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Advogada de médicos da Prevent confronta senador governista: 'Deselegância'

Gilvan Marques e Luciana Amaral

Do UOL, em São Paulo e em Brasília

28/09/2021 18h08Atualizada em 29/09/2021 15h16

O senador bolsonarista Marcos Rogério (DEM-RO) se desentendeu com a advogada Bruna Morato, que faz a defesa de 12 médicos que trabalham ou trabalharam na operadora de saúde Prevent Senior, suspeita de fraudar atestados de óbito e omitir a covid-19 como causa da morte de pacientes, durante a sessão da CPI da Covid ocorrida na tarde de hoje. O início da discussão se deu porque, para Rogério, quem deveria estar presente na Comissão Parlamentar de Inquérito eram os médicos, e não a advogada.

As testemunhas que poderiam colaborar com a CPI seriam esses médicos, e não a advogada dos médicos."
Marcos Rogério, senador

A advogada então pediu a palavra e rebateu o senador. "Senhor, Marcos Rogério, gostaria de esclarecer alguns pontos que parece desconhecer: no primeiro momento, o senhor desconhece as prerrogativas. Eu estou aqui porque tenho o direito de estar aqui. Estou aqui para defender os direitos dos meus clientes. Se o senhor desconhece a função social do advogado, o senhor não deveria estar aqui me inquirindo", rebateu ela.

Na sequência, Rogério riu em tom de deboche e afirmou: "É a primeira vez que vejo testemunha com procuração".

Essa descompostura, essa deselegância, que o senhor e outros [senadores] têm na tentativa de desqualificar a denúncia só mostra que os senhores não têm qualquer condição técnica para tentar contestar os fatos"
Bruna Morato, advogada

Em seguida, o senador Alessandro Vieira (SE), líder do Cidadania na Casa, disse ao colega do DEM. "O seu vexame aqui ultrapassa qualquer limite. Pare de passar vergonha: é evidente a figura da testemunha indireta, senador."

O vice-presidente da CPI, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), chegou a chamar Marcos Rogério de "machista", enquanto o colega tentava impedir que a advogada de concluir sua fala. O parlamentar governista reagiu: "Sexismo não, Randolfe, sexismo não", disse.

O senador Marcos Rogério (DEM-RO) - Leopoldo Silva/Agência Senado - Leopoldo Silva/Agência Senado
O senador Marcos Rogério (DEM-RO)
Imagem: Leopoldo Silva/Agência Senado

Na semana passada, a senadora Simone Tebet foi chamada de "descontrolada" pelo ministro Wagner Rosário, da CGU (Controladoria-Geral da União), que depois se desculpou.

O episódio de machismo não foi o primeiro na CPI. Em maio, por exemplo, a senadora Leila Barros (Cidadania-DF) ouviu de Marcos Rogério que "estava nervosa" quando a parlamentar questionava Fábio Wajngarten, ex-secretário de Comunicação do governo Jair Bolsonaro (sem partido).

Dossiê, denúncias e escândalo

A Prevent Senior, que já é alvo de investigações no Ministério Público, na Polícia Civil e na CPI da Covid, é acusada de supostamente pressionar seus médicos conveniados a tratar pacientes com substâncias do "kit covid", como hidroxicloroquina, que não tem eficácia comprovada contra a covid-19.

Ela também é suspeita de ter conduzido um estudo sobre a hidroxicloroquina no tratamento da doença sem avisar pacientes nem seus parentes. Tal estudo teria omitido mortes de pacientes, influenciando o resultado para dar a impressão de que o medicamento seria eficaz.

O procurador-geral de Justiça, Mario Sarrubbo, criou uma espécie de força-tarefa para investigar as denúncias contra a Prevent Senior.

Diante das acusações, a empresa vem argumentando que não havia orientação direta para uso da hidroxicloroquina ou cloroquina porque os médicos são livres para prescrever o medicamento que julgarem mais adequado para cada paciente.

A empresa também nega que tenha adulterado qualquer estudo clínico. Há suspeita de que pacientes que morreram em decorrência da covid tiveram seus atestados de óbito emitidos sem referência à doença causada pelo coronavírus, como a mãe do empresário Luciano Hang, apoiador do presidente Jair Bolsonaro.

A CPI da Covid foi criada no Senado após determinação do Supremo. A comissão, formada por 11 senadores (maioria era independente ou de oposição), investigou ações e omissões do governo Bolsonaro na pandemia do coronavírus e repasses federais a estados e municípios. Teve duração de seis meses. Seu relatório final foi enviado ao Ministério Público para eventuais criminalizações.