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Cartas, oferta ignorada e pressão por cloroquina: veja 6 revelações de CPI

Senadores Randolfe Rodrigues,Omar Aziz e Renan Calheiros durante sessão de abertura da CPI da Covid  - Edilson Rodrigues/Agência Senado
Senadores Randolfe Rodrigues,Omar Aziz e Renan Calheiros durante sessão de abertura da CPI da Covid Imagem: Edilson Rodrigues/Agência Senado

Luciana Amaral

Do UOL, em Brasília

18/05/2021 04h00

A CPI da Covid já recebeu seis autoridades em depoimentos em suas três semanas de existência. Nas falas, foram revelados seis pontos relevantes envolvendo o governo de Jair Bolsonaro (sem partido) ao longo da pandemia do novo coronavírus.

Veja a seguir as principais revelações da CPI da Covid até o momento:

Pfizer teve ofertas ignoradas

O gerente-geral da Pfizer na América Latina, Carlos Murillo, revelou que a farmacêutica teve três ofertas de vacinas contra a covid-19 ignoradas pelo governo brasileiro em agosto do ano passado. De acordo com Carlos Murillo, a Pfizer não recebeu respostas.

Em novembro, outras duas ofertas foram feitas, sem se chegar a um acordo. Em fevereiro, mais uma. No final de janeiro, o governo alegou haver "cláusulas leoninas" nas condições pedidas pela Pfizer. A oferta aceita pelo governo acabou sendo de março deste ano, informou Carlos Murillo.

Cartas enviadas ao presidente Bolsonaro

O executivo da Pfizer também afirmou que a farmacêutica enviou, em 12 de setembro de 2020, uma carta ao presidente Jair Bolsonaro, além de outras autoridades, com o objetivo de acelerar a negociação dos imunizantes.

Assinada pelo presidente mundial da companhia, Albert Bourla, a carta ficou dois meses sem resposta, segundo Murillo, assim como relatou o ex-secretário de Comunicação da Presidência Fabio Wajngarten, um dia antes.

Outra carta enviada a Bolsonaro revelada na CPI da Covid foi a do ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta, quando ainda no cargo. Segundo Mandetta, no documento enviado em 28 março de 2020 ele aconselhava que a Presidência da República revisse seu posicionamento perante o tratamento da pandemia, e deu algumas recomendações que poderiam ajudar a conter o avanço da covid-19 no Brasil.

Discussão sobre mudança na bula da cloroquina

Mandetta e o diretor-presidente da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), Antonio Barra Torres, informaram que, em uma reunião no Palácio do Planalto, foi levantada a possibilidade de se mudar a bula da cloroquina para que seu uso para o tratamento da covid-19, sem comprovação científica, constasse no papel.

Segundo o ex-ministro, a proposta estava em papel não timbrado e sem identificação, apenas com uma minuta que sugeria a mudança na bula do medicamento. Mandetta disse que o próprio presidente da Anvisa negou o pedido de modificação, o que foi confirmado por este ao depor. A autoria da ideia permanece desconhecida, mas Barra Torres disse que a imunologista Nise Yamaguchi parecia "mobilizada".

Falta de autonomia e assessoramento paralelo

Assim como Mandetta, o ex-ministro da Saúde Nelson Teich indicou que não tinha autonomia suficiente à frente da pasta. Este foi um dos motivos, inclusive, que o levaram a pedir demissão, especialmente devido a divergências quanto à cloroquina, afirmou.

Mandetta afirmou que alertou Bolsonaro e outros ministros sobre a necessidade de políticas de isolamento social, mas que houve discordâncias. Segundo ele, se percebia que havia, por parte do presidente, "outro caminho a tomar", sem que houvesse um assessoramento do Ministério da Saúde naquele sentido.

O ex-ministro afirmou que o presidente contava com um aconselhamento paralelo constante, com a participação de assessores de fora do Ministério da Saúde. Wajngarten disse que Bolsonaro recebia informações equivocadas, mas não citou nomes.

Produção de cloroquina sem ordens de Mandetta e Teich

Mandetta afirmou que o estímulo ao aumento da produção de cloroquina pelo Exército não partiu do Ministério da Saúde.

Segundo ele, a determinação foi feita "à margem" da pasta. Teich foi na mesma linha: "Se aconteceu alguma coisa, foi fora do meu conhecimento".

Presença de Carlos Bolsonaro em reuniões

Mandetta disse que o vereador carioca Carlos Bolsonaro esteve em diversas reuniões sobre a pandemia tomando notas. Fabio Wajngarten afirmou nunca ter sido próximo de Carlos. "Nunca tive intimidade com ele, nunca tive relação qualquer com ele."

No entanto, Carlos Murillo declarou que o filho "02" do presidente participou de uma reunião de representantes da farmacêutica com integrantes do governo no Planalto, o que foi visto como indicação de certa convivência de Wajngarten com Carlos Bolsonaro por parte de senadores.

"Após aproximadamente uma hora da reunião, Fabio [Wajngarten] recebe uma ligação, sai da sala e retorna para a reunião. Minutos depois, entram na sala de reunião: Filipe Garcia Martins, Assessoria Internacional da Presidência da República, Carlos Bolsonaro", relatou.

Segundo o executivo, Wajngarten explicou a Filipe Martins e a Carlos Bolsonaro os esclarecimentos prestados pela Pfizer até então no encontro. "Carlos ficou brevemente na reunião e saiu da sala. Foi encerrada logo na sequência, e as representantes da Pfizer saíram do Palácio do Planalto", disse.

A CPI da Covid foi criada no Senado após determinação do Supremo. A comissão, formada por 11 senadores (maioria era independente ou de oposição), investigou ações e omissões do governo Bolsonaro na pandemia do coronavírus e repasses federais a estados e municípios. Teve duração de seis meses. Seu relatório final foi enviado ao Ministério Público para eventuais criminalizações.