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Protesto toma avenida Paulista por impeachment de Jair Bolsonaro

Leonardo Martins e José Dacau

Do UOL, em São Paulo

29/05/2021 16h36Atualizada em 29/05/2021 20h48

Com adesão de milhares de pessoas, o ato contra o governo Jair Bolsonaro bloqueou os dois sentidos da avenida Paulista e ao menos sete quarteirões da via foram tomados por manifestantes na tarde de hoje. A tônica do ato foi a defesa do impeachment do presidente e críticas à sua gestão durante a pandemia —o Brasil superou hoje a marca de 460 mil mortos por covid-19.

O protesto em São Paulo —que também aconteceu em ao menos 22 estados e no Distrito Federal— virou uma grande aglomeração, frustrando orientações de distanciamento social. A adesão ao uso de máscaras foi contudo massiva. Pouco depois das 18h, manifestantes desceram a rua da Consolação e, às 19h45, o protesto foi encerrado na altura da Praça Roosevelt sem a ocorrência de incidentes.

Boulos defende impeachment de Bolsonaro

O candidato derrotado do PSOL à Prefeitura de São Paulo Guilherme Boulos fez um discurso duro na Paulista. Ele pediu o impeachment do presidente, chamou Bolsonaro de "verme" e defendeu as pessoas que decidiram ficar em casa e não ir ao ato.

"Chegou a hora de a gente dar um basta, tirar o Bolsonaro do governo porque nós não vamos esperar sentados até 2022. Não vamos esperar ver nosso povo morrendo, sangrando. Vamos seguir até derrubar o genocida Jair Bolsonaro", disse Boulos.

O foco da grande maioria dos manifestantes foi o impeachment de Bolsonaro. Um grupo de samba em um carro de som cantou músicas pedindo a saída do mandatário. "Ele não dá mais. Fora Bolsonaro. A gente aqui quer viver", dizia a letra.

"Mesmo com medo da aglomeração que poderia ocorrer, nós viemos. Tudo por causa do descaso do governo que fica fazendo piada de tudo o que está acontecendo. E porque o outro lado [apoiadores do presidente] está fazendo protesto", justificou a auxiliar de marketing Fabiana Rodrigues ao ser questionada sobre o que a levou à manifestação.

"Está valendo a pena participar, mesmo com aglomeração porque a população já fica aglomerada todos os dias no transporte público", disse o autônomo André Abílio.

Cartazes também zombavam do general Eduardo Pazuello, ex-ministro da Saúde. Um grupo montou um boneco do ministro com um cartaz escrito General Pesadelo.

O boneco inflável que ironiza Bolsonaro, batizado de Capitão Cloroquino, foi erguido por integrantes do movimento Fora Bolsonaro/Acredito e virou atração no protesto.

As organizações estudantis UNE, Ubes e UJS e a frente Povo Sem Medo estavam à frente do ato. Aos gritos de "Fora Bolsonaro, genocida", estudantes sustentaram cadeiras sobre as cabeças reivindicando mais verba para educação.

Ato sem distanciamento social e uso massivo de máscaras

A cada intervalo entre discursos de lideranças no carro de som, os organizadores pediram para as pessoas se distanciarem, ajustarem a máscara e não colocarem as mãos nos olhos. No entanto, ao longo de quarteirões próximos do Masp não houve distanciamento social.

A Polícia Militar —que acompanhou a manifestação— não divulgou estimativa de público.

As manifestações deste sábado (29) foram alvo de críticas de políticos, inclusive da esquerda, em razão do risco de aglomeração. Em discurso na Paulista, a presidente nacional do PT e deputada federal, Gleisi Hoffmann (PR), defendeu a presença no ato e atacou Bolsonaro.

"Nós sabemos a crise que estamos vivendo, a situação crítica da pandemia. Está certo quem está aqui fazendo esse ato. Como também estão certos os companheiros e companheiras que não quiseram ou não puderam vir, mas estão nas suas casas mas redes sociais e janelas. Errado está Jair Bolsonaro."

Distribuição de máscaras

A UNE organizou tendas de distribuição de máscaras PFF2, álcool em gel e instruções para evitar contaminações no protesto. No microfone, organizadores instruíam as pessoas a trocar máscaras de pano por modelos mais seguros, como a PFF2.

O vão do Masp estava fechado pela PM de São Paulo, mas foi aberto pelos manifestantes assim que uma forte chuva caiu na Paulista.

"É uma virada no momento para a oposição ao Bolsonaro. Fizemos movimentos sociais porque sentimos esse clamor da população. As pessoas mantiveram as máscaras em outros atos e aqui não será diferente", disse o presidente da UNE, Iago Montalvão.

OAB e ouvidor da polícia

A manifestação foi acompanhada por representantes da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), que mediaram a relação entre a PM e os líderes manifestantes.

"Nosso objetivo é mediar, não fazemos parte da manifestação nem da força pública. Queremos evitar prisões, conflitos, a gente já aparece pra tentar abaixar a pressão", disse o advogado Arnóbio Rocha, da comissão de Direitos Humanos da OAB.

O ouvidor das Polícias de São Paulo, Eliseu Soares Lopes, também acompanhou a manifestação.

"No ano passado, pactuamos com a Secretaria da Segurança Pública de fazer uma mediação para que todas as manifestações fossem pacíficas. Os organizadores da manifestação estão organizados e combinaram a manifestação pacífica. Querem defender seu ponto de vista, é democrático", disse.