Topo

Áudio de ministro é mais sério que acusações de prefeitos, diz deputado

13.abr.2021 - O deputado federal Sóstenes Cavalcante - Divulgação/Agência Câmara
13.abr.2021 - O deputado federal Sóstenes Cavalcante Imagem: Divulgação/Agência Câmara

Ana Paula Bimbati, Eduardo Militão e Leonardo Martins

Do UOL, em São Paulo e em Brasília

25/03/2022 16h58

O deputado federal e líder da Frente Parlamentar Evangélica, Sóstenes Cavalcante (União Brasil-RJ), disse ao UOL que o áudio do ministro da Educação, Milton Ribeiro, que indica favorecimento na liberação de verbas da pasta, é mais grave do que as acusações de prefeitos que afirmam ter recebido pedidos de propina.

"O áudio do ministro é mais sério. Tudo o que ele puder explicar, detalhe por detalhe, não se eximir, não fugir da imprensa, tudo que ele fizer para dar para transparência [é importante]. Mas os outros áudios vão ser um processo investigativo", afirmou.

Gravação divulgada pelo jornal Folha de S. Paulo na segunda-feira (21) indica que o governo federal prioriza a liberação de recursos a prefeituras ligadas a dois pastores —Gilmar Santos e Arilton Moura. "Foi um pedido especial que o presidente da República fez para mim sobre a questão do [pastor] Gilmar", diz Ribeiro.

Até esta sexta (25), prefeitos de ao menos dez municípios relataram que os líderes religiosos cobravam propina para liberar recursos da pasta, segundo o jornal O Estado de S. Paulo.

Para Cavalcante, mesmo com as acusações, "ainda não tem a consistência jurídica que justifique o pedido de exoneração do ministro [Milton Ribeiro]". Ele questionou a motivação das revelações dos gestores municipais.

Aí você vai olhar o partido do prefeito, PSDB, de São Paulo [na verdade, é do Maranhão], qual interesse? Estamos em um período que o pleito eleitoral contamina as coisas. Quem tem interesse direto nisso? O PSDB, o Doria."
Sóstenes Cavalcante (União-RJ), deputado e líder da bancada evangélica

O deputado também citou que outro prefeito que denunciou propina é do Cidadania, que também faz oposição ao governo Jair Bolsonaro (PL).

A reportagem entrou em contato com as prefeituras citadas e com o governador João Doria (PSDB). Até o momento, não houve resposta —o espaço fica aberto para atualizações.

Evangélicos "sangram" e quase morrem, dizem deputados da bancada

Cavalcante afirmou que a frente evangélica não deve pedir a saída de Ribeiro —que é pastor evangélico. "Como não fomos nós que indicamos, não somos nós que vamos opinar. É uma decisão exclusiva do presidente."

Ex-aliado de Bolsonaro, o deputado Luís Miranda (Republicanos-DF), que também é da bancada, disse que os evangélicos estão "sangrando" com o desgaste causado pela crise no MEC.

Já o deputado federal Marco Feliciano (PL-SP), vice-líder do governo no Congresso e também evangélico, acredita que a crise não abalou o governo e que "os bolsonaristas sofreram apenas um pequeno arranhão". "Mas nós, evangélicos, sofremos um golpe quase mortal às vésperas de uma eleição que será muito difícil", escreveu no Twitter.

Procurado pelo UOL para explicar porque entende que houve um golpe "quase mortal" contra os evangélicos, Feliciano preferiu não entrar em detalhes.

Pedido de apuração à CGU

Na terça-feira (22), o ministro Milton Ribeiro admitiu que se encontrou com os pastores citados nas reportagens, mas isentou Bolsonaro de qualquer tipo de pedir qualquer tipo favorecimento.

Na quarta (23), ele afirmou à Jovem Pan que pediu, em agosto do ano passado, para a CGU investigar a ação dos pastores no MEC.

A CGU afirmou que recebeu pedido de investigação do MEC em 27 de agosto de 2021. Uma era uma denúncia "anônima que tratava de possíveis irregularidades que estariam ocorrendo em eventos realizados pelo MEC e outra sobre oferecimento de vantagem indevida, por parte de terceiros, para liberação de verbas no âmbito do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE)".

A apuração se encerrou em 3 de março deste ano —dias antes de o caso ser revelado pela imprensa. Agentes públicos não teriam cometido possíveis irregularidades, segundo a Controladoria. Os documentos com a conclusão da investigação foram encaminhados à Polícia Federal e ao Ministério Público Federal.

Agora, com a divulgação do áudio, a CGU abriu nova apuração, "para investigar os novos fatos, em especial, o pedido de vantagem por terceiros". A PF também instaurou inquérito.