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Barroso reage a discurso golpista de Bolsonaro: 'É tudo retórica vazia'

Do UOL, em São Paulo

09/09/2021 10h48Atualizada em 09/09/2021 11h37

O presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), ministro Luís Roberto Barroso, rebateu hoje falas do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) após os atos antidemocráticos de 7 de setembro, que pediram o fechamento do STF (Supremo Tribunal Federal) e o voto impresso.

Em seu discurso a apoiadores anteontem, Bolsonaro pediu a "contagem pública de votos". Barroso respondeu que isso seria "como abandonar o computador e regredir, não à máquina de escrever, mas à caneta tinteiro".

Seria um retorno ao tempo da fraude e da manipulação. Se tentam invadir o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal, imagine-se o que não fariam com as seções eleitorais."
Ministro Barroso, presidente do TSE

As declarações foram dadas na abertura de hoje da sessão do TSE. Barroso também chamou Bolsonaro de "farsante" e disse ser covardia atacar a Justiça Eleitoral.

Barroso repetiu que as eleições brasileiras são limpas, democráticas e auditáveis. "Nessa vida, porém, o que existe está nos olhos do que vê".

Sobre a declaração de Bolsonaro, de que "a alma da democracia é o voto", Barroso afirmou que, de fato, o voto é essencial para a democracia representativa: "Outro elemento fundamental é o debate público, quando esse debate é contaminado por discursos de ódios, campanhas de desinformação e teorias da conspiração infundadas, a democracia é aviltada".

O slogan para o momento brasileiro, ao contrário do propalado, parece ser 'Conhecerais a mentira e a mentira te aprisionará'".
Ministro Barroso, presidente do TSE, faz referência a frase usado por bolsonaristas

Sobre o ataque do presidente Bolsonaro às urnas eletrônicas, Barroso repetiu que o sistema eleitoral brasileiro é totalmente seguro. No ato antidemocrático de 7 de setembro, o presidente afirmou que "não se pode aceitar um sistema eleitoral que não fornece qualquer segurança".

"As urnas não entram em rede e não são passíveis de acesso remoto. Podem tentar invadir os computadores do TSE (e obter alguns dados cadastrais irrelevantes), podem fazer ataques de negação de serviço aos nossos sistemas, nada disso é capaz de comprometer o resultado da eleição".

Barroso também citou que o código-fonte dos programas que processam o resultado das urnas é aberto a todos os partidos e também ao Ministério Público, Polícia Federal e OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) um ano antes das eleições.

Uma das estratégias do autoritarismo, dos que anseiam a ditadura, é criar um ambiente de mentiras, no qual as pessoas já não divergem apenas quanto às suas opiniões, mas também quanto aos próprios fatos."
Ministro Barroso, presidente do TSE

"Uma das manifestações do autoritarismo pelo mundo afora é a tentativa de desacreditar o processo eleitoral para, em caso de derrota, poder alegar fraude e deslegitimar o vencedor", afirmou Barroso, citando o episódio de invasão ao Capitólio, por apoiadores do ex-presidente Donald Trump, dos Estados Unidos.

Trump foi derrotado por Joe Biden nas eleições americanas, mas recebeu apoio de Bolsonaro, que demorou a reconhecer a derrota. O ex-presidente dos EUA alegava fraude em votos enviados por correios e chegou a pedir a recontagem de cédulas em vários estados.

Fraude nas urnas eletrônicas é mentira criada artificialmente

Em seu discurso, Barroso disse que, assim que pararem de circular mentiras, as dúvidas "de uma minoria de eleitores sobre a segurança do processo eleitoral brasileiro, se dissiparão".

Segundo ele, o questionamento foi criado "artificialmente por uma máquina governamental de propaganda" depois de três anos de campanha insidiosa feita pelo presidente da República. Bolsonaro já admitiu não ter provas contra as urnas eletrônicas, mas não abandonou o discurso.

É tudo retórica vazia. Hoje em dia, salvo os fanáticos (que são cegos pelo radicalismo) e os mercenários (que são cegos pela monetização da mentira), todas as pessoas de bem sabem que não houve fraude e quem é o farsante nessa história."
Ministro Barroso, presidente do TSE

O presidente do TSE afirmou ainda ser "covardia" atacar a Justiça Eleitoral por falta de coragem de atacar o Congresso Nacional, que rejeitou o projeto do voto impresso neste ano.

'Brasil é chacota mundial'

Barroso também disse que a falta de compostura do presidente Bolsonaro envergonha o Brasil perante o mundo. "A marca Brasil sofre, nesse momento, uma desvalorização global. Somos vítimas de chacota e de desprezo mundial".

Um desprestígio maior do que a inflação, do que o desemprego, do que a queda de renda, do que a alta do dólar, do que a queda da bolsa, do que o desmatamento da Amazônia, do que o número de mortos pela pandemia, do que a fuga de cérebros e de investimentos. Mas, pior que tudo, nos diminui perante nós mesmos. Não podemos permitir a destruição das instituições para encobrir o fracasso econômico, social e moral que estamos vivendo."
Ministro Barroso, presidente do TSE