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Quem é André Mendonça, escolhido por Bolsonaro para uma vaga no STF

Rafael Neves

Do UOL, em Brasília

06/07/2021 14h07Atualizada em 06/07/2021 19h44

Confirmado hoje pelo presidente Jair Bolsonaro para a próxima vaga a ser aberta no STF (Supremo Tribunal Federal), o advogado-geral da União, André Mendonça, já era cotado para a cadeira pelo menos desde julho de 2019, quando entrou na lista de postulantes após o presidente Jair Bolsonaro afirmar, em um culto com a bancada evangélica na Câmara dos Deputados, que levaria ao Supremo um nome "terrivelmente evangélico".

À época em sua primeira passagem pela AGU, Mendonça foi colocado entre os cotados pelo próprio presidente. Em abril do ano seguinte, porém, acabou nomeado ministro da Justiça e Segurança Pública após o rompimento entre Bolsonaro e Sergio Moro.

A primeira vaga aberta no Supremo, em outubro daquele ano, acabou preenchida pelo hoje ministro Kassio Nunes Marques. Mas o nome de Mendonça jamais deixou de estar entre os favoritos para a segunda escolha.

Se a indicação de Nunes Marques havia surpreendido os bolsonaristas, que esperavam um magistrado com posições conservadoras mais claras, o mesmo não deve ocorrer com Mendonça, que já é amplamente conhecido pela base de apoio do governo.

Discrição

Nascido em Santos, no litoral paulista, Mendonça é advogado da União desde 2000 e chegará ao STF aos 48 anos de idade. Nomeado para o comando da AGU logo no início do governo Bolsonaro, em janeiro de 2019, ele era visto como um nome estritamente técnico, que no governo Temer havia sido assessor especial do ministro da CGU (Controladoria-geral da União), Wagner Rosário.

Até aquele ponto, Mendonça não dava sinais de adesão clara ao bolsonarismo: ele não fez campanha aberta por Bolsonaro em 2018 e, em suas redes sociais, revelava mais entusiasmo com a eleição de Marina Silva, então candidata a presidente pela Rede Sustentabilidade.

Em 2002, Mendonça publicou um artigo simpático à vitória do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no jornal Folha de Londrina, quando era procurador da União na cidade, como noticiou o UOL no ano passado. Na ocasião, o atual ministro da AGU não citou o nome de Lula, mas disse que o triunfo "enchia os corações do povo de esperanças" e que as urnas haviam revelado "o primeiro presidente eleito do povo e pelo povo".

Se o rótulo de "terrivelmente evangélico" ajudou na indicação de Mendonça, não se sabe se as convicções religiosas farão diferença em sua atuação no STF. Mendonça é pastor da Igreja Presbiteriana Esperança de Brasília, que adota uma linha mais progressista e evita a abordagem de temas político-partidários em cultos. Nas eleições de 2018, por exemplo, a igreja usou as redes sociais para pregar tolerância numa campanha considerada pelos pastores como "conflituosa e violenta".

Formado em ciências jurídicas e sociais pelo Centro Universitário de Bauru (SP), em 1993, Mendonça se especializou em direito público na UnB (Universidade de Brasília) e em seguida foi à Espanha, onde obteve os títulos de doutor e mestre em Direito pela Universidade de Salamanca. Na AGU, Mendonça atuou especialmente na área de combate à corrupção, assunto sobre o qual tem livros publicados.

Alinhamento ao bolsonarismo

Em sua primeira passagem pela AGU, Mendonça chegou a surpreender em alguns posicionamentos, como a defesa da criação do juiz de garantias. O mecanismo havia sido incluído pelo Congresso no pacote anticrime de Moro, seu antecessor no Ministério da Justiça, a contragosto do ex-juiz da Lava Jato.

Mais recentemente, porém, sua atuação alinhada ao governo começou a recrudescer. Enquanto ministro da Justiça, Mendonça sofreu críticas ao mandar abrir investigações da PF (Polícia Federal) contra críticos de Bolsonaro com base na Lei de Segurança Nacional, instrumento remanescente da ditadura. O MPF (Ministério Público Federal), no entanto, vem se posicionando pelo arquivamento destes inquéritos.

Em abril passado, de volta à AGU, Mendonça foi ao STF para garantir a realização de missas e cultos durante a Páscoa, em antagonismo a governadores e prefeitos que tentavam conter a escalada da pandemia em seu período mais agudo. Nesse mesmo sentido, a AGU também pediu ao STF a derrubada de medidas de isolamento social nos estados.

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