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TV: Godoy diz que Milton Ribeiro queria dar cargo a pastor no MEC

17.set.22 - Milton Ribeiro em evento do MEC - Catarina Chaves/MEC
17.set.22 - Milton Ribeiro em evento do MEC Imagem: Catarina Chaves/MEC

Do UOL, em São Paulo

27/06/2022 14h59

Atual ministro da Educação, Victor Godoy afirmou em depoimento que o ex-titular da pasta Milton Ribeiro queria dar cargo a um dos pastores investigados, segundo informação divulgada hoje pelo canal de notícias GloboNews. A declaração consta em um relatório da CGU (Controladoria-Geral da União) com mais de 300 páginas.

O documento serviu como base para a operação realizada na última quarta-feira (22) pela Polícia Federal, batizada de "Acesso Pago", e que culminou com a prisão Ribeiro. A ação apura suspeitas de corrupção e tráfico de influência na liberação de verbas do FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação).

Ribeiro deixou o cargo no ministério no final de março, uma semana após a divulgação, pela Folha de S.Paulo, de um áudio em que ele afirma que o governo federal priorizava prefeituras ligadas a dois pastores, Arilton Moura e Gilmar Santos —que não têm vínculo formal com a gestão pública. (entenda as suspeitas clicando aqui) Na quinta (23), após pedido da defesa, o TRF-1 (Tribunal Regional Federal da 1ª Região) ordenou a soltura do ex-ministro.

Segundo os servidores —que estavam lotados dentro do gabinete do então ministro da Educação e da secretaria executiva—, havia uma proximidade entre Milton Ribeiro e os dois pastores investigados e uma presença inusual. A investigação foi realizada pela CGU entre setembro do ano passado e março deste ano.

Conforme declarou o sr. Victor Godoy Veiga, a intenção do ex-ministro era nomear o próprio pastou Arilton Moura para um cargo no MEC. Como não havia disponibilidade no gabinete do ministro, o então secretário-executivo disponibilizou ao ministro um cargo de nível DAS 3 para essa finalidade. Trecho do relatório da CGU divulgado pela GloboNews

Godoy assumiu o cargo de ministro da Educação em abril. Antes disso, ele era secretário-executivo do MEC durante a gestão de Milton Ribeiro.

A deputados das comissões de Educação e de Fiscalização da Câmara, em audiência realizada em maio, Godoy negou envolvimento em irregularidades e citou pedidos de Ribeiro. O atual ministro disse que só conheceu os pastores Gilmar Santos e Arilton Moura depois de ter entrado na pasta.

"Eu não conhecia esses pastores, nunca tinha ouvido falar desses pastores. [Foi] Em fevereiro de 2021, quando os conheci. O primeiro contato desses pastores com o ministro Milton no MEC ocorreu em setembro de 2020. Então, vejam que, de fato, eu não participava das agendas envolvendo esses pastores", afirmou o atual chefe da pasta.

O novo ministro se defendeu ainda da acusação de ter nomeado Arilton na Secretaria Executiva. Segundo Godoy, ele fez a indicação apenas seguindo orientação de Ribeiro.

"O pedido que houve do ministro Milton era de nomear o pastor Arilton para uma função no seu gabinete. Não havia nenhuma função disponível no seu gabinete, havia função disponível na Secretaria Executiva. Eu disse a ele que se ele quisesse nomear, eu disponibilizaria essa função. E assim foi feito", disse, na ocasião.

Assessora também foi ouvida

Mychelle Rodrigues, assessora de agenda do gabinete do então ministro da Educação, também prestou depoimento à CGU e disse que Ribeiro chegou a pedir para que um dos pastores viajasse com a comitiva em um avião da FAB.

De acordo com a sra. Mychelle Rodrigues de Souza Braga, chefe da assessoria de agenda do gabiente do ministro da Educação, Milton Ribeiro havia solicitado que o pastor Arilton viajasse em sua companhia em um avião da FAB no trajeto entre Brasília (DF) e Alcântara (MA) no dia 26/05/2021, o que somente não veio a ocorrer por fatores alheios à vontade dos envolvidos. Assessora do gabinete de Milton Ribeiro à CGU

Em nota, a defesa do ex-ministro diz que o documento da Controladoria não indica "qualquer ação e ou omissão" de Ribeiro, "apenas o depósito de valor que se refere à venda do veículo". Os advogados dizem que vão juntar aos autos da investigação documentos que evidenciam a "lisura" da venda do veículo citado.

Os advogados Daniel Bialski e Bruno Garcia Borragine sustentam ainda que nem o aliado do presidente Jair Bolsonaro "nem ninguém tinha e ou tem poder para favorecer pessoas, cidades ou estados" dentro do MEC.

"Boto a minha cara no fogo pelo Milton"

À luz das primeiras denúncias sobre o caso, reveladas pelos jornais O Estado de São Paulo e Folha de S.Paulo em março, Bolsonaro chegou a declarar que colocaria "a cara no fogo" pelo ex-ministro, considerado de confiança até então.

O Milton, coisa rara eu falar aqui, eu boto a minha cara no fogo pelo Milton. Minha cara toda no fogo pelo Milton.
Jair Bolsonaro (PL), em março de 2022, em defesa ao então ministro Milton Ribeiro

Na ocasião, Bolsonaro ainda classificou como "covardia" a pressão para que Milton Ribeiro deixasse o cargo —o que aconteceu no dia 28 de março —e disse que a situação expressava, em sua visão, a falta de corrupção em seu governo.

"Por que não tem corrupção no meu governo? Porque a gente age dessa maneira. A gente sempre está um passo a frente. Ninguém pode pegar alguém e dizer 'ó, você está desviando'. Tem que ter prova, poxa, se não é uma ação contra a gente", afirmou.

Na transmissão realizada nas redes sociais, na última quinta-feira, Bolsonaro admitiu ter exagerado nas palavras.