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Em live, Bolsonaro defende Ribeiro e critica juiz que determinou prisão

Beatriz Gomes

Do UOL, em São Paulo*

23/06/2022 19h59Atualizada em 24/06/2022 15h41

O presidente Jair Bolsonaro (PL) defendeu hoje, durante sua live semanal, o ex-ministro da Educação Milton Ribeiro, preso ontem em operação da PF que apura indícios de pagamento de propina e atuação de lobistas no processo de liberação de verbas do ministério a municípios. Bolsonaro aproveitou a live para criticar o juiz federal Renato Borelli que determinou a prisão do ex-ministro. Em junho, o juiz determinou que Bolsonaro usasse máscaras em espaços públicos de Brasília, sob pena de multa em caso de descumprimento.

Na transmissão, Bolsonaro chegou a falar que "exagerou" ao dizer, em março, que "botava a cara no fogo" por Ribeiro. Mas afirmou que "bota a mão no fogo" não só pelo ex-ministro da Educação como por outros ministros do governo.

Ontem tivemos a prisão do ex-ministro Milton, da Educação. Falei lá atrás que botava a cara no fogo por ele. Eu exagerei, mas eu boto a mão no fogo pelo Milton, assim como boto por todos os meus ministros, porque o que eu conheço deles, a vivência, dificilmente alguém vai fazer, vai cometer um ato de corrupção. Jair Bolsonaro durante a sua live semanal nesta quinta-feira (23)

Na transmissão ao vivo, Bolsonaro argumentou que "o tipo de corrupção da qual Ribeiro é acusado não se compara a casos de governos anteriores" por se tratar de suposto tráfico de influência na liberação de recursos da pasta a prefeituras por intermediação de dois pastores. Bolsonaro disse que Milton "nem deveria ter sido preso".

As declarações de Bolsonaro na live de hoje diferem das dadas ontem, quando aconteceu a prisão. "Ele que responda pelos atos dele", afirmou. "Se a PF prendeu, tem um motivo. (...) Se tiver algo de errado, ele vai responder. Se for inocente, sem problema; se for culpado, vai pagar. O governo colabora com a investigação. A gente não compactua com nada disso", disse em entrevista à Rádio Itatiaia.

Na live, após a soltura do aliado, Bolsonaro minimizou a prisão ao apontar que a investigação da PF, que culminou na prisão de Milton, "foi um efeito do trabalho da CGU (Controladoria-Geral da União), que teria sido avisada do caso por Ribeiro sobre atitudes suspeitas" no trabalho dos pastores Gilmar Santos e Arilton Moura dentro do ministério. Santos e Moura não tinham cargo no MEC e também foram detidos na operação da PF, mas soltos hoje.

"No final da investigação da Polícia Federal, que levou em conta o trabalho da CGU, pedido pelo Milton, então o juiz decretou a prisão e o processo em segredo de justiça. Fiquei sabendo pela manhã que a PF foi na casa do Milton, é constrangedor, não há dúvida, ninguém quer visita da Polícia Federal em casa, eu fiquei chateado. Logo a imprensa quis colar em mim a imagem de corrupto, de não sei o que, bem o que aconteceu, foi impetrado um habeas corpus e foi levantado sigilo do processo."

Críticas ao juiz

Bolsonaro também aproveitou a live para criticar o juiz federal Renato Borelli por autorizar a prisão do ex-ministro.

"O juiz que decretou a prisão foi o mesmo que o ano passado deu uma sentença preliminar para cada vez que alguém me visse sem máscara [de proteção contra a covid], ia me multar em R$ 2 mil, sem comprovação científica nenhum sobre a máscara, alguém me via na rua, R$ 2 mil para o presidente", começou. Apesar da fala do presidente, pesquisas científicas já atestaram a eficácia das máscaras contra vírus respiratórios, como o da covid-19.

Bolsonaro ainda apontou que o juiz determinou ações contra Sérgio Camargo, bolsonarista e ex-presidente da Fundação Cultural Palmares, e "várias outras ações contra o governo" que foram arquivadas.

Segundo o presidente, os arquivamentos das decisões de Borelli mostram "incompetência dele" e destacou que o MPF (Ministério Público Federal), que tem "juízes sérios", foi contrário à decisão da prisão de Milton. Apesar das declarações do presidente contra o magistrado, Borelli tem em sua carreira um histórico de decisões contrárias a políticos de diferentes partidos, como PT e MDB.

"O Ministério Público Federal lá em Brasília foi contra a prisão, geralmente juízes sérios. Por que foi contra? Porque não tinha indício de prova, tinha lá, talvez levantado pelo Coaf [Conselho de Controle de Atividades Financeiras], um depósito na conta, não sei é da esposa, da filha do Milton, de R$ 50 mil, R$ 60 mil, que foi lá comprovado, segundo palavra do advogado, que foi para compra do carro. Por que não pode ter R$ 50 mil na sua conta, R$ 100 mil na sua conta?", defendeu Bolsonaro.

A defesa de Milton admitiu ontem que houve um depósito de R$ 50 mil na conta de Myriam Ribeiro, mulher do ex-chefe da pasta. O advogado Daniel Bialski alegou que o valor seria oriundo da venda de um carro. O valor estaria ligado aos pastores presos. O criminalista não comentou a relação do depósito com o ex-ministro, nem nomeou o autor do depósito.

Para o presidente, a decisão do magistrado "não tinha materialidade nenhuma para prisão do Milton, mas serviu para desgastar o governo, para fazer uma maldade com a família do Milton".

Se tiver algo de errado na vida do Milton, ele é responsável pelos seus atos, mas eu não posso desconfiar, levantar uma suspeição contra ele de forma leviana, tem que ter algum motivo. E outro negócio, está lá na decisão do juiz, que ele praticou corrupção passiva, me ajuda aí, se ele praticou corrupção passiva, cadê o ativo? Se ele tentou subornar o prefeito, que o pessoal acha, o assessor dele, cadê o prefeito? Por que esse prefeito não está preso também?

*Com Estadão Conteúdo e Reuters

O governo Bolsonaro teve início em 1º de janeiro de 2019, com a posse do presidente Jair Bolsonaro (então no PSL) e de seu vice-presidente, o general Hamilton Mourão (PRTB). Ao longo de seu mandato, Bolsonaro saiu do PSL e ficou sem partido até filiar ao PL para disputar a eleição de 2022, quando foi derrotado em sua tentativa de reeleição.