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'Hacker aqui': como estão hoje os principais personagens da 'Vaza Jato'

Três anos após o vazamento de mensagens da Lava Jato, veja como estão os principais personagens - UOL
Três anos após o vazamento de mensagens da Lava Jato, veja como estão os principais personagens Imagem: UOL

Colaboração para o UOL

09/06/2022 14h38

Há três anos, um vazamento expôs mensagens de integrantes da força-tarefa da Lava Jato, considerada a maior investigação contra corrupção do país. Ao todo, 80 figuras públicas foram alvos das invasões de hackers. Entre elas, o então juiz Sergio Moro (União Brasil) e Deltan Dallagnol (Podemos), que coordenava a Lava Jato em Curitiba (PR).

Parte das mensagens, relativas a conversas entre Moro e integrantes da força-tarefa, foi encaminhada para o jornalista Glenn Greenwald e publicada no The Intercept Brasil e por outros veículos de imprensa, inclusive o UOL. O caso ficou conhecido como "Vaza Jato".

As discussões pelo Telegram culminariam no reconhecimento da parcialidade de Moro ao julgar o caso do triplex, na anulação das decisões da Lava Jato pelo Supremo Tribunal Federal e, por extensão, na revogação da prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Dias após o vazamento das mensagens, a Polícia Federal deflagrou a operação Spoofing que resultou na denúncia, por parte do MPF (Ministério Público Federal), de sete pessoas acusadas de crimes relacionados à invasão de telefones e à obtenção de dados e conversas no Telegram das autoridades.

As mensagens tiveram o sigilo derrubado pelo relator da ação no STF (Supremo Tribunal Federal), ministro Ricardo Lewandowski, depois de a Corte conceder acesso ao material para a defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Em maio deste ano, o MPF pediu na Justiça o arquivamento do processo sobre os hackers da Vaza Jato. No entendimento do órgão, baseado em relatório da PF, os responsáveis por acessar mensagens trocadas por autoridades por meio do aplicativo Telegram não foram pagos e agiram por conta própria.

Veja abaixo como estão os principais envolvidos no vazamento:

Hackers

Em depoimento à Polícia Federal, o "hacker" de Araraquara Walter Delgatti Neto conhecido como vermelho  - Reprodução - Reprodução
O "hacker" de Araraquara Walter Delgatti Neto conhecido como vermelho
Imagem: Reprodução

Walter Delgatti Neto foi apontado como o hacker responsável pelo ataque para obter mensagens de procuradores e como líder do "Grupo de Araraquara", organização criminosa que teria formado com Gustavo Henrique Elias Santos, Danilo Cristiano Marques e Suelen Priscila de Oliveira para a prática de crimes cibernéticos bancários, pelo menos desde 2017.

Outras duas pessoas também foram indiciadas: Thiago Eliezer Martins Santos, especialista em informática que morava em Brasília, e Luiz Molição, amigo de faculdade de Delgatti em Ribeirão Preto (SP).

Segundo a denúncia, Delgatti Neto seria responsável "direto e imediato" por 126 interceptações telefônicas, telemáticas ou de informática e por 176 invasões de dispositivos informáticos de terceiros.

Antes da invasão, ele se dizia um admirador da investigação que apurava esquemas de corrupção envolvendo políticos e a Petrobras. Após ter invadido a conta de Dallagnol no Telegram, diz ter se desiludido.

"Eu era fã. Mas, assim que entendi a manipulação deles, eu me senti enganado. Vi que a Lava Jato era mais política do que jurídica", disse à revista Veja.

Vermelho, como é apelidado, passou um ano e três meses preso preventivamente até o habeas corpus ser concedido, em setembro de 2020. A detenção foi substituída por medidas cautelares, como a proibição absoluta de acessar emails.

No ano passado, o hacker vivia com a avó em Araraquara, no interior paulista, usando uma tornozeleira eletrônica.

Na época das prisões, os advogados de Gustavo, Suelen e Danilo negaram participação deles na invasão ao Telegram de autoridades.

Os seis foram indiciados sob suspeita de integrar organização criminosa, com indícios de envolvimento em fraudes bancárias e com cartões de crédito. Suelen, diferentemente dos demais, não foi indiciada pelos crimes de invasão de dispositivo informático alheio e interceptação de mensagens.

Em maio deste ano, o MPF pediu arquivamento do processo que investiga se houve mandante e financiador por trás da "Vaza Jato".

Glenn Greenwald

Glenn Greenwald - Daniel Marenco/Folhapress - Daniel Marenco/Folhapress
Glenn Greenwald
Imagem: Daniel Marenco/Folhapress

O jornalista Glenn Greenwald coordenou, no site Intercept Brasil, a série de reportagens que revelou troca de mensagens entre Moro e procuradores da Lava Jato. Em dezembro de 2019, a Polícia Federal concluiu relatório da investigação sobre a invasão das contas e não apontou Glenn entre os indiciados.

Numa carta confidencial enviada à relatoria da ONU (Organização das Nações Unidas), representantes do governo de Jair Bolsonaro confirmam que a Polícia Federal não encontrou crimes na atuação do jornalista no caso.

Em março deste ano, a Justiça do Paraná determinou que o Twitter apague uma publicação em que Greenwald chama Moro de "corrupto".

Deltan Dallagnol e procuradores

O procurador da Lava Jato Deltan Dallagnol - Eduardo Anizelli/Folhapress - Eduardo Anizelli/Folhapress
O procurador da Lava Jato Deltan Dallagnol
Imagem: Eduardo Anizelli/Folhapress

De acordo com as mensagens divulgadas, Dallagnol sugeria pedir à Receita Federal que realizasse uma "análise patrimonial" sobre os integrantes das turmas criminais do STJ (Superior Tribunal de Justiça).

"A RF [Receita Federal] pode, com base na lista, fazer uma análise patrimonial, que tal? Basta estar em EPROC [processo judicial eletrônico] público. Combinamos com a RF", teria dito o ex-coordenador da Lava Jato.

Diante da hipótese de que ministros do STJ estariam envolvidos em esquemas de corrupção com políticos, o procurador Diogo Castor de Mattos cita o ministro Felix Fischer (STJ) como um exemplo de honestidade.

  • Deltan Dallagnol: "Pessoal, Suíça passou novos nomes. Há até pagamento direto para político."
  • Paulo Galvão: "Delta, pode ser propina para assessores. Tem uns nomes ao lado. Dizem que é assim que funciona no STJ."
  • Deltan Dallagnol: "Difícil, Paulo. Improvável. Se for, aí o sistema é muito pior do que eu imaginei. Se fosse TJ, tudo bem. Mas STJ???"
  • Diogo Castor: "Felix Fischer, eu duvido. É um cara sério. Tem que ver que processos que eles podem ter julgado"
  • Paulo Galvão: "Castor, você que é expert, vê se são todos de turmas criminais. Ou foram."

Em fevereiro deste ano, o presidente do STJ, ministro Humberto Martins, decidiu arquivar inquérito que apurava se procuradores da Lava Jato tentaram intimidar e investigar ilegalmente os ministros do tribunal.

Dallagnol comemorou a decisão. "O STJ investigou a acusação de ilegalidade e confirmou que a Vaza Jato foi um conjunto de fofocas, montagens e interpretações feitas para atacar a Lava Jato", afirmou.

Sergio Moro

Ex-juiz Sergio Moro - REUTERS/ADRIANO MACHADO - REUTERS/ADRIANO MACHADO
Ex-juiz Sergio Moro
Imagem: REUTERS/ADRIANO MACHADO

Após o vazamento das mensagens, Sergio Moro afirmou que não reconhecia a autenticidade das mensagens trocadas entre ele e procuradores da Lava Jato. As mensagens dizem respeito ao processo pelo Lula foi condenado e preso em 2018.

Uma perícia feita a pedido da defesa do ex-presidente atestou a autenticidade do material, que inclui trecho em que Deltan elogia o pedido de prisão decretado por Moro.

"Ficou ótima a decisão", diz Dallagnol ao então juiz.

Em outro trecho o Moro, ex-ministro de Bolsonaro, diz ao então chefe da Lava Jato de Curitiba que recebeu um contato de uma pessoa "disposta" a prestar informações contra um dos filhos de Lula.

Por essas mensagens, em março do ano passado, o STF (Supremo Tribunal Federal) viu parcialidade de Moro no julgamento em que ele condenou Lula.

Depois de o ministro Edson Fachin anular todas as condenações do ex-presidente, no dia 8 de março, os processos da Lava Jato estão na Justiça Federal do Distrito Federal.

No julgamento de março de 2021, os ministros restringiram a análise à atuação de Moro no caso do tríplex — sem discutir o caso do sítio de Atibaia (SP).

Manuela D'Ávila - Reprodução/Band - Reprodução/Band
Manuela D'Ávila
Imagem: Reprodução/Band

Manuela D'Ávila

Em seu depoimento, o hacker Delgatti Neto contou que foi Manuela D'Ávila (PCdoB-RS), ex-deputada federal e candidata à vice-presidência em 2018, que o colocou em contato com Greenwald, em maio de 2019 —a própria Manuela confirmou isso.

À Polícia Federal, Delgatti disse que obteve o telefone de Manuela hackeando o celular da ex-presidente Dilma Rousseff (PT).

A princípio, a ex-deputada não teria acreditado nessa versão, mas um tempo após Delgatti Neto enviar áudios de conversas entre procuradores, o próprio Glenn entrou em contato com ele por meio do Telegram.

Em dezembro de 2019, a Polícia Federal concluiu relatório da investigação sobre a invasão das contas e não apontou Manuela entre os indiciados. Segundo a PF, a política foi também vítima dos ataques.