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Renan diz que responsabilizará membros do gabinete paralelo por crime comum

O senador Renan Calheiros (MDB-AL), relator da CPI da Covid - Pedro França/Agência Senado
O senador Renan Calheiros (MDB-AL), relator da CPI da Covid Imagem: Pedro França/Agência Senado

Luciana Amaral

Do UOL, em Brasília

19/08/2021 19h19Atualizada em 19/08/2021 20h04

O relator da CPI da Covid, Renan Calheiros (MDB-AL), afirmou hoje que pretende responsabilizar por crime comum os integrantes do chamado gabinete paralelo. O grupo teria assessorado o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) ao longo da pandemia do novo coronavírus à revelia das ponderações e decisões oficiais do Ministério da Saúde, defendem senadores oposicionistas e independentes.

"Eu pretendo, como relator — posso até não aprovar nesta Comissão Parlamentar de Inquérito —, responsabilizar por crime comum todos os membros do gabinete paralelo pela maldade que fizeram contra o Brasil ao prescreverem remédios ineficazes, ao estabelecerem prioridades para gasto orçamentário, para execução de gasto público criminosamente", declarou.

Renan não especificou quais crimes seriam esses. O texto-base do relatório da CPI da Covid, elaborado pelo gabinete do relator já possui mais de mil páginas e pode crescer, a depender dos fatos e dados a serem obtidos pela CPI. Os capítulos do documento, ao qual o UOL teve acesso, estão divididos por fatos e depoimentos coletados ao longo dos trabalhos.

Capítulos já elaborados do relatório dizem respeito ao gabinete paralelo, e incluem a transcrição e links de vídeos, áudios, declarações e documentos que, segundo o relatório, comprovam a atuação do órgão extraoficial.

Um dos tópicos do relatório trará a afirmação de que quem se opôs ao gabinete paralelo acabou deixando o Ministério da Saúde. São citados como exemplos os ex-ministros Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich.

Quem a CPI diz integrar o gabinete paralelo.

A Comissão Parlamentar de Inquérito já recebeu para depor supostos integrantes do gabinete paralelo, como o empresário Carlos Wizard, a médica Nise Yamaguchi e o deputado federal Osmar Terra (MDB-RS). Todos os que foram à CPI, porém, negaram fazer parte de tal estrutura.

Parte dos supostos integrantes do chamado gabinete paralelo defendeu o uso de cloroquina e outros remédios sem comprovação de eficácia contra a covid-19 e colocou em dúvida a necessidade de uma imunização em massa da população.

Vídeo de reunião no Palácio do Planalto de 8 de setembro de 2020 mostra o chamado gabinete paralelo orientando Bolsonaro a ter cautela com vacinas contra a covid-19. Nas imagens aparecem Yamaguchi, Terra e o virologista Paolo Zanotto, por exemplo.

"No contexto da vacina, a gente tem que tomar extremo cuidado", diz Zanotto ao microfone diretamente a Bolsonaro.

Bolsonaro endossa seu discurso antivacina. "Mesmo tendo aprovação científica lá fora, tem umas etapas para serem cumpridas aqui. Você não pode injetar qualquer coisa nas pessoas, muito menos obrigar".

Zanotto, então, diz que enviou uma carta a Arthur Weintraub —ex-integrante do governo e irmão do ex-ministro da Educação Abraham Weintraub— sugerindo a criação de um "shadow board" (gabinete das sombras, em tradução livre).

Um participante chega a chamar Osmar Terra de "padrinho" e o próprio Bolsonaro sugere que Terra entre em contato diretamente com o então ministro da Saúde, Eduardo Pazuello.

A CPI da Covid foi criada no Senado após determinação do Supremo. A comissão, formada por 11 senadores (maioria era independente ou de oposição), investigou ações e omissões do governo Bolsonaro na pandemia do coronavírus e repasses federais a estados e municípios. Teve duração de seis meses. Seu relatório final foi enviado ao Ministério Público para eventuais criminalizações.