'Lula é uma grande figura, mas o PT faz muito mal ao Brasil', diz Aécio
O deputado federal e ex-governador de Minas Gerais Aécio Neves (PSDB-MG) criticou hoje, em entrevistas ao jornal O Globo e ao Estadão, os acenos feitos pelo ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin ao PT, rival histórico da sigla tucana nas disputas presidenciais. Segundo ele, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) é uma "grande figura", mas o Partido dos Trabalhadores teria feito "muito mal" ao Brasil.
"Lamento que Alckmin, pela sua história dentro do partido, não tenha escolhido o partido como seu campo de luta. Vivemos três anos consecutivos de recessão em razão da política da nova matriz econômica do PT. Queremos isso de novo?", indagou Aécio, ao citar a possibilidade de Alckmin deixar o PSDB para concorrer como vice numa chapa com o ex-presidente Lula.
Em outra entrevista, também nesta sexta, ao jornal O Estado de S. Paulo, Aécio reiterou o descontentamento com a possibilidade de Alckmin ser vice de Lula em 2022. Caso isso ocorra, o ex-governador deve se filiar ao PSB, partido que apoiará Lula em 2022, de acordo com interlocutores ouvidos pelo UOL.
"Acho contraditória uma aliança com o PT; nós combatemos o PT a vida inteira. Tanto ele (Alckmin) quanto eu e muitos outros. Não porque não gostamos do Lula, o Lula é uma grande figura, um cara bacana para sentar e tomar uma cachaça. Eu tive uma ótima relação com ele durante oito anos, mas o PT faz muito mal ao Brasil"
Aécio Neves, deputado federal, em entrevista ao Estadão
Racha no PSDB: 'Prévias foram montadas'
Nas reportagens publicadas hoje, Aécio confirmou a divisão interna do PSDB, ao afirmar que a vitória de Doria nas prévias foi um "enredo montado" pelo presidente do PSDB, Bruno Araújo.
"Desde quando, em março, sem reunir a Executiva, sem consultar ninguém, com exceção obviamente do João Doria, marcou para este ano as prévias, ao contrário do que tínhamos proposto, que ocorresse no primeiro trimestre do ano que vem, já com um ambiente político um pouco mais claro", afirmou a O Globo.
O resultado das prévias foi divulgado no último dia 27. Doria ficou com 53,99% dos votos e Eduardo Leite, 44,66%. O ex-senador Arthur Virgílio obteve 1,35%.
O ex-governador de Minas Gerais havia endossado o nome do governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, contra Doria, na disputa interna. Mas afirmou que aceita o resultado desfavorável, embora, em sua avaliação, a atuação do governador de São Paulo, João Doria nas prévias do partido tenha sido inescrupulosa.
"[Doria é] uma máquina avassaladora do governo de São Paulo. Jamais havia visto funcionar dessa forma. E até com muita competência, mas sem limites. Mas ele venceu, nós aceitamos o jogo", disse a O Globo.
Ao jornal O Estado de S. Paulo, Aécio disse que o governador de São Paulo precisa buscar união e mostrar que a parcela do partido que não o apoiou estava errada: "Mesmo que o PSDB não vença essas eleições, nós temos de sobreviver enquanto um partido sólido no Congresso. Está com ele (Doria) a bola, cabe agora demonstrar que nós estávamos errados e construir em torno de si uma grande aliança."
Críticas a Sergio Moro
Questionado sobre a possibilidade de o PSDB abrir mão de uma candidatura presidencial em 2022 para apoiar algum candidato com mais chances de eleição que Doria, como Sergio Moro ou Ciro Gomes, Aécio fez uma série de críticas ao ex-juiz da Lava Jato e ex-ministro da Justiça: "Ele já é um político, já age como político."
Na avaliação de Aécio, Moro é uma figura importante na política, mas cobra posicionamentos claros e transparência do ex-juiz.
"Ele é um player hoje importante, fala para uma parcela da população, mas o Brasil precisa de um presidente da República que conheça os problemas brasileiros, que tenha time, que tenha proposta para enfrentar os desafios que o Brasil tem, que não são poucos", afirmou. "Se nós chegarmos extremamente isolados, obviamente que o PSDB vai discutir a conveniência ou não de ter essa candidatura."
De olho na disputa pelo Planalto em 2022, Moro tem endurecido cada vez mais o tom de suas críticas a Lula e Bolsonaro, numa tentativa de se destacar como o principal candidato da terceira via no pleito. "O brasileiro não pode ser obrigado a escolher um governo que no passado foi marcado por dois escândalos de corrupção, o mensalão e o petrolão, e o atual governo, da rachadinha", disse à Rádio Jornal nesta sexta-feira.
Réu na Lava Jato
O ex-governador de Minas Gerais é réu na Operação Lava Jato da Justiça Federal de São Paulo por corrupção passiva e tentativa de obstrução judicial. A denúncia do MPF (Ministério Público Federal) partiu de uma delação de Joesley Batista, do Grupo J&F. O empresário afirmou ter pago propina no valor de R$ 2 milhões ao deputado.
Aécio diz que a operação cumpriu papel importante para o país, mas afirma também que houve exageros. "Meu caso é um deles. Tanto que a Justiça está demonstrando isso em todos os inquéritos que foram abertos pelo (Rodrigo) Janot à época. E houve uma motivação claramente política. [...] Acho até que o (Sergio) Moro precisa fazer algo que quem sabe ajudaria na sua própria candidatura. Ele próprio pedir para tornar públicas todas as gravações que foram parcialmente divulgadas."
O deputado federal alega ter sido vítima de um "conluio" entre Ministério Público e JBS. "Fui vítima de uma armação criminosa e de um conluio entre Ministério Público e esse cidadão da JBS, réus confessos de mais de 200 crimes, que criaram ali uma falsa narrativa para conseguir imunidade absoluta dos seus crimes."
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