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Xingada por protestar com MBL, presidente da UNE diz que ataques seguem

Colaboração para o UOL, no Rio

22/10/2021 11h00Atualizada em 22/10/2021 16h27

A presidente da UNE (União Nacional dos Estudantes), Bruna Brelaz (PCdoB), disse no UOL Entrevista de hoje que os ataques que sofreu após revelar apoio a uma frente ampla pelo impeachment do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) seguem acontecendo.

Após uma entrevista à Folha de S. Paulo, em que também mencionou a necessidade de discutir a rede de ódio que existe na esquerda do país, Bruna recebeu ameaças e xingamentos racistas e machistas.

"Imaginei que isso poderia continuar acontecendo por conta do enfrentamento que faço neste sentido. Infelizmente continua acontecendo e a gente tem procurado tomar todas as medidas judiciais", disse Bruna.

A ativista afirmou que desde que chegou à UNE, em 2019, imaginou que poderia ser alvo de ataques. Ela só não esperava que setores considerados progressistas iriam se virar contra ela.

Você olha para fora e acha que vai acontecer só com os outros. Eu não esperava. Esperava do bolsonarismo, um enfrentamento direto com essa rede de ódio do bolsonarismo, mas não esperava desses setores isolados do próprio campo que faço parte
Bruna Brelaz

'Caso não é isolado'

Bruna disse que os ataques contra ela a atingiram "em cheio". Para ela, que é a primeira mulher negra e do Norte do país na Presidência da UNE, seu caso não é isolado.

"Diversas mulheres negras passam por isso de forma cotidiana dentro da Internet, sofrendo ataques de ódio, misóginos, racistas, e a gente precisa enfrentar esse debate de forma muito profunda", disse a ativista.

A presidente da UNE afirmou que denúncias sobre casos semelhantes não devem ficar apenas na Internet. Por isso, ela analisa as medidas judiciais que poderá tomar.

Fake news, discurso de ódio, precisa ser combatido judicialmente
Bruna Brelaz

Frente ampla

No palanque das manifestações de 12 de setembro, lideradas pelo MBL (Movimento Brasil Livre) e Vem Pra Rua e que contaram com representantes de partidos de centro e direita, Bruna defende a união desses grupos contra Bolsonaro. Para ela, isso não quer dizer que apoie todas as causas defendidas por eles.

"Não acho que a gente tem que desconsiderar a participação dessas figuras. Elas mobilizam setores. Se esses setores querem ser 'fora Bolsonaro', beleza. Aí na democracia, a gente vai enfrentar todos os ataques que eles fizeram ao campo da esquerda e às figuras também", disse Bruna.

A presidente da UNE vê como principal preocupação no momento a possibilidade de reeleição de Bolsonaro. Por isso, ela defende a união entre movimentos que apoiam o impeachment do presidente.

Se eles estão topando defender o 'fora Bolsonaro' e defender a democracia, por que eles não podem ser um movimento partícipe, no seu campo, na sua visão de ideias?
Bruna Brelaz

Criticas à direita

Vendo Bolsonaro como antidemocrático, Bruna critica a direita quando acredita na possibilidade de "domar" o presidente. Ela defende que os movimentos mais conservadores precisam de uma posição "mais firme" em relação ao chefe do Executivo federal.

"A agenda econômica do Bolsonaro, inclusive, não contempla eles. Não é de interesse deles. Talvez exista uma ilusão dessa direita de domar o bolsonarismo", diz Bruna.

A ativista vê o recuo que Bolsonaro fez após os ataques às instituições nos atos de 7 de setembro como "falsos". Ela diz que a agenda do presidente é golpista.

O grande perigo de Bolsonaro estar em 2022 é entender que Bolsonaro não respeita a democracia, flerta com o fascismo e é a personificação do obscurantismo
Bruna Brelaz

2022

Sobre as eleições do ano que vem, a presidente da UNE defende uma conversa entre opositores políticos contra Bolsonaro. Ela diz que o atual presidente não pode ser subestimado em 2022.

"A gente vai ter mais um ano de governo Bolsonaro e a gente sabe o que Bolsonaro é capaz de fazer. Não podemos subestimar Bolsonaro nunca mais. Em 2018, fizemos isso, todo mundo. Direita e esquerda, centro subestimaram Bolsonaro, acharam que ele era mais um palhaço e Bolsonaro se tornou presidente da República", disse Bruna.

Para a ativista, a responsabilidade de procurar diálogo entre visões políticas diferentes não é só do ex-presidente Lula (PT), mas também de outras lideranças.

O papel não é só do Lula. O papel também perpassa por outras lideranças que fazem criticas a Bolsonaro, mas não têm coragem de articular seus partidos para articulação do impeachment. Esses partidos têm ligação com o Centrão, com a direita, e pouco fazem para que o impeachment tenha a sua viabilidade
Bruna Brelaz