Revista acusa assessor de Carlos Bolsonaro de tentativa de intimidação
A revista Veja publicou uma reportagem hoje em que acusa o advogado Rogério Cupti de Medeiros Junior, assessor lotado no gabinete do vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), de tentativa de intimidação na Justiça contra uma repórter que tentou contato com ele para uma apuração sobre o trabalho dos atuais servidores do político. Procurado pelo UOL, Medeiros diz que respeita o trabalho jornalístico (veja mais abaixo).
Em maio, o TJ-RJ (Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro) autorizou a quebra de sigilos bancário e fiscal do vereador, filho do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Ele é investigado pelo MP-RJ (Ministério Público do Rio) desde julho de 2019 por suspeita de praticar rachadinha e nomear "funcionários fantasmas" —pessoas que não trabalhavam de fato em seu gabinete na Câmara Municipal do Rio. Outras 26 pessoas, incluindo ex-assessores, e sete empresas suspeitas também tiveram os sigilos quebrados. Na época, Carlos negou irregularidades.
Segundo a revista, de posse da lista de funcionários atuais, uma equipe de reportagem foi em setembro ao gabinete do vereador na Câmara do Rio, mas ninguém atendeu — no atual regime da Casa, em razão da pandemia da covid-19, cada gabinete decide quem vai presencialmente ao trabalho e quem faz home office.
A revista informa que Medeiros defendeu Carlos em duas ações. Desde janeiro, ele é um dos assessores lotados no gabinete do vereador, conforme informações que constam no portal de transparência da Câmara. A reportagem diz ter tentado falar com o advogado entre os dias 8 e 15 de setembro — foi uma vez até a casa dele e telefonou três vezes.
Ainda de acordo com Veja, o assessor de Carlos Bolsonaro classificou essas atitudes como "perseguição" que levaram-no a abrir uma notícia crime contra a repórter Sofia Cerqueira.
Medeiros alegou ter tido a "intimidade de pessoa comum" invadida pela jornalista — a revista esclareceu que ela se identificou em todos os contatos e relatou a ele o tema da reportagem.
Inquérito nas mãos de delegado com histórico favorável a Bolsonaro
A queixa foi protocolada por Medeiros em 28 de setembro e, apesar de não envolver assuntos relacionados à tecnologia ou informática, virou inquérito pelas mãos do delegado Pablo Sartori, titular da DRCI (Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática) do Rio. Em 4 de novembro, Sartori remeteu o caso à Justiça. O Ministério Público devolveu o inquérito à delegacia por uma questão processual — a falta de petição inicial — e aguarda o reenvio.
Sartori sempre negou favorecimento político, mas tem um histórico de atos favoráveis à família Bolsonaro, como intimação dos apresentadores do Jornal Nacional, William Bonner e Renata Vasconcellos, por suposto crime de desobediência a uma decisão judicial sobre a investigação das "rachadinhas" no gabinete da Alerj (Assembleia Legislativa do RJ) de Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ).
Ele também intimou o youtuber e influenciador digital Felipe Neto por suposto crime previsto na Lei de Segurança Nacional, depois que ele se referiu ao presidente como "genocida" em uma postagem.
Nomeado com vencimentos de R$ 12.900, Medeiros afirmou à revista que não exerce nenhuma atividade paralela. No entanto, segundo Veja, ele está à frente da empresa Impacto — Atirador Desportivo, consultoria para legalização do porte de arma. Ele disse que só presta uma ajuda a amigos. "Agora, se a senhora quiser, acho válido ter uma arma de fogo na sua casa, ainda mais sendo jornalista. Vocês sempre dizem que são atacados", disse ele, para a jornalista de Veja.
Em postagens nas redes sociais, ele diz cobrar R$ 500 "simbólicos" pelo trabalho na consultoria. Em um endereço da empresa, no entanto, uma pessoa registrou, por escrito, que o valor do serviço é R$ 3 mil à vista ou R$ 3.500 parcelados, conforme a revista.
Outro lado
Procurado pelo UOL, Medeiros afirmou que irá se reportar aos autos do inquérito. "Informo que respeito o trabalho jornalístico e qualquer profissional de qualquer área independente do grau de ensino."
O UOL entrou em contato com o gabinete de Carlos Bolsonaro por telefone e e-mail, além da defesa dele, mas ainda não teve retorno. O espaço está aberto para manifestação.
Em nota, a assessoria da Polícia Civil informou que "a DRCI recebe demandas de todos os segmentos ideológicos, utilizando o mesmo protocolo de atendimento sem qualquer distinção, dentro da lei e com cordialidade".
Trabalho a distância
A reportagem de Veja também informa que localizou Almir Longo Pereira, advogado e assessor contratado por R$ 8.200, trabalhando em um escritório próprio de advocacia em Cachoeiras de Macacu, a 120 quilômetros da Câmara.
Ele exibiu um crachá oficial, disse que "faz consultoria jurídica para o vereador" e que está em home office. "Reitero informação da regular e legitima prestação de assessoria jurídico-parlamentar junto ao gabinete, em home office e atividades presenciais", afirmou ele ao ser procurado pelo UOL.
Já Levy Alves dos Santos Barbosa serviu no gabinete de Jair Bolsonaro quando ele era deputado federal — salário de R$ 8 mil e nenhum registro de presença na Câmara. Ao mesmo tempo, segundo Veja, manteve licença de feirante na Prefeitura do Rio, com autorização para vender em quatro feiras.
Em janeiro de 2018, quando foi trabalhar no gabinete de Carlos, seguiu com a dupla jornada e até agosto daquele ano manteve a licença de feira ativa. Hoje, segundo a reportagem, recebe R$ 18.690. Ele tem o segundo grau e é dono de uma quitinete em construção no terreno de parentes em Bento Ribeiro, na zona norte do Rio. Segundo Veja, é visto com frequência, em horário comercial, em um bar da região.
O ex-motoboy Alexander Florindo Baptista Júnior, outro assessor do vereador, recebe R$ 15.900. Ele também tem o ensino médio, concluído em supletivo aos 22 anos, e vive em uma área pobre da Baixada Fluminense. Foi visto pela reportagem de Veja levando um parente para cortar o cabelo em uma sexta-feira à tarde.
O UOL não localizou Barbosa e Baptista. O espaço está aberto para manifestação.
A reportagem da revista informa ainda ter voltado ao gabinete de Carlos após as gravações e anotações e foi recebida por uma assessora. Uma das justificativas dadas por ela para o gabinete costumar estar vazio foi de que parte dos servidores atua em uma espécie de 'Q.G.' da família Bolsonaro em Bento Ribeiro.
Veja relatou que quase não há movimento no local e que nas cinco vezes em que tocou o interfone do imóvel só foi atendida em uma. A pessoa informou que seguia uma "escala", mas não deu detalhes.
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