Bolsonaro chama CPI de tribunal de exceção por tratamento a Nise Yamaguchi
O presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), criticou o tratamento de integrantes da CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da Covid à médica Nise Yamaguchi, que depôs ontem no colegiado, e chamou de "covarde" a atitude de alguns senadores. Na opinião do presidente, a médica participou de "um tribunal de exceção".
"Viram o que a CPI fez com a Nise Yamaguchi ontem? Isso é uma covardia. A Mayra Pinheiro (conhecida como 'Capitã Cloroquina') entrou com uma ação contra eles. Agora, quando vai (depor) gente suspeita, eles tratam muito bem, até defendem", afirmou o presidente a apoiadores em frente ao Palácio da Alvorada.
Segundo o presidente, o relator "já falou" que o colegiado não irá apurar desvio de recursos federais nos estados e municípios do país. Recentemente, porém, a CPI chegou a convocar nove governadores a prestarem esclarecimentos ao Senado. "Só quem sabe e quem conhece Omar Aziz e Renan Calheiros não precisam falar mais nada", ironizou.
Pelo Twitter, Bolsonaro prestou solidariedade à médica. Segundo ele, Nise participou de "um verdadeiro tribunal de exceção". "É inadmissível que profissionais de saúde sejam tratados de forma tão covarde!", escreveu.
Ontem, durante depoimento como convidada, Nise Yamaguchi usou expressão parecida ao dizer que se sentia "agredida" em ser vista como participante de um "gabinete de exceção". A médica imunologista se referiu às referências do colegiado a um "gabinete paralelo" de aconselhamentos ao presidente sobre como a condução das ações de enfrentamento da pandemia deveriam ser adotadas.
Na postagem, Bolsonaro ainda repetiu seu discurso a favor de autonomia médica, sem mencionar que estudos mostram que remédios defendidos como 'tratamento precoce' por ele, como a hidroxicloroquina, não têm eficácia contra a covid-19. Ele ainda voltou a acusar a CPI de ter como objetivo o ataque ao governo federal.
"É preciso respeitar a autoridade e a autonomia médica. Médicos devem ter liberdade para salvar vidas e isso vem sendo ameaçado por um grupo político que atua visando somente atacar o Governo enquanto nega investigar desvios de recursos para o combate à pandemia", completou.
A CPI da Covid foi criada no Senado após determinação do Supremo. A comissão, formada por 11 senadores (maioria era independente ou de oposição), investigou ações e omissões do governo Bolsonaro na pandemia do coronavírus e repasses federais a estados e municípios. Teve duração de seis meses. Seu relatório final foi enviado ao Ministério Público para eventuais criminalizações.
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