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CPI: Aziz retira sigilo de celular de PM que ofereceu vacinas ao governo

Luiz Paulo Dominghetti participou de negociações para oferecer 400 milhões de doses da AstraZeneca - Edilson Rodrigues/Agência Senado
Luiz Paulo Dominghetti participou de negociações para oferecer 400 milhões de doses da AstraZeneca Imagem: Edilson Rodrigues/Agência Senado

Anaís Motta

Do UOL, em São Paulo

06/07/2021 16h09Atualizada em 06/07/2021 22h06

Presidente da CPI da Covid, o senador Omar Aziz (PSD-AM) autorizou hoje a retirada do sigilo do material contido no telefone celular do policial militar Luiz Paulo Dominghetti, que se apresenta como representante da Davati Medical Supply e participou de negociações para oferecer ao Brasil 400 milhões de doses da vacina da AstraZeneca.

A decisão atende a uma questão de ordem apresentada pelo senador Rogério Carvalho (PT-SE) na sessão de hoje da CPI. O parlamentar argumentou que, quando Dominghetti teve seu celular apreendido, se disponibilizou a oferecer "todas as informações para ajudar o país a resolver a questão das vacinas".

Além disso, acrescentou Carvalho, o sigilo sobre o conteúdo do telefone de Dominghetti "não foi determinado por esta comissão". "Solicito o levantamento do sigilo do material contido no telefone celular do senhor Luiz Dominghetti, em especial da troca de mensagens entre ele e o senhor Cristiano [Carvalho], CEO da Davati no Brasil", pediu.

"Defiro [atendo] a questão de ordem do senador, e se tornará pública essas conversas entre o senhor Cristiano, da Davati", determinou Aziz.

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A questão vem à tona dois dias depois de o "Fantástico", da TV Globo, mostrar que Dominghetti negociava comissão de 25 centavos de dólar por dose de vacina oferecida ao Ministério da Saúde. A informação foi obtida pela perícia após análise preliminar das conversas nos aplicativos de mensagem do celular do PM.

Aliado do governo, o senador Fernando Bezerra (MDB-PE) criticou a divulgação de parte do conteúdo do telefone de Dominghetti, dizendo estar "desconfortável" com a possibilidade de ter havido um vazamento de informações.

"Quantas vezes nós não temos criticado ações da Polícia Federal, do Ministério Público Federal, que são useiros e vezeiros em vazar para a imprensa informações que estão resguardadas pelo sigilo judicial? Queria colocar aqui o nosso desconforto com a decisão, que não sei como uma empresa de comunicação teve acesso ao material que estava sob a guarda da CPI", afirmou.

"Direi à Mesa Diretora que a gente tenha mais cuidado, por favor, porque ficam registradas as pessoas que têm acesso", respondeu Aziz.

Quem é Dominghetti

Luiz Paulo Dominghetti afirmou à Folha de S.Paulo, em reportagem publicada em 29 de junho, que o então diretor de logística do Ministério da Saúde, Roberto Ferreira Dias, cobrou propina para fechar a compra de 400 milhões de doses da vacina da AstraZeneca. O pedido teria sido feito em um jantar no Brasília Shopping, em 25 de fevereiro.

A AstraZeneca nega que a Davati a represente. A empresa já chegou a ser desautorizada pela farmacêutica no Canadá. Dias teve sua exoneração anunciada em 29 de junho.

Paralelamente, reportagens publicadas na imprensa mineira indicam que a Davati pode estar fraudando o processo de aquisição de vacinas. A empresa teria negociado com várias prefeituras, com o objetivo de conseguir uma carta de intenção demonstrando interesse na compra de vacinas da AstraZeneca. Depois de conseguir a carta, porém, as conversas emperraram.

(Com Estadão Conteúdo)

A CPI da Covid foi criada no Senado após determinação do Supremo. A comissão, formada por 11 senadores (maioria era independente ou de oposição), investigou ações e omissões do governo Bolsonaro na pandemia do coronavírus e repasses federais a estados e municípios. Teve duração de seis meses. Seu relatório final foi enviado ao Ministério Público para eventuais criminalizações.