PSDB: Passado para trás por Doria, Alckmin deixa partido que ergueu em SP
O PSDB terá um de seus fundadores e principais representantes do outro lado da disputa eleitoral em 2022. Depois de 33 anos, o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin anunciou a saída do partido e, agora, estará na oposição pela primeira vez —com a possibilidade, inclusive, de estar ao lado de um dos principais adversários dos tucanos, o PT.
Em desavença velada com o governador paulista, João Doria (PSDB), Alckmin esperou as prévias do partido à presidência, vencida pelo ex-aliado, para fazer o movimento, esperado há alguns meses.
Peça-chave para entender como o PSDB conseguiu se manter à frente do governo de São Paulo desde 1995, Alckmin diz que o partido já não é o mesmo que ajudou a fundar e vê sua saída ser tratada como algo "banal" por quem fica.
Hegemonia em São Paulo
As trajetórias de Alckmin e PSDB se misturam. O ex-governador foi a sétima assinatura na lista de presença dos fundadores do partido. "Ele mostra orgulhoso um documento que tem com as primeiras assinaturas do PSDB. Aí ele mostra a dele, que é a sétima assinatura", diz o cientista político Henrique Curi, autor de "Ninho dos Tucanos".
O ex-governador foi trazido para o PSDB pelo hoje senador José Serra, após o trabalho de Alckmin como deputado constituinte. Ambos deixavam o PMDB, atual MDB, para seguir com outros dissidentes para o novo partido.
Mais do que fundador, Alckmin ajudou a construir o domínio do PSDB no estado de São Paulo. De 1995 a 2001, foi vice de Mário Covas e assumiu o governo após a morte do companheiro de chapa. No ano seguinte, foi eleito governador.
Sua hegemonia no estado, porém, foi marcada na década de 2010, quando venceu duas eleições em primeiro turno —na segunda vez, derrotado apenas em uma das 645 cidades do estado, Hortolândia.
Ao todo, foram quatro mandatos, tendo deixado o Palácio dos Bandeirantes em 2018 para concorrer à Presidência, quando amargou o quarto lugar, com menos de 5% dos votos —pior resultado do partido em uma eleição presidencial.
O cientista político ressalta que Alckmin tinha a característica de buscar lideranças para o PSDB em praticamente todos os locais do estado, indo a igrejas, sindicatos e associações. Seu ponto mais tradicional são as padarias, que ele apelida de escritório oficial.
Alckmin foi indicado para vice de Covas, em 1994, exatamente pela força que tinha no interior de São Paulo. Quatro anos antes, Covas, que era favorito na eleição estadual, ficou em terceiro lugar, com apenas 15% dos votos, atrás de Paulo Maluf (então no PDS) e Luiz Antônio Fleury Filho (PMDB), que viria a ganhar a eleição. À época, a avaliação era que Covas era conhecido na capital, e a articulação de Alckmin seria importante no interior e no litoral norte.
O preferido de Covas era Walter Barelli, ex-presidente do Dieese e ligado aos sindicatos —portanto identificado como de esquerda.
"Ele [Alckmin] é uma figura de referência dentro do partido, uma pessoa que viveu a vida política dele dentro do partido", diz o senador José Aníbal (PSDB-SP), que lamenta a saída de Alckmin. "A questão da memória é importante, ainda mais de uma memória que é muito positiva."
Um tucano fora do ninho
Esta será a primeira eleição em que o ex-governador e o PSDB estarão em lados opostos. Se vai ser difícil para o partido enfrentar um dos seus nomes mais fortes em São Paulo e líder nas pesquisas em uma eleição estadual, também não será fácil para Alckmin.
Hoje, ele vem sendo alçado à disputa pela Presidência da República, como vice de Lula (PT).
Mas a disputa pela vaga no Palácio dos Bandeirantes foi um dos motivadores de sua saída. Com Doria voltado ao Planalto, o ex-governador se considerava o sucessor natural.
No entanto, a relação com Doria, estremecida desde 2018 com o BolsoDoria, piorou quando o atual governador trouxe seu vice, Rodrigo Garcia, do DEM para o PSDB com o objetivo de postulá-lo como candidato ao governo.
Garcia se inscreveu nas prévias do PSDB. Alckmin, irritado, se recusou e passou a debochar do pleito enquanto articulava com aliados a possibilidade de sair do partido. Sua avaliação sempre foi que o péssimo resultado em 2018 foi influenciado pelo bolsonarismo, mas, no estado, ele continua forte.
"Acho que, para ele, é uma eleição muito mais difícil porque ele não vai poder bater no governo porque tudo foi continuado", pontua Fernando Alfredo, presidente do PSDB paulistano, que recebeu o pedido de desfiliação de Alckmin nesta quarta (15).
A recíproca é verdadeira. Apoiadores lembram que Garcia serviu três secretarias em governos alckmistas. Assim, criticar o ex-governador avidamente, como faz Doria em alguns de seus discursos, poderia ser um tiro no pé.
Por outro lado, Alckmin não terá a estrutura do governo como força também pela primeira vez. Aliados contam que, nos últimos meses, o ex-governador tem feito contas em um papel para projetar o custo de uma campanha, o que lhe tem gerado uma certa preocupação.
Partido rachado
Por mais que o partido se recuse a falar abertamente, a saída de uma das principais lideranças ajuda a revelar a divisão que tem dominado a legenda nos últimos anos.
Nas prévias, a disputa entre Doria e o governador Eduardo Leite (PSDB-RS) ganhou um tom mais agressivo do que o esperado e até Alckmin, que tentou se manter longe do pleito oficialmente, acabou se metendo —e articulando pelo gaúcho, de maneira mais discreta.
Entre lideranças, a forma como Doria tratou o ex-governador —chamada por muitos de traição— foi um dos motivos para que se alinhassem a Leite. O atual governador paulista passou a ser visto como não confiável.
Da esquerda à direita
Antes mesmo de sua saída do PSDB, Alckmin já tinha conversado com possíveis aliados de praticamente todo o espectro político, do PDT, mais à esquerda, ao União Brasil, mais à direita.
O perfil articulador de Alckmin permitiu até que seu nome fosse especulado como candidato a vice-presidente em uma eventual chapa encabeçada pelo ex-presidente Lula, com o qual rivalizou nas eleições presidenciais.
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