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Bolsonaro mente e volta a atacar Barroso: 'Defende a pedofilia'

Do UOL, em São Paulo

10/07/2021 13h11Atualizada em 10/07/2021 22h07

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) voltou a atacar o presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), Luís Roberto Barroso, depois de participar na manhã de hoje de uma motociata em Porto Alegre. Em discurso, Bolsonaro mentiu ao afirmar que o magistrado defende a pedofilia e a liberação das drogas —Barroso nunca disse que apoia a redução da maioridade para estupro de vulneráveis, inclusive ele não defende a redução da maioridade penal.

Quero perguntar ao ministro Barroso, do STF, ministro esse que defende a redução da maioridade para estupro de vulneráveis. Ou seja, é a pedofilia o que ele defende. Ministro que defende o aborto, ministro que defende a liberação das drogas. Com essas bandeiras todas, ele não tinha que estar no Supremo, tinha que estar no Parlamento para defender as suas bandeiras

Jair Bolsonaro

O caso citado de forma distorcida por Bolsonaro é referente a um julgamento que tramitou em 2017 na Primeira Turma do STF sobre a suspensão de uma ação penal contra um rapaz de 18 anos acusado de ter tido relações sexuais com uma adolescente de 13 anos. O acusado alegava que fora denunciado pela menina porque não queria namorar com ela.

O colunista do UOL Josias de Souza teve acesso a acórdão redigido por Barroso para o prosseguimento do processo em questão. O ministro votou a favor da continuidade da ação aberta contra o rapaz —posição contrária à que Bolsonaro atribuiu a Barroso. O ministro divergiu de Marco Aurélio Mello, que concedera liminar suspendendo o processo sob o argumento de que a relação havia sido consentida. O voto de Barroso contudo prevaleceu.

Sem provas, Bolsonaro volta citar fraude eleitoral

Ainda durante o evento realizado hoje, o presidente não usava máscara de proteção individual contra a covid-19 e voltou a mentir sobre fraude no sistema eleitoral —uma insinuação infundada. Em nenhum momento do discurso, Bolsonaro afirmou ter como provar que as urnas eletrônicas não são confiáveis.

O próprio TSE disse ontem, em nota, que convidou o presidente a apresentar os indícios de fraudes nas eleições de 2014 e 2018 —que ele repete em encontros com apoiadores. Segundo o Tribunal, Bolsonaro não deu respostas.

Ao lado do ministro da Secretaria Geral da Presidência da República, Onyx Lorenzoni, Bolsonaro voltou a afirmar que dará a própria vida pela pátria. Esse discurso foi repetido pelo ministro —que também não usava máscara para reduzir as chances de se contaminar com o coronavírus.

O chefe do Executivo federal também lançou ofensivas contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que tem vantagem na corrida eleitoral do próximo ano, conforme apontam as últimas pesquisas Datafolha.

Nós temos tudo para sermos uma grande nação. E isso passa pelo entendimento, pela compreensão e pela garra do seu povo. Se aquele de nove dedos [Lula] tem 60% [dos votos] segundo o Datafolha, vamos fazer o voto impresso

Jair Bolsonaro

Lula marca 58% das intenções de votos no segundo turno, contra 31% a favor do atual presidente. Na pesquisa estimulada de primeiro turno pelo Datafolha, Lula aparece mais uma vez à frente, com 46% das intenções de voto, ante 25% do presidente. Já o ex-governador do Ceará Ciro Gomes (PDT) marca 8%.

O levantamento mais recente foi realizado na quarta (7) e quinta-feira (8). Ao todo, 2.074 eleitores foram ouvidos presencialmente pelo país. A margem de erro da pesquisa é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos.

O STF (Supremo Tribunal Federal), o TSE e o ministro Barroso foram procurados pelo UOL. Em resposta, o Supremo informou que não pretende se manifestar sobre as declarações feitas hoje pelo presidente Jair Bolsonaro. O TSE e Barroso ainda não deram retorno.

Ofensivas de Bolsonaro contra Barroso

Hoje é o segundo dia consecutivo de ofensivas de Bolsonaro contra Barroso. Ontem, o presidente chamou o ministro de "idiota" e voltou a ameaçar as eleições de 2022.

Sem indícios que pudessem comprovar as declarações, Bolsonaro reiterou que o atual sistema eletrônico eleitoral é passível de fraudes e que é necessário implementar o voto impresso.

A insinuação infundada é a de que ele possa perder o pleito presidencial em 2022 por supostas fraudes —até hoje nunca comprovadas— do atual sistema de eleições do país.

Em resposta a Bolsonaro, o TSE emitiu uma nota à imprensa reforçando que, desde que as urnas eletrônicas foram implantadas em 1996, "jamais se documentou qualquer episódio de fraude".

O Tribunal classificou as declarações do presidente como "lamentáveis quanto à forma e conteúdo". Em cinco tópicos, o TSE explicou quais foram os encaminhamentos dados para investigar as afirmações do presidente sobre supostas fraudes eleitorais em 2014 e 2018.

O Corregedor-Geral Eleitoral já oficiou ao Presidente da República para que apresente as supostas provas de fraude que teriam ocorrido nas eleições de 2018. Não houve resposta

TSE, em nota à imprensa

Barroso cita livro sobre ditadura após ameaças de Bolsonaro

Após Bolsonaro ameaçar as eleições do próximo ano, Barroso usou ontem as redes sociais para responder, de forma indireta, aos ataques contra ele.

Sem citar diretamente Bolsonaro, o ministro recomendou na noite de ontem o livro "A ditadura escancarada", do jornalista Elio Gaspari, e a música "Cálice", composição de Chico Buarque e Gilberto Gil, censurada durante o regime militar brasileiro.

Quando um homem de bem responde um insulto com outro insulto, ele permite que o mal vença. Não é preciso responder. O mal consome a si mesmo

Luís Roberto Barroso, em citação no Twitter

O ministro havia afirmado antes da publicação nas redes sociais em resposta ao chefe do Executivo federal que qualquer atuação no sentido de impedir a realização das eleições "viola princípios constitucionais e configura crime de responsabilidade".