Arthur do Val muda estratégia 'pós-áudio' e volta a discurso combativo
Após um período de aparições públicas reduzidas, o deputado estadual Arthur do Val (União Brasil-SP) sinalizou na última semana uma mudança de estratégia, reforçada por seu discurso durante a votação do Conselho de Ética que aprovou, ontem (12), o pedido de cassação de seu mandato.
Conhecido como Mamãe Falei, Do Val convocou seus apoiadores a pressionarem os deputados na Alesp (Assembleia Legislativa de São Paulo) e retomou o perfil combativo que o elegeu em 2018, com embates diretos e acusações a outros parlamentares, conforme apurou o UOL.
O processo contra Do Val foi aberto após o vazamento de áudios do deputado com comentários sexistas. Nas gravações, ele afirma que as mulheres ucranianas "são fáceis porque são pobres".
Após o vazamento dos áudios, Arthur chegou a dar entrevistas à imprensa e publicar vídeos em seu canal no YouTube, mas com menos frequência do que atuava nas redes sociais rotineiramente. Nos vídeos, Arthur pedia desculpas pela consideração, rebatia acusações e relatava a simpatizantes sua rotina depois dos áudios.
No último final de semana, houve a primeira mudança no tom do deputado, quando ele convocou apoiadores a protestarem contra o processo de cassação na Alesp. Ontem, cerca de cem simpatizantes e integrantes do MBL (Movimento Brasil Livre) estiveram na Casa e acompanharam a sessão do lado de fora do auditório, proferindo gritos de apoio.
Antes da votação, em entrevista ao canal "Inteligência Ltda", mais uma sinalização de mudança de postura. Ele disse: "Eu vou ser cassado. Tem [grandes possibilidades]. Então, eu vou para cima e vou falar a minha versão. E vou cair atirando".
Em seu discurso ao Conselho de Ética, Arthur demonstrou novamente a volta ao perfil combativo, conforme disseram aliados do deputado ao UOL.
Arthur falou por pouco mais de dez minutos e começou admitindo o erro pelas declarações sobre as ucranianas. Na sequência, emendou acusações e chamou deputados de "escravos" do ex-presidente Lula (PT) e do atual, Jair Bolsonaro (PL).
"A verdade é que todos aqui me odeiam. Eu não nego isso. Além de toda minha conduta, vamos tirar a parte de ser combativo, esses fatos menores de eu não usar carro, motorista, verba de gabinete... Isso tudo já irrita todo mundo", disse. "Esse é um processo de cassação pelas minhas virtudes. Porque eu não sou como o PT que tem de ser escravo do Lula".
Do Val começou a criticar os parlamentares que integram o Conselho de Ética. Ele também lembrou declarações dos parlamentares quando atuaram no caso de Fernando Cury (sem partido). Cury apalpou a deputada estadual Isa Penna (PCdoB) em dezembro de 2020 no plenário da Alesp e teve o mandato suspenso por seis meses.
Arthur do Val chegou a alegar que a cassação de mandato por suas falas sexistas é uma penalização excessiva, se comparada à de Cury,
O único caso de cassação analisado pelo Conselho de Ética ocorreu em 1999, segundo o próprio colegiado. O então deputado Hanna Garib teve seu mandato extinto após ser acusado de envolvimento em esquemas de corrupção na administração da cidade de São Paulo.
Ao fim de sua fala, Arthur reconheceu que vai acabar sendo cassado. "É claro que vocês vão cortar minha cabeça aqui hoje. É claro que vou ser cassado. Mas vão nascer outras no lugar. Gostaria de fazer uma aposta com vocês: a eleição é em outubro, vamos ver qual vai ser o resultado em novembro deste ano?", indagou.
Conforme apurou a reportagem com pessoas próximas de Arthur, a ideia do parlamentar é seguir criticando os deputados estaduais e, em resumo, voltar a ser o "Arthur de 2016", quando era youtuber e ficou conhecido por gravar vídeos provocando adversários de esquerda. Na onda da antipolítica de 2018, ele foi o segundo deputado estadual paulista mais votado, com 478,2 mil votos.
Foi este perfil "combativo" —como ele mesmo diz— alimentado por Arthur que o fez semear inimizades com boa parte dos colegas da Alesp, da esquerda à direita. Parlamentares e um cientista político ouvido pelo UOL analisaram que essa escolha política cobra seu preço neste processo de cassação.
'Gerou ranço'
O cientista político da FGV (Fundação Getúlio Vargas) Eduardo Grin avaliou, em entrevista no dia 22 de março, que o processo de Arthur do Val no Conselho de Ética será, essencialmente, político.
"Essa turma que se elegeu em 2018 com o discurso contra o sistema político é muito isolada, pois gerou muito ranço e oposição de outros políticos, que entendem que essa visão demagógica [criticando a política 'tradicional'] lhes impõe um custo", disse o professor.
Próximos passos
Após aprovação do Conselho de Ética, o relatório pedindo a cassação de Do Val será analisado em plenário por todos os deputados estaduais. A aprovação depende de maioria simples. Bastam 49 votos a favor para que Mamãe Falei tenha seu mandato cassado.
A expectativa, segundo parlamentares ouvidos pela reportagem, é de cassação. "Vamos aguardar o plenário. Com certeza todos os deputados estarão juntos com esse relatório", disse o relator Delegado Olim (PP-SP) após o fim da sessão no Conselho de Ética.
"Eu acredito que vai ser mantido esse resultado [no plenário]. Discurso dele é a maneira dele se expressar. Combina com a própria maneira dele agir, com o próprio mandato dele", disse a presidente do Conselho, deputada estadual Maria Lucia Amary (PSDB), que antecipou a tendência de Arthur ser cassado.
A estimativa de Olim e de Amary é que o caso seja votado em plenário em até 15 dias. A decisão foi encaminhada à Mesa diretora da Alesp e será pautada após aval do presidente da Casa, Carlão Pignatari (PSDB-SP).
Ao UOL, Pignatari afirmou que pautará o caso em plenário na mesma semana em que receber a devolutiva da Mesa Diretora. Em plenário, os deputados estaduais votarão se concordam ou não com a cassação.
Em nota após a decisão do conselho, Arthur do Val afirmou que "os integrantes do Conselho de Ética" promovem "uma perseguição política". Ele ainda lamentou os áudios e reafirmou que espera não ser cassado.
"Arthur do Val reconhece que enviou comentários impróprios sobre mulheres ucranianas e lamenta por isso. Mas não há dúvidas de que a cassação do seu mandato seria uma medida desproporcional", diz nota enviada por assessores;
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