Ligações, voo e reuniões no Planalto: como Temer moldou carta de Bolsonaro
Telefonema no dia seguinte aos atos de 7 de setembro, avaliação da situação política do país, rascunho de carta, voo da FAB (Força Aérea Brasileira) e reuniões no Palácio do Planalto. Estes foram algumas das etapas pelas quais o ex-presidente Michel Temer (MDB) passou na produção da carta intitulada "Declaração à Nação", assinada por Jair Bolsonaro (sem partido) ontem.
Após discursos golpistas em atos no Dia da Independência em Brasília e São Paulo, Bolsonaro ligou para Temer na noite de 8 de setembro. O atual presidente pediu ao antecessor uma avaliação da situação política do país.
A crise institucional foi agravada pelo próprio Bolsonaro ao dizer que não cumpriria "qualquer decisão" de Alexandre de Moraes. O ministro chegou ao STF (Supremo Tribunal Federal) por indicação de Temer. Há juristas que acreditam que Bolsonaro cometeu crime de responsabilidade ao declarar tal posição.
Grupos de caminhoneiros também passaram a bloquear rodovias pelo país e permaneceram na Esplanada dos Ministérios, em Brasília, em protesto contra o STF.
Temer então sugeriu a Bolsonaro que divulgasse um manifesto para tentar acalmar os ânimos. Na manhã de ontem, voltaram a se falar por telefone, e Temer leu o esboço de uma carta que escreveu. O texto foi revisado ainda pelo marqueteiro do ex-presidente, Elsinho Mouco.
Bolsonaro se animou com a ideia e mandou um avião da FAB buscar Temer em São Paulo para que pudessem conversar pessoalmente no Planalto.
Ao chegar à Base Aérea de Brasília, Temer foi recebido por auxiliares de Bolsonaro e levado diretamente para a sede do Executivo federal. Ele entrou pela garagem e foi ao encontro de Bolsonaro no elevador privativo que desemboca no gabinete presidencial.
Ao lado de ministros e auxiliares, ambos debateram o rascunho da carta. Também almoçaram juntos.
Enquanto Bolsonaro fazia mais algumas alterações, Temer visitou o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB). O encontro foi intermediado pelo chefe da Casa Civil do DF, Gustavo Rocha. Ele foi ministro dos Direitos Humanos e subchefe para Assuntos Jurídicos da Casa Civil da Presidência da República no governo Temer.
Segundo apurou o UOL, a visita aconteceu no gabinete de Ibaneis no Palácio do Buriti - sede do governo da capital do país - e durou cerca de meia hora.
Depois do Buriti, Temer voltou ao Planalto para ajudar a fechar a versão final da "Declaração à Nação". Nesta reunião ficaram apenas Bolsonaro, Temer e o advogado-geral da União, Bruno Bianco.
Um interlocutor de Temer disse que Bolsonaro estava "sensato e lúcido".
Foi neste momento ainda que Temer intermediou telefonema entre Bolsonaro e Alexandre de Moraes. A conversa teria sido "simples, cordial, rápida". Antes, o ex-presidente já tinha conversado com o ministro do Supremo.
A "Declaração à Nação" foi publicada no portal do Planalto por volta das 16h30.
"Acho que foi bom para o país, com toda a franqueza", disse Temer sobre o episódio em entrevista ao apresentador José Luiz Datena, na Band, ontem.
No fim da tarde, o ex-presidente voltou a São Paulo, onde mora. O ministro das Comunicações, Fábio Faria (PSD), pegou carona no voo.
Embora continue a ser peça ativa de articulações políticas, Temer afirma não ter mais pretensões de se candidatar.
O movimento dos caminhoneiros começou a se dispersar ontem após o recuo de Bolsonaro, e os manifestantes que se encontravam na Esplanada já foram retirados pelas autoridades locais.
Nos bastidores, o governo federal temia que a paralisação afetasse ainda mais a economia, com desabastecimento e aumento da inflação, por exemplo.
Outro ponto levado em consideração pelo presidente para chamar Temer a auxiliá-lo foi que este, em seu governo, enfrentou cerca de 10 dias de greve de caminhoneiros em 2018 com prejuízos mais severos para a economia e para a população.
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