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STF dá 180 dias para polícia do RJ usar câmeras em fardas e viaturas

PM do Rio começou a usar câmeras na farda no último réveillon, em Copacabana - Reprodução/TV Bandeirantes
PM do Rio começou a usar câmeras na farda no último réveillon, em Copacabana Imagem: Reprodução/TV Bandeirantes

Rafael Neves

Do UOL, em Brasília

03/02/2022 17h04

O STF (Supremo Tribunal Federal) decidiu hoje, por 9 votos a 2, dar um prazo de 180 dias para que as forças policiais do Rio de Janeiro instalem câmeras e equipamentos de GPS nas viaturas e nas fardas dos agentes. A determinação faz parte de uma série de balizas que o Supremo firmou para a atuação das polícias no estado, em julgamento encerrado hoje.

Os ministros Nunes Marques e André Mendonça, indicados ao Supremo pelo presidente Jair Bolsonaro (PL), foram os únicos que votaram contra a delimitação do prazo. O governo do Rio comprou mais de 21 mil câmeras portáteis, mas só começou a utilizá-las na última virada do ano em Copacabana, ainda em estágio de testes.

Além de determinarem a instalação dos equipamentos, os ministros deram 90 dias ao estado do Rio para que elabore um plano de redução da letalidade policial. A esse respeito, o governo fluminense afirmou em nota ao UOL que "se antecipou e já está concluindo" um plano nesse sentido.

O caso corre no STF desde 2020, quando o tribunal havia decidido, por maioria de votos, suspender as operações em favelas do Rio durante a pandemia, salvo em situações excepcionais. Um ano e meio mais tarde, os tiroteios na região metropolitana da capital haviam caído em 38%.

Mas o PSB, autor da ação, alegou ao Supremo que partes da decisão não estavam sendo cumpridas. Um dos pedidos do partido foi para que o tribunal retirasse o sigilo dos protocolos para operações policiais com helicópteros nas comunidades. As aeronaves foram usadas, por exemplo, na chacina do Jacarezinho, que deixou 28 mortos em maio do ano passado.

Ao todo, os ministros julgaram 11 medidas que eram defendidas pelo ministro Edson Fachin, relator do caso, em relação à atuação das polícias no Rio. A maioria dos tópicos foi endossada pelos magistrados:

  • Elaborar plano de redução da letalidade policial em 90 dias - Aprovado (11 votos a 0)

Por unanimidade, os ministros determinaram ao governo do Rio que elabore e envie ao tribunal, em até 90 dias, "um plano visando à redução da letalidade policial e ao controle de violações de direitos humanos pelas forças de segurança fluminenses". Segundo a decisão, este plano deve ter medidas objetivas, cronogramas e previsão de custos.

Em nota, o governo do Rio afirmou que "se antecipou e já está concluindo um plano de redução de letalidade policial". Segundo o Executivo fluminense, foi criado um grupo de trabalho com todas as instituições que atuam na segurança pública para acompanhar o trabalho.

  • Que a polícia siga os princípios básicos da ONU para atuação nas operações - Aprovado (10 votos a 1)
Segundo a decisão, as operações policiais no Rio devem ocorrer conforme os Princípios Básicos sobre a Utilização da Força e de Armas de Fogo pelos Funcionários Responsáveis pela Aplicação da Lei, um código de conduta para forças policiais elaborado pela Assembléia Geral das Nações Unidas em 1979.
A maioria da Corte seguiu o entendimento do ministro Alexandre de Moraes, que fez a ressalva de que cabe à polícia examinar a proporcionalidade e a excepcionalidade do uso da força, usando como balizas os princípios da ONU. O único voto vencido foi o do ministro André Mendonça.
  • Criação do Observatório Judicial da Polícia Cidadã - Aprovado (11 votos a 0)
O relator do caso, Edson Fachin, propôs que o STF criasse o Observatório Judicial sobre Polícia Cidadã, um colegiado formado por ministros da Corte, pesquisadores, representantes das polícias e de entidades da sociedade civil. A formação do grupo foi aprovada por unanimidade, mas o pelnário entendeu que este observatório deve ser criado no CNJ (Conselho Nacional de Justiça).
  • Estabelecimento de limites ao uso de força letal - Aprovado (10 votos a 1)

Os ministros determinaram, por 10 votos a 1, que o uso de força letal nas operações só pode ser usado em circunstâncias específicas: quando se esgotarem todos os demais meios de enfrentamento, inclusive armas não-letais, quando a força letal for necessária para proteger a vida ou prevenir um dano sério, ou se o policial for alvo de uma ameaça concreta e iminente.

Neste ponto, mais uma vez, os ministros fizeram o adendo de que a polícia tem autonomia para avaliar quais situações exigem o uso da força letal. O único voto contrário neste tópico também foi o de André Mendonça.

  • Prioridade para a investigação de operações com mortes de crianças e adolescentes - Aprovado (11 votos a 0)

Os ministros reconheceram por unanimidade o status de "prioridade absoluta" para as investigações de incidentes que tenham crianças ou adolescentes como vítimas das operações.

  • Derrubada do sigilo das operações com helicópteros - Rejeitado (4 votos a 6)
Em uma das decisões mais apertadas do julgamento, os ministros rejeitaram por 6 votos a 4 um pedido do PSB para que fosse retirado o sigilo dos protocolos de atuação policial com o uso de helicópteros nas comunidades.
Segundo alegou o partido no final de janeiro, as informações disponibilizadas pelo governo não permitem "saber se as diretrizes adotadas pela polícia são efetivamente compatíveis com a preservação da vida, dos diretos humanos e da Constituição".
Quatro ministros votaram para acatar o pedido da legenda: Fachin, o relator, além de Rosa Weber, Luís Roberto Barroso e Cármen Lúcia. Venceu o entendimento de que há situações em que o sigilo é impescindível, posição adotada por Alexandre de Moraes, André Mendonça, Nunes Marques, Dias Toffoli, Ricardo Lewandowski e Gilmar Mendes.
  • Limites para a entrada da polícia em residências - Três aprovados (11 votos a 0) e um rejeitado (1 voto a 10)
A Corte estabeleceu, por unanimidade, três restrições a buscas domiciliares conduzidas pela polícia nas favelas. O tribunal determinou que a polícia não pode entrar à noite nas casas para cumprir mandados de prisão ou de busca e apreensão.
Ainda segundo o STF, as entradas nas residências devem ser justificadas e detalhadas por auto circunstanciado e os agentes não podem usar imóveis como base de operação sem autprização prévia.
O PSB também pedia que, em caso de flagrantes, a polícia não poderia se basear apenas em denúncias anônimas para invadir casas. Para a maioria dos ministros, contudo, estas denúncias anônimas podem ser cruciais para o sucesso das operações, e desta forma devem continuar a serem usadas. Apenas Fachin discordou deste ponto.
  • Obrigatoriedade de ambulâncias onde houver confronto armado - Aprovado (11 votos a 0)
Por unanimidade, o STF determinou que é obrigatório haver ambulâncias em operações policiais previamente planejadas em que haja a possibilidade de confrontos armados.
  • Instalação de GPS e câmeras nas viaturas e nas fardas - Aprovado (9 votos a 2)
O STF determinou que o estado do Rio instale, no prazo máximo de 180 dias, equipamentos de GPS e sistemas de gravação de áudio e vídeo nas viaturas policiais e nas fardas dos agentes de segurança. A medida, segundo o tribunal, deve prever o armazenamento digital dos arquivos.
Em nota enviada ao UOL, o governo do Rio afirmou que já começou a utilizar as câmeras nos uniformes da PM, durante o úlitmo réveillon, mas não esclareceu quando e como haverá o uso do equipamento em todas as operações. Além disso, ainda não foram compradas as câmeras que devem ser instaladas em viaturas, como também prevê a ordem do STF.
"O Estado do Rio concluiu a maior licitação do País para aquisição desse tipo de equipamento, com contratação de 21.571 câmeras para serem instaladas não apenas nos uniformes dos policiais, mas também dos agentes de fiscalização e defesa civil", informa a nota.
O governo reconheceu que ainda não foram compradas as câmeras que devem ser instaladas em viaturas, como também prevê a ordem do STF. "No que tange à instalação imediata desse equipamento, o Governo do Estado do Rio já realizou audiência pública para as empresas interessadas em participar dessa licitação", afirma o Executivo fluminense.