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Bolsonaro chama CPI de tribunal de exceção por tratamento a Nise Yamaguchi

O presidente Jair Bolsonaro criticou CPI por tratamento a Nise Yamaguchi pela CPI - Pedro Ladeira/Folhapress
O presidente Jair Bolsonaro criticou CPI por tratamento a Nise Yamaguchi pela CPI Imagem: Pedro Ladeira/Folhapress

Fábio Castanho e Lucas Valença

Do UOL, em São Paulo e em Brasília

02/06/2021 08h55Atualizada em 02/06/2021 11h07

O presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), criticou o tratamento de integrantes da CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da Covid à médica Nise Yamaguchi, que depôs ontem no colegiado, e chamou de "covarde" a atitude de alguns senadores. Na opinião do presidente, a médica participou de "um tribunal de exceção".

"Viram o que a CPI fez com a Nise Yamaguchi ontem? Isso é uma covardia. A Mayra Pinheiro (conhecida como 'Capitã Cloroquina') entrou com uma ação contra eles. Agora, quando vai (depor) gente suspeita, eles tratam muito bem, até defendem", afirmou o presidente a apoiadores em frente ao Palácio da Alvorada.

Segundo o presidente, o relator "já falou" que o colegiado não irá apurar desvio de recursos federais nos estados e municípios do país. Recentemente, porém, a CPI chegou a convocar nove governadores a prestarem esclarecimentos ao Senado. "Só quem sabe e quem conhece Omar Aziz e Renan Calheiros não precisam falar mais nada", ironizou.

Pelo Twitter, Bolsonaro prestou solidariedade à médica. Segundo ele, Nise participou de "um verdadeiro tribunal de exceção". "É inadmissível que profissionais de saúde sejam tratados de forma tão covarde!", escreveu.

Ontem, durante depoimento como convidada, Nise Yamaguchi usou expressão parecida ao dizer que se sentia "agredida" em ser vista como participante de um "gabinete de exceção". A médica imunologista se referiu às referências do colegiado a um "gabinete paralelo" de aconselhamentos ao presidente sobre como a condução das ações de enfrentamento da pandemia deveriam ser adotadas.

Na postagem, Bolsonaro ainda repetiu seu discurso a favor de autonomia médica, sem mencionar que estudos mostram que remédios defendidos como 'tratamento precoce' por ele, como a hidroxicloroquina, não têm eficácia contra a covid-19. Ele ainda voltou a acusar a CPI de ter como objetivo o ataque ao governo federal.

"É preciso respeitar a autoridade e a autonomia médica. Médicos devem ter liberdade para salvar vidas e isso vem sendo ameaçado por um grupo político que atua visando somente atacar o Governo enquanto nega investigar desvios de recursos para o combate à pandemia", completou.

Na noite de ontem, Bolsonaro já havia criticado a CPI, atacando principalmente o senador Renan Calheiros (MDB-AL), relator da comissão que investiga ações do governo federal em meio à crise sanitária.

"Hoje estava a Nise Yamaguchi, estudiosa no assunto [pandemia da covid-19]. Está sendo humilhada. Uma covardia. Um cara com 17 inquéritos, PHD em corrupção. Ficaram tentando fazer o quê? Olha que ridículo!", protestou Bolsonaro, durante conversa com apoiadores em frente ao Palácio da Alvorada, em Brasília.

Nise Yamaguchi é defensora da hidroxicloroquina

Nise Yamaguchi, de 62 anos, é uma das principais defensoras da hidroxicloroquina, mesmo que pesquisas já tenham demonstrado que essas substâncias, usadas normalmente contra lúpus, malária e artrite reumatoide, não funcionam contra para a covid-19. Em alguns casos, elas podem fazer mal à saúde.

A médica discorda disso. Afirma que já tratou muitos pacientes com esses remédios e diz que as pesquisas que apontam sua ineficácia estão erradas.

Ela foi convidada para depor à comissão depois de seu nome ter sido citado pelo presidente da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), Antônio Barra Torres, em seu depoimento aos senadores.

Nise Yamaguchi foi interrompida inúmeras vezes por parlamentares ao longo das cerca de oito horas de depoimento na CPI, o que gerou revolta em internautas nas redes sociais, dentre eles, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente Bolsonaro.

A CPI da Covid foi criada no Senado após determinação do Supremo. A comissão, formada por 11 senadores (maioria era independente ou de oposição), investigou ações e omissões do governo Bolsonaro na pandemia do coronavírus e repasses federais a estados e municípios. Teve duração de seis meses. Seu relatório final foi enviado ao Ministério Público para eventuais criminalizações.