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Secretaria no Planalto fez duas reuniões com organizadores do 7 de setembro

Rafael Neves

Do UOL, em Brasília

31/08/2021 04h00Atualizada em 31/08/2021 11h06

Investigados por organizar manifestações antidemocráticas para o dia 7 de setembro, apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) tiveram duas reuniões no Palácio do Planalto na semana anterior à operação da Polícia Federal que mirou, entre outros nomes, o cantor Sérgio Reis e o deputado Otoni de Paula (PSC-RJ).

As audiências ocorreram na Secretaria Especial de Articulação Social, que funciona no quarto andar do Planalto e é subordinada à Secretaria de Governo, hoje comandada pela ministra Flávia Arruda (PL-DF). Ambos os encontros estão registrados na agenda oficial da secretária de Articulação Social, Gabriele Araújo, nos dias 10 e 11 de agosto.

Responsável pelo caso, a PGR (Procuradoria-Geral da República) apura se o governo participou do planejamento dos atos, que vinham sendo convocados por meio de ataques a autoridades e incitações ao fechamento do STF (Supremo Tribunal Federal) e do Congresso, além de ameaças de paralisação do país com uma greve de caminhoneiros.

A primeira dessas reuniões, no dia 10, aparece na agenda de Araújo com a pauta "Movimento Brasil Verde e Amarelo". Trata-se de um grupo formado por sindicatos e associações rurais que convocou, no final de maio, uma manifestação em apoio a Bolsonaro em Brasília. Entre as bandeiras do ato estava a proposta do voto impresso, rejeitada pela Câmara em agosto.

Na ocasião, a secretária recebeu Antonio Galvan, presidente da Aprosoja Brasil (Associação Brasileira dos Produtores de Soja) e um dos investigados no Supremo. No último dia 23, após ser alvo de buscas e apreensões, Galvan foi depor à PF em Sinop (MT) acompanhado de um grupo de ruralistas, que chegaram ao local em um comboio de tratores.

Em nota enviada ao UOL, a Segov afirma que "é obrigação da Secretaria Especial de Articulação Social receber todas as organizações da sociedade civil que solicitam atendimento". Questionada sobre qual foi o tema tratado na reunião, a secretaria respondeu que "foram discutidas pautas de interesse dos solicitantes", mas não deu detalhes.

Galvan confirmou ao UOL que o tema do encontro foi o Movimento Brasil Verde e Amarelo, mas não explicou qual seria a participação do governo no assunto. "Fui fazer uma visita de cortesia lá para ela [a secretária Gabriele Araújo]. Que a gente já conhecia, [a gente] falou que ia passar uma hora para bater um papo com ela", afirmou.

A agenda registra que o encontro também teve as presenças da advogada Paula Boaventura, esposa de Galvan, e de Fabrício Rosa, diretor-executivo da Aprosoja. Rosa afirmou que não participou da conversa e que a entidade ruralista não tinha relação com a pauta.

"Embora tenha assinado a lista, fui apenas acompanhando o presidente, que cumpriu agenda pelo Movimento Brasil Verde e Amarelo", disse Rosa. Paula Boaventura, por sua vez, não foi localizada. O espaço está aberto para manifestação.

Antonio Galvan foi depor à PF em um combio de tratores - Divulgação/Sindicato Rural de Sinop - Divulgação/Sindicato Rural de Sinop
Presidente da Aprosoja, Antonio Galvan (no alto), foi depor à PF em Sinop (MT) acompanhado de um comboio de tratores
Imagem: Divulgação/Sindicato Rural de Sinop

Caminhoneiros

No dia seguinte ao encontro com Galvan, a secretária Gabriele Araújo recebeu outros três ativistas que seriam alvo da PF dias depois: Turíbio Torres, Juliano Martins e Marcos Antônio Pereira, conhecido como Zé Trovão. Os três, segundo a agenda, estavam acompanhados de Rafael Dal Bó, chefe de gabinete do deputado Nelson Barbudo (PSL-MT).

Os ativistas haviam chegado a Brasília dias antes e já vinham publicando fotos ao lado de ministros, deputados governistas e até de Renato Bolsonaro, irmão do presidente. Dois deles, Torres e Martins, tiraram fotos dentro do Planalto com o general Augusto Heleno, chefe do GSI (Gabinete de Segurança Institucional). Em nota, o GSI afirmou que "o ministro não os conhece e não houve reunião".

Segundo apurou o UOL, os ativistas foram questionados pela PF sobre o teor da reunião e negaram ter havido qualquer discussão sobre os atos de 7 de setembro. Segundo disseram aos investigadores, o encontro tratou de demandas de caminhoneiros, vinculadas à CNTA (Confederação Nacional de Transportadores Autônomos).

Procurada, no entanto, a CNTA informou não ter conhecimento da reunião. "Desconhecemos a agenda referida", afirma a entidade. Sobre essa audiência, a Segov afirmou apenas que "foram discutidas pautas de interesse dos caminhoneiros". O advogado Levi de Andrade, que defende os ativistas, diz que os clientes negam qualquer relação entre a reunião e os atos de 7 de setembro.