'Só atrapalha': o que dizem caminhoneiros na Dutra sobre paralisação
Caminhoneiros que aderiram às paralisações nas estradas do país relatam medo de "furar" bloqueio e questionam eficácia do protesto em meio a um cenário de crise econômica e política.
Bloqueios organizados por caminhoneiros bolsonaristas após os atos de caráter golpista de 7 de Setembro, convocados pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido), fizeram com que motoristas aderissem ao manifesto.
O UOL ouviu representantes da categoria às margens da rodovia Presidente Dutra em Santa Isabel, na região metropolitana de São Paulo, próximo ao local onde foi registrado o único ponto de concentração de manifestantes na rodovia pela PRF (Polícia Rodoviária Federal) hoje de manhã.
Em boletim divulgado às 11h de hoje, o Ministério da Infraestrutura informou que ainda existiam pontos de concentração em rodovias federais de 14 estados, com interdições apenas na Bahia, Maranhão, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul e Santa Catarina. Ontem, Bolsonaro pediu, em áudio, que os caminhoneiros liberassem as vias. Hoje, ele prometeu conversar com os manifestantes para suspender a tentativa de paralisação.
Caminhoneiros falam sobre paralisação
'Se for parar, que pare todo mundo
Marcos Paes de Oliveira, que conduzia uma carga de alimentos de Duque de Caxias (RJ) a Barueri (SP), disse ter sido obrigado a parar em Barra Mansa (RJ) por volta das 23h desta quarta-feira (8) ao ser informado por rádio sobre uma paralisação na estrada.
"Parei na estrada para descansar porque fui obrigado. É só pra atrapalhar. Não adianta só nós, caminhoneiros. Se for pra parar, que pare todo mundo. [A paralisação] só atrasou a viagem, né?", disse.
Medo de represálias
Embora apoie Bolsonaro, o caminhoneiro Ricardo de Dio não vê força no movimento capaz de impulsionar mudanças.
"A maioria dos caminhoneiros apoia o Bolsonaro. Ele tem apoio da maioria das pessoas de bem, vamos deixar isso bem claro. Mas acho que não resolve muito [aderir à paralisação]. Se diminuir o valor do combustível, o meu salário não vai aumentar", argumenta.
Ele reconhece o receio da categoria ao não aderir a um pedido de apoio e diz ter feito uma paralisação na noite desta quarta em Angaratuba, a 200 km da capital paulista.
"Fiz uma manobra pra parar no posto e fiquei por lá. Os caras falam: 'Fica aí pra dar uma força pra gente'. A gente não é obrigado. Só que existe um medo, né? Ouvi os caras falando que tem gente tacando pedra [em quem não aderir ao ato]".
Só vou parar se o chefe mandar parar ou se tiver risco de danos ao caminhão. Não concordo com a paralisação. Eles [organizadores do ato] estão usando os caminhoneiros pra fazer política.
Josué Botelho, caminhoneiro
Já o caminhoneiro Joarez Mereth Dias disse que irá aderir ao movimento se cruzar com caminhões parados pelas estradas do país.
"Acho justo correr atrás daquilo que o povo brasileiro precisa. O combustível tá caro, o alimento tá caro", argumentou. "Não é que o Bolsonaro tá fazendo a nossa cabeça [dos caminhoneiros]. Como um cara leigo em política, não sei te falar muito sobre o que poderia ser feito. Mas é visível principalmente pelas redes sociais de que tem muita coisa errada", completou.
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