Com a morte de Bruno Covas (PSDB), tanto o PSDB quanto o chamado centro democrático perdem uma liderança promissora num período turbulento do país.
Um dos aspectos de Covas mais ressaltados por correligionários e amigos após sua morte foi a moderação adotada ao longo da trajetória política, que se encerra em seu auge à frente da Prefeitura de São Paulo.
Covas se posicionava contra o governo federal de Jair Bolsonaro (sem partido) no enfrentamento à pandemia - era a favor de medidas restritivas de circulação de pessoas, quando necessário, e estimulava a vacinação contra a covid-19 -, mas sem estridência ou brigas nas redes sociais, por exemplo.
O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), que tinha Covas como vice quando prefeito da capital paulista, afirmou que ele era "sensível, sereno, correto, racional, pragmático e ponderado", além de "esperança".
Entre os políticos do PSDB, o entendimento é de que o partido perdeu um "grande quadro político", como afirmou o ex-presidente da República tucano Fernando Henrique Cardoso.
O atual presidente do PSDB, Bruno Araújo, considerou que o partido "perdeu uma de suas mais promissoras e brilhantes lideranças" e que Covas deixa a certeza de que "é possível fazer política sem ódio, fazer política falando a verdade".
Para Rodrigo de Castro (MG), líder do PSDB na Câmara dos Deputados, a "partida prematura interrompe uma promissora trajetória e sua gestão à frente da Prefeitura o credenciava a desafios maiores".
Tucanos em disputas internas
O PSDB vive disputas internas intensas entre alas partidárias relacionadas ao projeto político de João Doria para as eleições de 2022 e, atualmente, não tem mais a mesma força na política nacional de outrora.
O hoje deputado federal Aécio Neves (PSDB-MG) era visto como uma das principais lideranças do partido até pouco depois do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), em 2016.
Mas, desde que seu nome foi implicado em escândalos de suposto envolvimento em corrupção e desde a chegada de Jair Bolsonaro ao Palácio do Planalto, com uma direita mais proeminente, o mineiro passou a atuar de forma discreta perante o grande público.
Em ascensão, Covas era percebido como uma opção de renovação do PSDB, com reforço ao perfil social-democrático da sigla e ao combate ao autoritarismo. Era percebido, inclusive, como bom nome na articulação do centro democrático, que busca se viabilizar como uma terceira via entre Bolsonaro e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Terceira via sem rumo
Pré-candidatos não faltam nesses tempos de polarização política e de pandemia, mas, até o momento, essa terceira via não despontou com um nome realmente viável para as eleições do ano que vem.
Hoje, outra liderança promissora do PSDB é o atual governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite. No entanto, seu nome ainda não conta com um grande alcance nacional.
Ex-presidente do PSDB e ex-senador, José Aníbal, afirmou que Covas era o tipo de político de que o Brasil precisa por não enxergar a política como uma guerra.
"Um político para trazer a discussão das políticas públicas. Hoje, essas brigas que existem servem a quê? Não servem para produzir vacina ou para aumentar a quantidade de respiradores nas UTIs. Só servem para tensionar o país. Precisamos de busca por soluções", disse à CNN.
Aloysio Nunes, ex-ministro das Relações Exteriores e ex-senador do PSDB, também em entrevista à CNN, concordou com a avaliação de Aníbal e elogiou a postura de Bruno Covas na disputa travada com Guilherme Boulos (PSOL) no segundo turno das eleições municipais de São Paulo em 2020.
"Bruno Covas via a política como uma forma nobre de relacionamento humano. Não apenas com objetivo meramente eleitoral, mas para fazer alguma coisa pela sociedade", disse. "Ele aliava política prática com militância e valores nítidos da democracia. De direitos humanos, de diversidade. São fatores que fazem falta hoje na política brasileira", completou.
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