Topo

Esse conteúdo é antigo

Josias: Governo não debateu contrato da Pfizer porque era contra vacina

Do UOL, em São Paulo

19/05/2021 12h03Atualizada em 19/05/2021 12h57

O colunista do UOL Josias de Souza declarou hoje, durante o UOL News, que o governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) era contra vacinas e que, por isso, teria recusado três vezes a compra de doses de vacina da Pfizer contra a covid-19 — como apontado pelo CEO da Pfizer na América Latina, Carlos Murillo, na CPI da Covid no dia 13.

O que é frágil na posição do governo é que o governo foi contra a vacina. Esse é o ponto. Então, agora ele [Pazuello] está explicando que a da Pfizer é complicado, que isso, que aquilo. Certamente repetirá aqui que só deu para assinar [o contrato de compra] quando tinha autorização da Anvisa, o que é mentira.
Josias de Souza no UOL News

Segundo Josias, o assunto da compra de vacinas da Pfizer "não foi debatido adequadamente" e, se o governo tivesse priorizado a compra de diferentes vacinas por parte dos laboratórios, o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello, que depõe hoje na CPI da Covid, não estaria alegando que as cláusulas do contrato firmado à época eram "assustadoras".

"O presidente Bolsonaro, desde a origem, desmereceu a vacina. Encrencou com a CoronaVac, [disse] que era a 'vachina chinesa do Doria'. Disse, na origem, que não compraria a vacina da Pfizer, nem que tivesse registro compraria, disse que iria virar jacaré", declarou Josias sobre a declaração do presidente em 17 de dezembro do ano passado.

O colunista ainda destacou que a prioridade do governo era a aposta na cloroquina — medicação sem comprovação científica — para combater a covid-19 no território brasileiro.

"É preciso deixar muito claro aqui. A vacina não era uma prioridade do governo. O governo fez uma aposta na cloroquina. O presidente conspirou contra a vacina, defendeu a não obrigatoriedade da vacinação no Supremo Tribunal Federal, defendeu formalmente. Não prevaleceu no Supremo, mas ele defendeu."

A gestão de Pazuello durou entre 16 de maio de 2020 e 23 de março de 2021. O ex-ministro deve ser questionado ao longo do dia principalmente em relação ao agravamento da crise sanitária no Amazonas e a falta de oxigênio para os pacientes internados.

Falta de transparência

O colunista do UOL Leonardo Sakamoto corroborou com a opinião de Josias e afirmou que o governo jogou as tratativas da compra de vacinas de diferentes laboratórios "para debaixo do tapete".

Quando começaram as tratativas [da compra da vacina] não houve transparência nenhuma por parte do governo Bolsonaro, por parte de Eduardo Pazuello. Isso foi jogado para debaixo do tapete, jogado no fundo de uma gaveta, ou tratado de uma forma sigilosa. O máximo que a população tinha era o presidente da República dizendo 'olha, vai nascer mulher barbarda', 'as pessoas vão ficar jacaré, vão virar super-homem'. Por que o governo simplesmente jogou para debaixo do tapete?"
Leonardo Sakamoto no UOL News

Para Sakamoto, a recusa para a compra de vacinas mostra um completo "desprezo" do governo com a imunização da população brasileira contra a covid-19, que já matou quase 440 mil pessoas no país.

"E esse é o ponto principal. Não é uma questão simplesmente de contrata aqui, ali. Era que o governo não queria comprar vacina, o governo desprezava vacina."

A CPI da Covid foi criada no Senado após determinação do Supremo. A comissão, formada por 11 senadores (maioria era independente ou de oposição), investigou ações e omissões do governo Bolsonaro na pandemia do coronavírus e repasses federais a estados e municípios. Teve duração de seis meses. Seu relatório final foi enviado ao Ministério Público para eventuais criminalizações.