Bolsonaro se confunde e diz que colombiano Petro foi de guerrilha do Chile
O presidente Jair Bolsonaro (PL) se confundiu ao falar do novo presidente da Colômbia, Gustavo Petro, eleito no domingo (19), e afirmou hoje a apoiadores que ele foi ex-guerrilheiro do MIR (Movimento de Esquerda Revolucionária).
Na verdade, esse grupo era chileno e nada tem a ver com Petro, que participou de luta armada pelo M-19 na Colômbia.
Bolsonaro foi indagado hoje sobre a eleição do país vizinho durante interação com apoiadores no cercadinho do Palácio da Alvorada, em Brasília. Na contramão de outros líderes mundiais, o presidente brasileiro ainda não se pronunciou em gesto de congratulação a Gustavo Petro.
A única manifestação oficial até o momento foi do vice-presidente, Hamilton Mourão (Republicanos), que desejou "sorte" ao recém-eleito.
Petro é o primeiro presidente de esquerda vitorioso na Colômbia. Ele chega ao posto após ser derrotado em 2010 e em 2018.
"É um ex-guerrilheiro do MIR, é o movimento de esquerda revolucionária", respondeu o presidente brasileiro na conversa com os apoiadores.
O MIR, na verdade, era o grupo do qual fazia parte o time de sequestradores do empresário Abílio Diniz. O crime ocorreu em 1989. Bolsonaro falava sobre o crime pouco antes de ser questionado sobre a eleição colombiana e acabou cometendo o equívoco.
O contexto da menção ao sequestro do empresário se dá porque o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), adversário de Bolsonaro, afirmou ter intercedido, em 1998, junto ao então presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) pela libertação dos suspeitos envolvidos na trama. A declaração foi dada em evento do PT em Maceió, durante uma série de visitas do petista ao Nordeste.
Hoje, Bolsonaro atacou Lula e afirmou considerar que o oponente deu "um recado" a criminosos.
"Esses dez [presos pelo crime] eram cinco chilenos, dois argentinos, dois canadenses e um brasileiro. Estavam no segundo sequestro. Tinham sequestrado uma pessoa há sessenta e poucos dias, por último sequestraram o Abílio Diniz. Havia um pedido de resgate de 30 milhões de dólares pelo Abílio Diniz. E daí [Lula] falou que esses meninos cometeram um equívoco", comentou Bolsonaro.
"Um sequestro... Um sequestro é planejado, pessoal. Ninguém... Ah, vou sequestrar o João aí... Ele vê quem é o João, onde ele mora, a rotina de vida dele, onde vai ser o cativeiro, como vai ser as negociações... Agora, porque o Lula tocou nesse assunto, alguém tem ideia? Ele deu um recado para todos os narcotraficantes e bandidos do Brasil que... Estamos juntos."
Na sexta (17), Lula reconheceu ter participado do processo que culminou na extradição dos envolvidos, a maioria de estrangeiros, enquanto falava sobre sua amizade com o senador Renan Calheiros (MDB-AL), um dos ministros da Justiça do governo FHC.
"Eles iam entrar em greve seca, que é ficar sem comer e sem beber, e aí é morte certa. Aí, eu então fui procurar o ministro da Justiça, Renan Calheiros, que depois de uma longa conversa me disse para falar com o presidente Fernando Henrique Cardoso, porque ele teria toda disposição de mandar soltar o pessoal", disse Lula.
Durante o relato, o petista recordou que à época do crime os sequestradores teriam afirmado que foram obrigados a vestir camisetas com a logomarca do PT, para que o partido fosse relacionado ao caso, fato nunca confirmado. Lula seguiu a narrativa dizendo que, de fato, foi procurar o tucano:
"Eu disse: Fernando, você tem a chance de passar para história como um democrata ou como o presidente que permitiu que dez jovens que cometeram um erro morressem na cadeia, e isso não vai (se) apagar nunca".
De acordo com Lula, FHC teria garantido que concederia a soltura se o petista convencesse os presos a encerrarem a greve de fome. Logo após, o ex-presidente diz que foi à cadeia onde estavam os detentos e pediu a palavra do grupo de que encerrariam a greve de fome para que fossem soltos.
"Hoje não sei onde estão", finalizou.
Em abril de 1998, no último ano do primeiro mandato de FHC, o governo federal deu andamento ao processo de extradição dos sequestradores estrangeiros, mas nunca admitiu relação da decisão tomada com a ameaça de greve de fome.
*Com informações do Estadão Conteúdo
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