Lula ficou no muro e liberou apoio a Motta quando já era irreversível
Deputados, ministros e até o presidente Lula preferiam esperar mais para definir a posição do PT na sucessão da Câmara, mas foram vencidos pela pressa da bancada petista em selar apoio a Hugo Motta (Republicanos-PB).
Como diz um experiente petista, Lula sinalizava que ainda não queria tomar posição, mas via o trem andando e não mandava parar. Quando o trem passou, o presidente não estava na condução, mas não perdeu lugar na janelinha. Já os mais de 20 deputados que eram contra o apoio a Motta ficaram para trás, assim como ministros, em especial Rui Costa (Casa Civil).
A sucessão de agendas marcadas e desmarcadas na terça-feira (29) mostra o atropelo. A bancada petista tinha uma reunião marcada com Hugo Motta às 10h e outra sem ele às 13h para definir uma posição. Lula chamou o líder, Odair Cunha (MG), pra uma conversa. As duas reuniões caíram, e outra foi marcada para as 17h.
Neste encontro no final do dia, os deputados petistas que compareceram decidiram por consenso apoiar Motta. Mas vários nem apareceram por já terem entendido qual seria o desfecho.
Cerca de 20 deputados do PT eram contra o acordo nos termos em que foram fechados. O partido fica com a primeira secretaria na Mesa Diretora, uma vaga no Tribunal de Contas da União e a relatoria da Lei de Diretrizes Orçamentárias.
Mas seu apoio não foi condicionado a compromissos políticos, alianças para 2026 nem a votação de projetos caros à legenda. São críticas como essas que petistas fazem ao acordo com Motta.
Mas deputados favoráveis dizem que não houve nenhuma construção do governo para um desfecho diferente.
"O governo não tem voto. Arthur Lira [PP-AL] se transformou em uma espécie de poder moderador pra o governo aprovar alguma coisa", diz Reginaldo Lopes (PT-MG).
O ministro Rui Costa foi um dos que tentou viabilizar outro desfecho, sem sucesso. No começo do governo, Costa vetava acordos com Elmar Nascimento (UB-BA), que era o cândido de Lira. Depois que Lira trocou Elmar por Motta, Costa voltou a considerar a costura com Elmar.
Já era tarde. Ao perceber que o trem passou, Lula falou à bancada: vocês decidem, contou Reginaldo Lopes.
Para alcançar essa maioria na bancada petista, Arthur Lira articulou mano a mano com alguns deputados. Chamava aqueles com quem tem boa relação para tentar dissipar resistências.
Petistas como Zeca Dirceu (PR), segundo relatos, simplesmente não queriam decidir no tempo de Lira, e sim no que fosse mais conveniente ao partido e ao governo. Mas Lira costurou por dentro e conseguiu.
Ao observar a cena toda, deputados lembram que Lira rompeu com o ministro de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, passou mais de ano sem recebê-lo, Lula o manteve no cargo e Rui Costa assumiu a interlocução.
Tudo isso depois de um processo eleitoral em que o PT teve mau desempenho e pouco envolvimento do presidente.
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Quero receberDaí surgiu um dos argumentos usados internamente na bancada petista para fechar acordo com Hugo Motta e formar um bloco com PL, com tudo. Segundo essa lógica, tudo bem anistiar Jair Bolsonaro (PL) e deixá-lo concorrer com Lula em 2026. Melhor do que outro nome da direita mais competitivo.
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