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Pazuello pode sair da CPI com lema: um manda, o outro se lasca, diz Josias

19/05/2021 09h54Atualizada em 19/05/2021 11h12

O colunista do UOL Josias de Souza disse que o ex-ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello, pode sair da CPI da Covid com um novo lema: um manda, o outro se lasca. Em outubro do ano passado, o então ministro disse que "um manda, o outro obedece" após ser desautorizado publicamente pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) na crise da compra da vacina CoronaVac.

Pazuello presta depoimento hoje na CPI, que investiga ações e omissões do governo federal durante a pandemia. Ele estará na condição de investigado, que garante o direito de ficar em silêncio em caso de questionamentos que possam, de alguma forma, incriminá-lo.

"O governo entrou em um processo de autofagia na CPI da Covid. O Pazuello foi mastigado pelo ex-secretário de comunicação Fabio Wajngarten, que disse que o governo demorou a comprar vacina da Pfizer por incompetência do Ministério da Saúde. Mordido pelo ex-chanceler Ernesto Araújo que acaba de jogar no colo do Pazuello a compra de cloroquina na Índia e a opção por adquirir uma quantidade mínima de vacinas no consórcio da OMS (Organização Mundial da Saúde), Covax Facility".

Ele continuou: "Tudo isso e mais a notícia do Jornal Nacional de que um coronel da reserva, acomodado pelo Pazuello no comando da superintendência do Ministério da Saúde no Rio de Janeiro, tentou pendurar na conta da pandemia contratos sem licitação para reformar prédios no Rio de Janeiro, nada a ver com hospitais e doentes. Usar dinheiro da pandemia para reformar prédios".

Ou Pazuello esclarece o que o chefe mandou e ele obedeceu ou ele pode sair da CPI acorrentado a um novo lema: um manda, o outro se lasca".
Josias de Souza, colunista do UOL

O colunista ainda ressaltou que o advogado de Pazuello disse que o ex-ministro responderá a "tudo".

"Se ele opta por silenciar, ele fica numa posição constrangedora. Os senadores farão as perguntas e ficará implícito que ele está escondendo algo", disse Josias. "Mais constrangedor do que as perguntas são as respostas não fornecidas. O general tem esse dilema, tem que administrar muito bem o seu silêncio".

O habeas corpus concedido pelo STF (Supremo Tribunal Federal) ao ex-ministro, que o permite silenciar, proíbe Pazuello de mentir ou de se negar a prestar esclarecimentos de forma objetiva sobre eventuais erros cometidos pelo governo Bolsonaro, por ação ou omissão, no enfrentamento à crise sanitária do coronavírus.

O ex-ministro também está obrigado a explicar detalhes sobre declarações e manifestações públicas que ocorreram no período em que comandou o Ministério da Saúde (maio de 2020 a março de 2021).

A presença de Pazuello na CPI da Covid, no Senado Federal, é a mais aguardada pelos senadores da CPI, em especial pelos que formam o bloco de oposição ao governo. O depoimento estava originalmente marcado para o início de maio, mas foi adiado porque o militar disse ter tido contato com pessoas infectadas pelo coronavírus e, portanto, deveria ficar em isolamento.

A expectativa de parlamentares é que será uma audiência marcada por um nível elevado de tensão e acirramento.

Articuladores do Palácio do Planalto e congressistas que fazem parte da ala de apoio a Bolsonaro têm buscado formas de blindagem para proteger Pazuello — e, consequentemente, os interesses do Executivo. Eles avaliam que o depoimento do general tem um potencial explosivo dentro do contexto da CPI e pode revelar elementos que resultem em atribuição de culpa ao presidente em razão de erros na gestão da pandemia.

A CPI da Covid foi criada no Senado após determinação do Supremo. A comissão, formada por 11 senadores (maioria era independente ou de oposição), investigou ações e omissões do governo Bolsonaro na pandemia do coronavírus e repasses federais a estados e municípios. Teve duração de seis meses. Seu relatório final foi enviado ao Ministério Público para eventuais criminalizações.