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Filha de pastor do caso MEC recebeu R$ 3,9 mil em auxílio emergencial

Pastor Arilton Moura - Luiz Fortes/MEC
Pastor Arilton Moura Imagem: Luiz Fortes/MEC

Do UOL, em São Paulo

27/06/2022 17h33Atualizada em 27/06/2022 17h52

Victoria Camacy Amorim Correia Bartolomeu, filha do pastor Arilton Moura, apontado como um dos líderes do gabinete paralelo no MEC (Ministério da Educação) e preso na operação que investiga supostos desvios de verba do ministério, recebeu R$ 3.900 do benefício do Auxílio Emergencial. O marido de Victoria, Helder Diego da Silva Bartolomeu, também recebeu R$ 4.150.

Victoria seria a mulher que a defesa de Milton Ribeiro afirmou que comprou, em fevereiro deste ano, por R$ 32 mil, um carro avaliado em R$ 50 mil. O dinheiro estava depositado na conta de Myriam Ribeiro, esposa do ex-ministro. O valor é menos que o estimado pela tabela Fipe, principal referência para negociação de veículos usados.

Os dados constam no Portal da Transparência e foram verificados pela reportagem. De acordo com a plataforma do governo, de maio a dezembro de 2020, Victoria recebeu cinco parcelas de R$ 600 e três parcelas de R$ 300.

Já o marido da filha do pastor Arilton, Helder Diego da Silva Bartolomeu, também recebeu R$ 4.150 do benefício governamental, segundo o Portal da Transparência.

No caso de Helder, ele recebeu cinco parcelas de R$ 600 e três de R$ 300 entre maio de dezembro de 2020. A plataforma ainda aponta que o homem teria recebido R$ 250 em abril deste ano. Se somados, o casal recebeu R$ 8.050 do benefício governamental.

Segundo a plataforma, o benefício de ambos foi obtido sem que o casal estivesse inscrito no CadÚnico (Cadastro Único para Programas Sociais), o que significa que ambos não recebiam benefícios do governo federal anteriormente.

Victoria e Helder se cadastraram pelo município de Ananindeua, na Região Metropolitana de Belém. De acordo com o colunista Igor Gadelha, do site Metrópoles, o casal se mudou para Goiânia, onde vivem ao menos desde 2021.

Nas redes sociais, Victoria se define como "microempreendedora". Ela tem uma loja online que produz bonecas, laços e acessórios para crianças. A conta do ateliê de Victoria no Instagram contava com 486 seguidores até o fim da tarde desta segunda-feira.

O UOL tenta contato com Victoria. A matéria será atualizada em caso de retorno.

O carro

A defesa de Milton Ribeiro declarou que o veículo foi vendido pelo "preço de mercado" e admitiu a venda para a filha do pastor Arilton.

"O carro era uma EcoSport, vendida pelo preço de mercado. O carro de propriedade do ministro foi vendido para a filha do pastor Arilton, uma venda regular, normal, não há nem como se cogitar qualquer tipo de ilicitude", disse o advogado Daniel Bialski, acrescentando que não sabe quem foi o autor do depósito. Segundo ele, o carro foi negociado a R$ 60 mil. Os R$ 10 mil restantes foram entregues de outra forma, que Bialski não detalhou.

Documento do Ministério Público Federal obtido pelo UOL mostra que o carro vendido pela esposa de Milton Ribeiro era um Kia Sportage EX2 2015/2016, não uma EcoSport, como dito por Bialski. De acordo com a tabela Fipe, o valor de referência desse automóvel em fevereiro, mês em que aconteceu a negociação, era de R$ 92 mil. Logo, a família Ribeiro teria vendido o carro por R$ 30 mil a menos que o preço de mercado.

A reportagem entrou em contato com Bialski, que afirmou ter se confundido com os modelos dos veículos, e que "ninguém vende carro pelo valor da tabela Fipe". Ele disse também não saber qual era o estado do automóvel, se havia multas ou impostos pendentes, mas que iria verificar os detalhes com o ex-ministro.

Presos na última semana, Milton Ribeiro, Arilton Moura, o pastor Gilmar Santos, o advogado Luciano Musse e o ex-assessor da Prefeitura de Goiânia Helder Bartolomeu tiveram a soltura decretada pelo TRF-1 na quinta-feira (23). Todos são investigados pelo 'gabinete paralelo' instalado no MEC, com favorecimento de pastores na distribuição de verbas.

A Polícia Federal informou que, com base em documentos, depoimentos e relatório de investigação preliminar da Controladoria-Geral da União (CGU), "foram identificados possíveis indícios de prática criminosa para a liberação das verbas públicas".