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Paralisação foi feita por golpistas pró-Bolsonaro, dizem caminhoneiros

Paralisação de caminhoneiros na SP-332 (Estrada Velha de Campinas), no km 129, em Paulínia (SP) - Wagner Souza/Futura Press/Estadão Conteúdo
Paralisação de caminhoneiros na SP-332 (Estrada Velha de Campinas), no km 129, em Paulínia (SP) Imagem: Wagner Souza/Futura Press/Estadão Conteúdo

Lucas Borges Teixeira

Do UOL, em São Paulo

09/09/2021 16h33

A paralisação de grupos de caminhoneiros nesta semana foi feita por apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) que apoiam pautas golpistas, com críticas ao Congresso e ao STF (Supremo Tribunal Federal), dizem lideranças de caminhoneiros autônomos. Segundo os entrevistados pelo UOL, o objetivo de parte dos grevistas era seguir com demandas antidemocráticas, mas a situação saiu do controle.

Os bloqueios começaram em 7 de setembro, em meio aos atos de caráter golpista convocados por Bolsonaro. Até hoje, haviam atingido pelo menos 15 estados, segundo o Ministério da Infraestrutura. Nesta tarde, só cinco estados ainda tinham trechos interrompidos.

A avaliação de diferentes lideranças de caminhoneiros —confirmada também por áudios de WhatsApp que circulam nesses grupos— é que uma parte apoiadora do presidente tentou continuar com parte das propostas golpistas pregadas durante o 7 de Setembro.

Não é de interesse econômico [parar]. Se tivesse, os caminhoneiros [que são] massa de manobra ainda estariam levando borrachada, mas felizes e pelo mito [Bolsonaro]. Os que estão apoiando são caminhoneiros comprados ou com a sanidade mental comprometida. Jamais, nós, da categoria de autônomos, vamos apoiar atos irresponsáveis.
Gilson Cruz, liderança da Paraíba dos caminhoneiros

"[Na paralisação de] 2018, a pauta era por melhores condições de trabalho: piso mínimo, condição de parada, preço dos combustíveis etc. Agora, são atos políticos de grupos criminosos se dizendo bolsonaristas para endossar o discurso de quem estava lá em Brasília com pautas golpistas", afirma o deputado federal Nereu Crispim (PSL-RS), ex-motorista e presidente da Frente Parlamentar de Caminhoneiros e Celetistas.

"Essas manifestações não fazem parte do escopo [de reivindicações da classe]. Somos um movimento apartidário, com gente de tudo o que é ideologia. Não permitiríamos sermos usados como bucha de canhão para projeto político antidemocrático", afirma Crispim.

Entre as lideranças ouvidas pela reportagem, mais ou menos críticas ao presidente e aos atos, a insatisfação permeia as decisões, como em 2018, mas o impulso foi mesmo as propostas golpistas.

"É [um movimento] partidário. O pessoal parou mesmo é para protestar, porque está insatisfeito tudo o que está acontecendo no Brasil, com esses bandidos. Não tá bom. Aí, eles estão aí fazendo esses bloqueios", afirma Ailton Rodrigues, liderança do Porto de Santos.

Ele, no entanto, não descarta uma paralisação futura por "um país decente". "Você já viu o preço do arroz? Não está bom para ninguém, está muito ruim. Só está bom para os de Brasília, que não trabalham", diz, em tom consoante ao de Bolsonaro, embora não tenha aderido à paralisação.

Ao UOL, a Abacam (Associação Brasileira dos Caminhoneiros) disse não apoiar o movimento e estar focada nas "verdadeiras necessidade do transportador autônomo", trabalhando junto ao governo federal.

Saiu do controle

O discurso crítico ao STF, ao ministro Alexandre de Moraes e à democracia, visto em diversos vídeos compartilhados nas redes sociais, é muito similar ao de Bolsonaro e seus apoiadores. Ontem, no entanto, surpreso com o crescimento dos movimentos, Bolsonaro recuou e pediu aos caminhoneiros que desbloqueassem as rodovias.

Isso criou uma celeuma entre os caminhoneiros que, sem apoio do presidente, não sabiam se continuavam o ato e como agir. Muitos recuaram, criticando o presidente, outros tantos passaram a questionar até a voz de Bolsonaro.

"No meio, acabou aparecendo também caminhoneiros com demandas como as de 2018, porque para nós está muito ruim, ficamos no fim da fila. Mas acabou tornando-se um caos", afirma Ailton Rodrigues.

"Não é um movimento da classe. No acirramento dessas pautas antidemocráticas, apareceu essa oportunista, com um criminoso [Zé Trovão], que prega agressão física contra parlamentares e ministros do STF", afirma o deputado Crispim.

Ontem, o parlamentar enviou ofício ao diretor-geral da Polícia Rodoviária Federal (DGPRF), Silvinei Vasques, para resguardar a segurança de motoristas de caminhão que estão sendo atacados em algumas rodovias pelos grevistas.

"Oportunistas se aproveitaram de alguns que começaram a parar para reivindicar as pautas de 2018 e alguns outros obrigados a parar pelos colegas, sendo agredidos. Tudo foi transferindo para essas pautas antidemocráticas", completa o deputado.

Até o fim da tarde de hoje, a grande maioria dos bloqueios, como os de São Paulo e do Nordeste, já havia sido desmobilizada. As lideranças garantem que classe não parará e tranquiliza a população. "Isso já pode dar por encerrado, pode ter certeza", afirma Cruz.