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Vira-casacas e traições movimentam disputa entre Doria e Leite no PSDB

O governador de São Paulo, João Doria, e do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, durante evento no Palácio dos Bandeirantes - Marcello Fim/Ofotográfico/Folhapress
O governador de São Paulo, João Doria, e do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, durante evento no Palácio dos Bandeirantes Imagem: Marcello Fim/Ofotográfico/Folhapress

Lucas Borges Teixeira

Do UOL, em São Paulo

04/10/2021 04h00

Viradas de casaca e traições têm movimentado a disputa entre os governadores Eduardo Leite (RS) e João Doria (SP) nas prévias do PSDB para a Presidência da República, marcadas para 21 de novembro.

Nas últimas duas semanas, o gaúcho tem ganhado apoios dentro do partido, inclusive entre grupos que já haviam prometido votar em Doria no pleito interno. Com equipe reforçada, o Palácio dos Bandeirantes tem contra-atacado e recuperado espaço no Nordeste.

O ex-prefeito de Manaus Arthur Virgílio (PSDB-AM) também disputa a indicação do partido para ser o candidato tucano à Presidência em 2022.

Na semana passada, o PSDB do Paraná declarou apoio "total e irrestrito" à campanha de Leite. A notícia pegou a equipe de Doria de surpresa. Próximo do ex-governador Beto Richa (PSDB-PR), principal nome do partido no estado, o paulista contava com o apoio do diretório paranaense, mesmo que alguns deputados se juntassem a Leite.

Este movimento não está isolado e chama atenção no Palácio dos Bandeirantes. Mesmo com o apoio de todos os deputados paulistas e do diretório estadual de São Paulo, liderado por Marcos Vinholi, secretário de Doria e principal articulador da pré-campanha no estado, alguns diretórios municipais, como o de Ribeirão Pires, têm liberado seus filiados para apoiar o gaúcho.

Em seu estado, Doria sofre oposição interna do ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB), com quem rompeu em 2018. Lideranças do PSDB dizem que Alckmin não esconde o descontentamento com a escolha de Doria em filiar e lançar seu vice, Rodrigo Garcia (PSDB), como sucessor ao governo paulista, e trabalha, nos bastidores, como apoiador de Leite, embora não trate das prévias publicamente.

Na capital, o vereador Xexeu Tripoli (PSDB) também iniciou abertamente um movimento pró-Leite na última sexta-feira (1º). Líder do PSDB na Câmara Municipal, ele conta que o pré-candidato do Rio Grande do Sul passou duas horas no seu gabinete "falando sobre seus projetos".

Fora de São Paulo, o deputado Aécio Neves (PSDB-MG) também tem trabalhado contra o governador paulista. Doria tentou expulsar o mineiro do partido e a briga se tornou pública. Isso fez com que o diretório estadual mineiro se juntasse a Leite.

Outro reforço de Leite na última semana foi o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE). Já era esperado que o cearense, principal cacique do partido fora de São Paulo, fizesse esse movimento, mas o seu empenho em virar votos para o gaúcho, trazendo-o, inclusive, para se reunir com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso na última quarta (29), incomodou o grupo de Doria.

Em agosto, FHC chancelou o apoio ao governador paulista. Em entrevista coletiva no mesmo dia, Doria disse que o encontro "é natural". "O presidente FHC não só se pronunciou, como fez isso duas vezes em vídeos e, neles, manifestou seu apoio ao nosso nome", declarou. Tasso, por sua vez, garante que ele e o ex-presidente "votarão juntos" — em Leite.

No contra-ataque, Doria tem dedicado os finais de semana a viajar o país e trazer apoios para o seu lado. No Rio Grande do Sul, reduto de Leite, conseguiu trazer a ex-governadora Yeda Crusius (PSDB). Em Minas Gerais, de Aécio, conquistou o deputado Domingos Savio (PSDB-MG).

Na Paraíba, o grupo de Doria conseguiu virar o deputado Ruy Carneiro (PSDB). Embora não tivesse declarado voto, ele acompanhou Leite numa visita ao estado no meio de agosto. Nesta semana, divulgou um vídeo apoiando o paulista.

Disputa acirrada

Com a mudança do Paraná, o quadro, nas contas entre as pré-campanhas, aponta pelo menos sete estados com o gaúcho (Alagoas, Bahia, Ceará, Minas Gerais, Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina) e no mínimo cinco com o paulista (Acre, Distrito Federal, Pará, São Paulo e Tocantins). Virgílio tem o apoio do Amazonas.

As indicações de apoio dos diretórios estaduais, no entanto, são só meia banda da disputa. Para este ano, as prévias do PSDB são proporcionais de acordo com o cargo ocupado, dividido em quatro grupos:

  • 25% para votos de governadores, vice-governadores, presidente e ex-presidentes do partido, deputados federais e senadores
  • 25% para prefeitos e vice-prefeitos
  • 25% para vereadores e deputados estaduais e distritais
  • 25% para filiados no geral, sem mandato

Este formato representou uma derrota para Doria, que lutava por 50% para os filiados sem mandato. O estado de São Paulo tem de 25% a 30% de filiados do partido, o que daria uma vantagem considerável ao paulista.

É neste grupo e no de prefeitos e vice-prefeitos que a campanha de Doria tem fiado a vitória. São Paulo representa cerca de 1/3 do total de prefeituras tucanas do país, com quase 180 cidades.

Não é um xadrez fácil. Na live em que Tasso fez com Leite, tucanos do Mato Grosso do Sul divulgaram voto em gaúcho, mas, ao UOL, o diretório estadual afirmou que não tem apoio fechado e tem tratado os dois candidatos igualmente. O estado é o único governado por um tucano além de SP e RS. Entre os três deputados federais sul-mato-grossenses, dois devem ficar com Leite e um com Doria.

A avaliação no Palácio dos Bandeirantes é que, entre governadores e deputados, a disputa está acirrada e, entre vereadores e representantes estaduais, é praticamente impossível de apurar.