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Misógino, playboy: 7 momentos da votação sobre a cassação de Arthur do Val

Leonardo Martins e Pedro Vilas Boas

Do UOL e colaboração para o UOL, em São Paulo

12/04/2022 19h51Atualizada em 12/04/2022 22h07

A sessão do Conselho de Ética da Alesp (Assembleia Legislativa de São Paulo) que terminou com a aprovação, por unanimidade, do parecer que pede a cassação do mandato do deputado Arthur do Val (União Brasil) foi marcada por críticas a ele, apoio a ucranianas e protesto a favor do parlamentar no lado de fora do auditório.

Foram dez votos a zero. A decisão ainda passará pelo plenário. O processo foi aberto após o vazamento de áudios do deputado com comentários sexistas. Nas gravações, ele afirma que as mulheres ucranianas "são fáceis porque são pobres".

Por conta do conteúdo dos áudios, muitas críticas vieram das mulheres da Casa. Mas deputados homens concordaram e citaram que a assembleia é machista e há parlamentares que "amadurecem" durante seus mandatos.

Abaixo, sete momentos da sessão:

"Misógino"

O relator Delegado Olim (PP) errou a pronúncia "misógino" logo no começo da sessão, quando leu um resumo do relatório que enviou aos membros do Conselho de Ética. Ele tentou quatro vezes falar a palavra corretamente, e acabou provocando risos dos parlamentares e público presentes.

O deputado Emidio de Souza [PT] ofereceu representação em face do deputado Arthur porque esse teria divulgado pela mídia conjunto de áudios de teor sexista e miso-gino, misogino, logo...misojórido, misojórido."

"Tire meu nome de suas justificativas"

Apesar de não integrar o Conselho de Ética da Alesp, a deputada Isa Penna (PCdoB) foi uma das participantes que chamaram mais atenção durante as falas de parlamentares. Vítima de assédio dentro do plenário, a parlamentar pediu a palavra logo no começo da sessão. Em sua vez, disse que não quer que os dois casos sejam comparados por Do Val.

O deputado Fernando Cury (sem partido), que foi filmado apalpando Penna, teve seu mandato suspenso por seis meses —e não foi cassado.

Todos vocês são testemunha de quanto lutei pela cassação de Fernando Cury. É injusto que não tenha sido cassado, mas a injustiça é comigo, com mulheres, não com Arthur do Val. Portanto, tire meu nome, a violência que passei, das suas justificativas públicas e jurídicas."

"Playboy"

O deputado Gil Diniz (PL), antigo desafeto de Do Val, chamou o colega de "covarde" e "playboy". Em contrapartida, Do Val citou nominalmente Diniz em sua fala e os dois quase bateram boca —foram interrompidos porque o microfone do parlamentar do PL estava desligado.

Olha no meu olho, covarde, olha no meu olho. Está sorrindo por quê? São pobres porque são fáceis, não é? Repete com essas mulheres ucranianas presentes, seu playboy."

"Sentimento de asco"

Outra que se posicionou de forma incisiva contra o deputado alvo da representação foi Valéria Bolsonaro (PSL).

Tive sentimento de asco [ao ouvir o áudio]. Não dá para imaginar que uma pessoa dessa possa ter contato com qualquer menina, moça, adolescente, que cruze o caminho desse rapaz."

"Passaria pano?"

A deputada Patrícia Bezerra (PSDB) questionou os colegas se a intenção em cassar Arthur do Val era legítima, ou havia uma motivação corporativista. Na avaliação da parlamentar, os homens da Casa "passaram pano" para Fernando Cury quando este assediou Isa Penna.

Especialistas em política e outros deputados observam que Cury mantém um bom relacionamento com os colegas, enquando Do Val foi eleito na onda antipolítica de 2018 e já chamou parlamentares de "vagabundos".

Acho que aqui também cabe exame de consciência. Se a decisão tomada no dia de hoje é contra o corporativismo. Na questão do Cury, ficou claro que houve corporativismo. Fosse Arthur do Val pessoa querida pelos colegas, será que o fim desse julgamento seria o mesmo, ou se passaria pano?"

"Será que estão seguras aqui?"

A deputada Monica Seixas (Psol) cedeu parte do seu tempo para que uma mulher ucraniana pudesse falar. Myroslavia Moroz, 37, estava no auditório —junto de outras ucranianas e descendente—, mas não falaria na sessão. Então, a deputada acabou exibindo um vídeo.

Na gravação, Moroz questionou se o Brasil seria um lugar seguro para elas.

Algumas mulheres ucranianas escolhem o Brasil como país seguro para estar. Mas será que estão seguras aqui, se os homens brasileiros acham que elas são fáceis?"

"É por quem disse"

No momento de se pronunciar, o deputado Arthur do Val começou pedindo desculpas às ucranianas e às mulheres que "verdadeiramente se ofenderam" com os áudios, mas passou a maior parte do tempo criticando duramente os demais parlamentares. Disse que muitos na Alesp são "escravos" do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ou do atual mandatário, Jair Bolsonaro (PL).

Do Val alega que sua cassação é motivada pela sua atuação combativa na Casa. "Esse processo de cassação é pelas minhas virtudes", afirmou.

Todo mundo sabe que o que está acontecendo não é pelo que eu disse, é por quem disse."