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TV: Ex-assessor diz que Monteiro levou pílula do dia seguinte a menor

Representação contra Gabriel Monteiro chega à Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro  - Reprodução/Instagram @gabrielmonteiropm
Representação contra Gabriel Monteiro chega à Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro Imagem: Reprodução/Instagram @gabrielmonteiropm

Do UOL, em São Paulo

08/04/2022 10h53

Um ex-assessor do vereador e ex-PM Gabriel Monteiro (PL) afirmou ter levado pílula do dia seguinte para a menina de 15 anos, filmada mantendo relações com o parlamentar, e deixado na caixinha de correios da casa dela. A afirmação foi feita pelo ex-assessor durante depoimento à Polícia Civil do Rio de Janeiro, e divulgada pela TV Globo nesta sexta-feira (8).

Monteiro é investigado pelo vazamento de um vídeo em que aparece fazendo sexo com a adolescente. Ex-assessores afirmaram que ele mantinha relações sexuais com diversas adolescentes na casa onde vive, na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio. A equipe que trabalhava nos vídeos do vereador e apoiador do presidente Jair Bolsonaro (PL) também ficava no local. (Quem é Gabriel Monteiro? Leia perfil abaixo)

Segundo Fabio Neder, a jovem frequentava a casa de Monteiro e estudava no local, inclusive com o uniforme do colégio.

[Declarante diz] Que [nome da jovem] costumava frequentar a casa de Gabriel, ficava estudando, até com roupa de colégio. Que Gabriel e todos os funcionários e seguranças sabiam que [nome da jovem] era menor de idade. Que já levou pílula do dia seguinte na casa de [nome da jovem], que deixou a pílula na caixinha dos correios da casa da menor. Trecho do depoimento de Neder à polícia

"[Declarante diz] Que os vídeos contendo relações sexuais estavam no telefone celular de Gabriel, que nenhuma menina podia filma. Que ninguém tinha a senha do celular de Gabriel, nem o próprio advogado dele e nem o chefe de gabinete de Gabriel", completou, em seguida.

Robson Coutinho —que segue nomeado no gabinete do vereador, segundo a TV Globo—, disse em depoimento que o parlamentar "falava para todo mundo que [nome da jovem] tinha 15 anos" e que "Gabriel falava: 'minha novinha está me esperando'".

Também em depoimento à polícia, o ex-assessor Vinicius Hayden Witeze contou que festas e orgias com a participação de menores de idades eram comuns na casa de Gabriel Monteiro. Além disso, segundo o ex-assessor, o parlamentar costumava "brincar" com a situação dizendo que iria abrir uma creche.

Gabriel sabia da menoridade até porque ele tinha o hábito de fazer 'brincadeiras', dizendo ao declarante que iria abrir uma creche e que, para ele [Gabriel], mulheres de 20 e 21 anos de idade, já seriam velhas (...) Eram frequentes festas, tipo orgias, na casa de Gabriel, promovidas por ele. Que nestas orgias a maioria das convidadas era menor de idade e que Gabriel mantinha relações sexuais com as mesmas, sendo também comum o uso de drogas por ele e convidadas três 'teve vezes que já cheguei lá na casa dele e encontrei ele virado de festas, com meninas saindo de lá chorando, aparentando ter sido estuprada pelo Gabriel. Vinicius Hayden Witeze, em depoimento à Polícia Civil

"Que o declarante deixa claro que a sua função era investigar e que Gabriel era sempre quem determinava as investigações, com o intuito de, posteriormente, poder produzir vídeos. O Gabriel não ligava para a política, não tinha ideais políticos, tudo dele era focado na monetização, era produzir vídeos para ganhar dinheiro no YouTube", acrescentou.

O UOL entrou em contato com a assessoria jurídica de Gabriel Monteiro e aguarda retorno. A reportagem também pediu posicionamento à assessoria de imprensa do parlamentar, via email.

Polícia crê que Monteiro sabia que jovem era menor de idade

Nesta quinta-feira (7), o parlamentar foi alvo de uma ordem de busca e apreensão em sua casa, na zona oeste. Agentes da 42ª DP (Recreio dos Bandeirantes) e de outras delegacias distritais também estiveram em outros nove endereços, todos eles de assessores, ex-assessores e empresários com alguma relação com Monteiro.

Na representação, a delegada-assistente Talita Roberta Carlos Carvalho diz que "não há mais dúvidas" que o vereador sabia que a adolescente era menor de idade, embora ele tenha negado saber disso ao ser ouvido, na delegacia.

Gabriel Monteiro tinha "ciência da menoridade da vítima". Delegada-assistente Talita Roberta Carlos Carvalho

Em depoimento à Polícia Civil, o irmão da adolescente contou que também pediu a ele por meio de mensagem de texto que se afastasse da jovem, mas que os dois retomaram o relacionamento tempos depois.

O pedido teria ocorrido, segundo ele, depois que a menina recorreu a ele, chorando, porque "queria finalizar o relacionamento com o vereador, pois não estava lhe fazendo bem, mas não conseguia".

Advogado de Monteiro acusa ex-assessor

Ontem, ao sair da delegacia, Sandro Figueiredo, advogado de Monteiro, afirmou que o HD externo tinha vídeos produzidos por sua equipe, além de material que estaria supostamente sendo produzido para um dos integrantes de uma suposta máfia dos reboques no Rio, denunciada pelo político.

"Foi arrecadado na casa de um ex-assessor uma alta quantia em dinheiro e ainda foi arrecadado o HD que foi furtado da casa do vereador Gabriel Monteiro. HD este contendo informações dos vídeos profissionais do vereador. E inclusive nesse mesmo HD já havia ali alterações de um vídeo que eles estavam montando com a logo do zero dois da máfia dos reboques", afirmou o advogado.

No entanto, o delegado Luís Armond, titular da 42ª DP (Recreio dos Bandeirantes), disse que o material ainda terá que ser periciado para comprovar se é de propriedade ou não do vereador.

"Esse HD vai ser periciado e verificado se procede realmente como de propriedade dele. Eu não vou antecipar nenhuma análise agora. Todas essas questões têm que ser comprovadas através de investigação", explicou o delegado. "Tem que ser feita essa investigação para verificar se realmente é dele, se era uma cópia. Isso tudo terá que ser analisado."

Ex-PM e envolvido em polêmicas

Monteiro começou a ganhar notoriedade quando ainda era policial militar no Rio. Ele ingressou na carreira em 2015 e, depois de alguns anos, passou a postar vídeos no YouTube sobre a rotina como PM. Numa live sobre o trabalho da polícia nas comunidades, foi abordado por um jovem ativista, que perguntou sobre as mortes de inocentes durante as operações contra o tráfico de drogas.

Sua reação foi dar um soco no rapaz e fugir do local. Ele alegou "legítima defesa", mas o episódio teve grande repercussão, especialmente porque foi logo depois do velório da menina Ágatha Vitória Sales Félix, de 8 anos, no entorno do cemitério de Inhaúma, zona norte do Rio de Janeiro.

O vereador Gabriel Monteiro terá que apagar vídeos das redes sociais - Reprodução - Reprodução
O vereador Gabriel Monteiro
Imagem: Reprodução

Em março de 2020, em outro caso polêmico, o PM tentou filmar escondido uma conversa com o comandante-geral da Polícia Militar, Ibis Silva Pereira, para usar as imagens no canal que havia criado no YouTube. Ele pretendia acusar o comandante de envolvimento com o Comando Vermelho, no Complexo da Maré, no Rio. Na época, Gabriel foi processado e teve o porte de arma suspenso. Ibis afirmou que o policial queria "projeção pessoal" e fazia acusações sem provas.

Cinco meses depois, Gabriel foi expulso da corporação acusado de deserção após ficar oito dias sem aparecer para trabalhar. Foi reintegrado ao justificar o afastamento com um atestado e logo em seguida deixou a polícia para se dedicar à carreira política.

Ex-membro do MBL

Cristão e filho de um pastor evangélico, Monteiro ganhou ainda mais fama ao postar vídeos no YouTube com críticas à política nacional, ao STF e aos "esquerdistas". Ele era membro do MBL (Movimento Brasil Livre), mas, em novembro de 2019, decidiu sair do grupo quando, segundo Monteiro, passaram se posicionar contra o presidente Jair Bolsonaro, com quem diz ter afinidade.

Aproveitando a fama que tinha como ex-PM e os milhões de seguidores que acumulou nas redes sociais, Gabriel fez campanha e tornou-se um dos vereadores mais votados da história do Rio de Janeiro. Se elegeu com mais de 60 mil votos pelo PSD (Partido Social Democrático).

Em um vídeo da campanha, aparecia usando colete à prova de balas e escoltado por homens fortemente armados, que usavam distintivos policiais. Na época, o Ministério Público iniciou uma investigação. Gabriel alegou que precisava de segurança porque era ameaçado. A Corregedoria da Polícia Militar abriu inquérito para investigar a participação dos servidores públicos no vídeo.

Fiscal youtuber

Após eleito, Gabriel passou a usar o cargo como justificativa para fiscalizações dentro de órgãos públicos, mesmo sem autorização oficial. Em um dos casos, em novembro do ano passado, o vereador invadiu a UPA (Unidade de Pronto Atendimento) de Magalhães Bastos, na zona oeste do Rio, cercado de seguranças armados.

A alegação do parlamentar, assim como em outros casos, é a mesma: de que ele não precisa de autorização porque estaria fiscalizando o poder público. Por outro lado, o Ministério Público investiga se o vereador cometeu abuso de autoridade.

Mais uma vez fez questão de gravar toda a ação para colocar na internet. Ele possui mais de 23 milhões de seguidores, somando TikTok, Instagram e outras redes sociais, em especial YouTube e Facebook.

Acusado de assédio sexual

Em fevereiro deste ano, Gabriel foi acusado de assédio sexual e moral por cinco pessoas. Em uma reportagem da TV Globo, servidores, ex-funcionárias e uma mulher chegaram a afirmar que tiveram relações sexuais com o parlamentar. Uma das vítimas diz que foi estuprada. Pouco tempo depois, o vídeo que mostra o parlamentar fazendo sexo com uma menina de 15 anos foi vazado.

Gabriel diz que dois ex-assessores disseminaram as imagens nas redes. O caso é investigado pelo Ministério Público.