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Com Moro no retrovisor, Bolsonaro faz discurso anticorrupção e exalta PF

7.out.2021 - Jair Bolsonaro (PL) e o seu ex-ministro da Justiça e atual adversário, Sergio Moro - Adriano Machado/Reuters
7.out.2021 - Jair Bolsonaro (PL) e o seu ex-ministro da Justiça e atual adversário, Sergio Moro Imagem: Adriano Machado/Reuters

Hanrrikson de Andrade

Do UOL, em Brasília

16/12/2021 10h24

O presidente Jair Bolsonaro (PL) fez hoje um afago à Polícia Federal, instituição que ganhou visibilidade nos últimos anos devido às ações da Lava Jato —evento muito associado ao ex-juiz federal Sergio Moro, provável adversário na corrida eleitoral do ano que vem.

Em discurso durante solenidade em Brasília, o governante também voltou a usar a retórica anticorrupção (marca da Lava Jato) e disse considerar que o trabalho da PF no combate a desvios de agentes públicos "fez com que ele [Bolsonaro] aparecesse para a política em 2018".

"Se associa muito a Polícia Federal no combate à corrupção. Sim, é uma das missões mais importantes de vocês. E vocês, agindo como agem, cada vez mais leva à nossa população o sentimento de que o Brasil pode dar certo. Nós continuamos combatendo a corrupção. Um mal que veio para o Brasil, mas que cada vez mais ele se apresenta como que pode ser combatido, como que nós podemos ter sucesso nessa questão [sic]", disse ele durante formatura de policiais federais.

E digo mais: o trabalho de vocês, em grande parte, fez com que eu aparecesse até na política em 2018. Não só com discurso. Mas dentro da Câmara dos Deputados, como temos aqui alguns parlamentares presentes, deputados federais oriundos da Polícia Federal e irmanados conosco nessa luta
Jair Bolsonaro (PL), em evento realizado hoje em Brasília

As declarações de Bolsonaro, com elogios à PF e com referências aos esforços anticorrupção no país, ocorrem em meio ao crescimento da pré-candidatura de Moro, ex-juiz federal que se notabilizou à frente da Lava Jato junto a personagens do MPF (Ministério Público Federal) como o ex-procurador Deltan Dallagnol. A dupla se filiou ao mesmo partido, o Podemos, e ensaia a migração para a política no ano que vem. Deltan deve concorrer a uma vaga no Congresso Nacional.

É fácil combater a corrupção? Não é fácil. Mas é um objetivo a ser perseguido. Porque isso dá esperança a todos nós brasileiros. Que nós podemos, sim, lá na frente, ter dias melhores para o país
Jair Bolsonaro (PL)

Na primeira pesquisa feita pelo Ipec após a filiação de Moro ao Podemos, divulgada na terça-feira (14), observou-se o ex-magistrado com 6% das intenções de voto —em terceiro lugar, atrás de Bolsonaro (21%) e de Luiz Inácio Lula da Silva (48%). A margem de erro da amostra é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos, com nível de confiança de 95%.

Estrategistas da pré-candidatura de Moro avaliam que ele tem potencial para crescer ainda mais e consolidar o discurso de uma "terceira via" viável, isto é, uma alternativa aos representantes dos campos mais polarizados, Bolsonaro (à direita) e Lula (à esquerda).

No entorno do atual presidente, há entendimento de que Moro pode atrair votos de eleitores com viés ideológico conservador e alinhados à direita —principalmente em função do destaque obtido durante os anos de Operação Lava Jato.

Em 2018, a repercussão do trabalho da Lava Jato tornou-se um evento político que ajudou a impulsionar o triunfo de um bloco político vinculado ao ideário da direita conservadora. A vitória de Bolsonaro na disputa com o PT foi o principal ícone desse movimento, mas as eleições também foram marcadas por uma renovação em massa do perfil do Congresso Nacional.

Dentro do Parlamento, inclusive, surgiu a "bancada lavajatista", que foi capitaneada pelo Podemos (partido que Moro acabou se filiando no mês passado).

Além da questão do combate à corrupção, tema em que o ex-juiz federal e o atual presidente devem disputar a "paternidade", os elogios de Bolsonaro à PF também colocam em perspectiva o motivo da saída de Moro do atual governo, em abril de 2020.

À época, o então ministro da Justiça e Segurança Pública do governo Bolsonaro pediu demissão e alegou que o chefe tentou interferir na escolha do diretor-geral da Polícia Federal. O presidente nega ter agido dessa forma e acusa o ex-subordinado de traição.