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Guerra da Rússia-Ucrânia

Notícias do conflito entre Rússia e Ucrânia


Congresso quer que governo condene Rússia com 'posição mais clara e firme'

24.fev.2022 - Moradores cruzam linha de trem durante evacuação da cidade de Kramatorsk, no leste da Ucrânia - Tyler Hicks/The New York Times
24.fev.2022 - Moradores cruzam linha de trem durante evacuação da cidade de Kramatorsk, no leste da Ucrânia Imagem: Tyler Hicks/The New York Times

Luciana Amaral

Do UOL, em Brasília

24/02/2022 18h25Atualizada em 24/02/2022 18h29

O Congresso Nacional aumentou a pressão para que o governo do presidente Jair Bolsonaro (PL) condene a invasão da Rússia à Ucrânia de forma mais clara e reforce a ajuda aos brasileiros no país.

Apesar de divulgar nota em que afirma acompanhar "com grave preocupação a deflagração de operações militares pela Rússia" e pedir a "suspensão imediata de hostilidades", o Itamaraty até agora evitou condenar diretamente o ataque comandado por Vladimir Putin. Bolsonaro também tem evitado fazer declarações sobre o conflito. Pelo Twitter, se concentrou em falar sobre a ajuda a brasileiros na Ucrânia.

Parlamentares estão insatisfeitos com esse posicionamento. As Comissões de Relações Exteriores da Câmara dos Deputados e do Senado soltaram nota repudiando a invasão. A da Câmara afirmou que os ataques e bombardeios russos violam as normas internacionais e devem ser "fortemente condenados" por governos democráticos. A do Senado também considerou o ataque "fato de extrema gravidade, que viola princípios fundamentais da Carta da ONU e do direito internacional".

O presidente do colegiado na Câmara, deputado Aécio Neves (PSDB-MG), afirmou ao UOL haver a necessidade de uma "posição mais clara e firme" do Brasil.

Aécio disse que conversou por telefone com o ministro das Relações Exteriores, Carlos França, e externou esse sentimento que afirma não ser só seu, mas também de diversos outros parlamentares com os quais dialogou ao longo do dia.

Ele disse que essa posição mais firme deveria ser tanto por meio de nota de repúdio quanto pelo posicionamento do Brasil nas próximas reuniões do Conselho de Segurança da ONU (do qual o país é membro não permanente).

"O Brasil não pode ter uma posição que seja compreendida como dúbia. Ele [França] acha que o Brasil já avançou de uma posição de ontem para hoje e teria ainda conversa com o presidente Bolsonaro", afirmou.

Sob reserva, um parlamentar a par das tratativas disse que "o silêncio faz parecer aliança ou apoio velado", e que o povo brasileiro "não perdoará ainda mais quando aparecer as imagens da guerra e de mortes". Também aposta ser um fator que pode prejudicar Bolsonaro ainda mais nas pesquisas de intenção de voto.

O entendimento é de que o caminho ficou estreito: ou se condena veementemente a invasão russa e se solidariza com as sanções econômicas, ou se passa a mensagem de que compactua com as ações de Putin.

Para Aécio, França tem se esforçado em dar uma resposta mais firme por parte do governo. O ministro só teria feito a ressalva de que a posição do Brasil não pode ser igual à da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) — ou seja, tão pesada e com a possibilidade de manejar forças militares — pelo fato de o país não fazer parte dela. Ainda, porque isso implicaria em questões de defesa com as quais o Brasil não deve se comprometer agora. A intenção é ficar no repúdio de âmbito político.

O apoio a sanções econômicas ou até mesmo a promoção delas ainda não estão no radar.

Ajuda a brasileiros na Ucrânia

Aécio também reforçou a necessidade da ajuda dada pelo Itamaraty aos brasileiros na Ucrânia e colocou a comissão da Câmara à disposição do Executivo, se for necessária alguma ação do Legislativo, como a liberação de mais verbas para esse auxílio no país europeu.

O deputado disse ter recebido pedidos de ajuda individuais e de grupos de brasileiros atualmente na Ucrânia.

Os brasileiros que não estiverem em Kiev estão sendo orientados a sair do país. Quem estiver na capital ucraniana recebe a recomendação de seguir as orientações do governo local sobre descolamento e segurança, e a aguardar informações da Embaixada do Brasil no país.

Segundo o Itamaraty, brasileiros que estiverem ao leste do pais devem deixar a região por meios terrestres: "Os que não puderem deixar o pais por meios próprios, ou de modo seguro, devem se deslocar a Kiev e contatar imediatamente a embaixada". Já os que estão em Odessa ou Lviv devem ir para a Moldávia ou para a Polônia, respectivamente, por ser "mais simples e seguro".

A embaixada estima a presença de cerca de 500 brasileiros na Ucrânia, entre estudantes, executivos de multinacionais e familiares de ucranianos. A representação diplomática afirmou não ter condições de fazer operações de resgate.

Viagem de Bolsonaro à Rússia

Em viagem à Rússia, na semana passada, Bolsonaro disse "ser solidário" à Rússia, sem explicar o contexto exato da declaração, e disse que Putin é um homem "que busca a paz". Ainda na visita, Bolsonaro declarou que a sua ida à Rússia era "um retrato para o mundo", e mostrou que ambos os países poderiam "crescer muito nas relações bilaterais".

O presidente brasileiro também chamou o seu homólogo russo de "amigo" e disse compartilhar com ele "valores comuns como a crença em Deus e a defesa da família".

SPUTNIK/via REUTERS - SPUTNIK/via REUTERS - SPUTNIK/via REUTERS
16.fev.22 - Jair Bolsonaro e Vladimir Putin apertam as mãos durante uma entrevista coletiva após suas conversas em Moscou, Rússia
Imagem: SPUTNIK/via REUTERS

A missão oficial teve foco numa abordagem econômica e comercial, mas foi criticada por diplomatas e especialistas devido à época — à beira da eclosão de uma guerra. A mensagem passada é de que Bolsonaro apoia Putin na investida contra a Ucrânia, consideraram.