'Motociata' de Bolsonaro reúne milhares em SP e tem coro contra Doria
A "motociata" hoje em apoio ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido) em São Paulo registra aglomeração e desrespeito a medidas contra a pandemia do novo coronavírus. Sem usar máscara desde o início, Bolsonaro foi multado pelo governo paulista. Ao longo do ato, ele e os apoiadores xingaram o governador paulista, João Doria (PSDB).
O evento, que reuniu 12 mil motos, segundo a Secretaria Estadual de Segurança, também foi marcado pela aproximação de Bolsonaro com policiais militares —houve troca de abraços e registro de fotos—, além de um acidente entre motos.
Ao final do passeio de moto, o presidente fez um discurso com ataques à Doria e à ciência, mais uma vez criticando medidas de prevenção à pandemia. Bolsonaro voltou a defender um falso tratamento contra covid-19, além de se colocar contra o uso de máscaras.
Sem máscara
Bolsonaro chegou ao ponto inicial da motociata pelas ruas de São Paulo por volta das 9h45 gerando aglomeração junto a apoiadores —a maioria também não utilizava máscara.
Pouco depois, em vídeo transmitido pelas redes sociais do presidente, Bolsonaro apareceu dialogando com policiais militares. O presidente abraçou um deles, que, segundo Bolsonaro, seria "quem mandava nessa bagunça". Eles tiraram uma foto. Outros policiais também registraram a chegada do presidente com seus celulares.
Em nota, a PM disse que, "conforme é possível ver nas imagens, o presidente da República sinalizou em abraço ao policial militar, que apenas retribuiu o gesto". "Com relação os policiais que foram vistos captando imagens, a PM também esclarece que os agentes possuem terminais móveis de dados (aparelhos celulares), com os quais coletam dados e imagens transmitidas à Sala de Crise para o gerenciamento em tempo real do ato."
Às 10h, a "motociata" em apoio a Bolsonaro começou, iniciado na região do Sambódromo, na zona norte, com encerramento previsto no parque do Ibirapuera, na zona sul. O trajeto tem cerca de 129 quilômetros de extensão. Motos deixaram a região do Sambódromo de maneira constante das 10h às 10h50.
Motoqueiros e ciclistas com bandeiras do Brasil amarradas aos veículos, além de manifestantes a pé, se aglomeraram na avenida Santos Dumont para recepcionar o presidente.
Vestindo uma jaqueta de motociclista bordada com seu retrato e um capacete em que estava escrito "presidente Bolsonaro", ele acenou para os manifestantes quando chegou e saiu de moto na avenida Santos Dumont com um segurança em sua garupa, seguido por centenas de motociclistas. Apoiadores a pé e de bicicleta se aglomeraram para ver o presidente, gritando "mito".
"Pessoal, começando nosso passeio de motocicleta. Muito obrigado pelo convite, pela liberdade, pela democracia e por Deus", disse Bolsonaro, antes de começar o trajeto, em transmissão em suas redes sociais. Durante uma parada no trajeto da motociata, Bolsonaro disse que o ato demonstra "força e união".
O filho do presidente, deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), participou do evento com o ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas. O deputado e o ministro também foram multados por não ter utilizado máscara.
Na quarta-feira (9), o governador de São Paulo disse que Bolsonaro e quem não usasse máscara no ato de rua seria multado. O presidente reagiu dizendo que o governador se achava "doninho" de São Paulo.
Sobre a interação com policiais, a PM disse que, "conforme é possível ver nas imagens, o presidente da República sinalizou em abraço ao policial militar, que apenas retribuiu o gesto". "Com relação os policiais que foram vistos captando imagens, a PM também esclarece que os agentes possuem terminais móveis de dados (aparelhos celulares), com os quais coletam dados e imagens transmitidas à Sala de Crise para o gerenciamento em tempo real do ato."
Apoiadores sem moto
A cabeleireira Cris Souza, 37, de Rondônia, tentou alugar uma moto para participar da manifestação, mas segundo ela, nenhuma locadora tinha motos disponíveis.
Mesmo sem a moto, que ficou em Rondônia, ela e o marido, Roberto Garcia, foram de carro apoiar a manifestação e ver de pertinho o "mito".
"É a segunda vez que eu vejo ele, ele é maravilhoso, muito humilde. Eu toquei nele! Eu admiro muito esse homem, sinto que ele é enviado por Deus para ajudar a gente a sair dessa crise. Imagina se ele manda fechar tudo, eu como cabeleireira iria morrer de fome", diz.
"Amo moto, a gente também é motoqueiro, tentamos alugar uma para participar da motociata mas não tinha mais", contou.
Também houve críticas a opositores de Bolsonaro, como o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). "Lula nojento", dizia Morgana Carré, 55, moradora da zona leste, com uma bandeira do Brasil estampada com o rosto do presidente.
"É Bolsonaro! O Brasil é nosso!", celebrava ela, que tentou pegar carona com um dos motoqueiros, mas não conseguiu porque estava sem capacete. "Foi lindo de qualquer jeito. Vim para prestigiar o nosso presidente, o Brasil é nosso".
João dos Anjos, 55, veio de Cuiabá só para acompanhar a "motociata" de Bolsonaro. "A gente faz tudo por amor", disse João, que é locutor, mas está desempregado e decidiu vender camisetas e bandeiras para poder viajar acompanhando o presidente. "Eu fui para Brasília várias vezes, vendi bastante camiseta lá", diz João, que vende cada uma por R$ 20.
Se as vendas forem boas, ele pretende acompanhar o presidente em Fortaleza. "Eu vou fazer 56 anos e nunca vi o mar. Tanta gente morrendo e eu aqui vivo. Tenho que conhecer o mar antes de morrer", disse.
Agenda na capital paulista
O presidente chegou a São Paulo por volta das 7h. Antes da motociata, Bolsonaro participou de um um evento em um colégio militar para entrega de boinas a 82 novos alunos do 6º ano da capital paulista.
Bolsonaro não fez discurso na primeira agenda, mas entregou a um dos novos alunos a boina vermelha, que representa a entrada no colégio militar e uma nova fase na vida acadêmica.
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