Esquerda marca atos contra Bolsonaro e racha por críticas e vitrine a Lula
Sem consenso político e dividida quanto à necessidade de promover atos em meio à pandemia, parte da esquerda prepara protestos contra o governo de Jair Bolsonaro (sem partido) com a aposta em cuidados nas ruas para não dar brecha às mesmas críticas que faz ao presidente, especialmente após a "motociata" neste domingo (23) no Rio de Janeiro.
Para quarta (26), centrais sindicais planejam ato em frente ao Congresso Nacional contra a gestão de Bolsonaro no enfrentamento à pandemia e a favor do auxílio emergencial de R$ 600. As entidades também querem entregar uma sugestão de agenda legislativa aos presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG).
O protesto será presencial, mas, segundo os organizadores, contará com distanciamento social, distribuição de máscaras e medição de temperatura, por exemplo. O presidente da CSB (Central dos Sindicatos Brasileiros), Antonio Neto, afirma que o número de pessoas por central também será limitado para não haver aglomeração. Haverá ainda transmissão online na internet.
O evento tem o apoio de CSB, CUT (Central Única dos Trabalhadores), Força Sindical, UGT (União Geral dos Trabalhadores), CTB (Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil), Nova Central, Intersindical, Pública, CSP-Conlutas, CGTB (Central Geral dos Trabalhadores do Brasil), Contag (Confederação Nacional dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares) e MST (Movimento Sem Terra), junto às frentes Brasil Popular e Povo sem Medo.
Na avaliação de Neto, a oposição precisa "começar a mostrar a cara também", mas sem incorrer nos mesmos erros de Bolsonaro, que tem participado de atos com aglomerações e sem o uso de máscara. Essas medidas vão na contramão do que é recomendado por especialistas para conter a propagação do novo coronavírus.
"Vamos ter que ter a responsabilidade de mostrar que é possível fazer um ato respeitando efetivamente todos esses protocolos que estamos denunciando a cada momento que ele [Bolsonaro] faz", disse.
Frentes e movimentos sociais organizam outras manifestações contra o governo Bolsonaro para sábado (29) em diversas cidades brasileiras. Pedirão o impeachment do presidente, vacinação mais rápida contra a covid-19 e medidas de proteção social.
A ação conta com o suporte do coordenador do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto) e da frente Povo sem Medo, Guilherme Boulos (PSOL).
Para uma ala da esquerda, não é possível esperar mais para se posicionar incisivamente nas ruas contra o governo apesar de o país poder estar na iminência de uma terceira onda de infecções pelo novo coronavírus.
Para um líder do PT, ouvido sob reserva, há uma tensão muito grande com pessoas passando fome e ficando desempregadas. E isso acaba por pressionar os líderes populares a "colocar a boca no trombone".
Ainda assim, o parlamentar reconhece que, dentro da própria base, há pessoas em dúvida se devem ir aos atos por temerem se infectar. Há quem acredite ser cedo para passeatas e haver o risco de mau exemplo com eventuais aglomerações. Seria considerado uma incoerência entre discurso e prática.
Fora o receio da propagação da covid-19, parte da esquerda entende esses movimentos como uma pressão do PT e de apoiadores para consolidar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) como o candidato da oposição na eleição presidencial de 2022, avalia um deputado do PSB, que preferiu não se identificar.
Parte dos integrantes do PSB investe na possibilidade de uma terceira via entre Lula e Bolsonaro e não acredita que devam já encampar o nome do petista para o próximo pleito. A tendência é de não irem e não incentivarem a convocação.
Além disso, há a avaliação de que os próximos protestos possam ser interpretados apenas como uma resposta à "motociata" de Bolsonaro e haver o risco de a esquerda parecer mais "fraca" do que a base fiel do presidente da República ao promover atos com espaços vazios —por causa do distanciamento social—, em contraponto às imagens com aglomerações dos eventos pró-governo.
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