assinado contrato com a Pfizer nas primeiras negociações, que começaram em março.

Segundo Bolsonaro, o governo federal "tinha um impedimento" e não poderia comprar uma vacina "em teste" sem aprovação da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).

"Se formos aplicar o raciocínio de Bolsonaro, perde o nexo porque o Ministério da Saúde firmou acordo de compra com a Sputnik e não há vestígio de autorização da Anvisa. Ao contrário, a agência desaprovou a compra. O governo comprou também há Covaxin e não há autorização da Anvisa".

Bolsonaro só foi comprar da Pfizer lá na frente quando começou a ficar constrangido porque começaram a vacinar fora do país".
Josias de Souza, colunista do UOL

A CPI da Covid foi criada no Senado após determinação do Supremo. A comissão, formada por 11 senadores (maioria era independente ou de oposição), investigou ações e omissões do governo Bolsonaro na pandemia do coronavírus e repasses federais a estados e municípios. Teve duração de seis meses. Seu relatório final foi enviado ao Ministério Público para eventuais criminalizações.